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Passos N.58, Fevereiro 2005

ENSINO FUNDAMENTAL / OS GRUPOS DO GRAAL

A aventura do ideal

por Paola Bergamini

A proposta criada para os jovens do ensino fundamental, cria espaços de vivência da experiência cristã. Nascida há 15 anos, cresceu, e hoje muitos grupos estão espalhados pela Itália e pelo mundo. Uma grande ocasião de crescimento e de tomada de consciência do encontro feito, seja para os jovens como para os adultos que se envolvem com eles

O carisma do movimento Comunhão e Libertação também fascina os nossos filhos. Tudo começou em 1990 quando padre Giorgio Pontiggia lançou a idéia a alguns professores do Instituto Sagrado Coração de Milão que construíssem um espaço para os jovens do ensino fundamental, para lhes propor a experiência cristã. Não seria um grupo de “pequenos” colegiais, mas uma outra coisa, pois as exigências e necessidades dessa faixa etária são diferentes dos adolescentes do ensino médio. Lucio, Franca, Giovanni e Gloria aceitaram o desafio e propuseram para alguns alunos que passassem dois dias juntos nas montanhas. Nasceu, assim, o primeiro grupo, e queriam dar a ele um nome que reverberasse imediatamente uma tensão em direção ao ideal. Foi por isso o nome de Pesquisadores do Graal e, depois, todos os outros: Cavaleiros de Sobieski, Barca de Pedro, Cavaleiros de São Januário, Remadores de Lepanto... Nomes que evocam épocas, acontecimentos e personagens da história cristã. Nomes importantes, e não poderia ser diferente para quem decidiu levar a sério a proposta cristã mesmo aos 11, 12 ou 13 anos de idade. Esta, de fato, é uma experiência que floresceu nos últimos 15 anos em toda a Itália e também em outros países. Muitas vezes fazem reuniões nos oratórios, outras nas escolas, ou até em subsolos colocados à disposição. Através de gestos concretos, como o estudo, a leitura de um livro, o jogo, os passeios, as férias, junto com adultos – professores e padres, mas também mães e pais – que se envolvem com eles até o fundo, descobrem que a aventura cristã é o modo mais fascinante para viver a vida, para ser feliz. A ponto de comunicá-lo aos próprios colegas de classe, aos outros amigos do condomínio, aos pais, a todos. Nos encontros semanais, é colocado em discussão aquilo que, no momento, é mais urgente: a dificuldade de um amigo na escola ou a afetividade, porque Jesus tem a ver com tudo. E no relacionamento com os adultos, os jovens demandam um envolvimento total, não apenas uma amizade formal. Um relacionamento no qual não se pode virar as costas, inclusive quando, porventura, lhe telefonam tarde da noite para pedir um conselho.
Para documentar a vivacidade dessa experiência, registramos alguns momentos dos quais participamos ou recebemos o testemunho.

Os amigos de Annalisa
Nápoles. A notícia está em todos os jornais. Durante uma troca de tiros entre gangues, uma jovem de 13 anos foi usada como escudo por um dos delinqüentes durante o fogo cruzado e foi morta. Chamava-se Annalisa e fazia parte dos Cavaleiros de São Januário. Sua amiga Patrícia escreveu, alguns dias depois: “Eu conhecia Annalisa desde que estávamos na creche. Estudamos juntas desde a primeira série, até aquele maldito sábado. Quando soube que aquela bala tinha acertado Annalisa, eu me senti muito mal. Na terça-feira, irmã Giovanna nos levou ao Bosque de Capodimonte, onde também encontramos padre Paulo e Mimmo. Falamos sobre Annalisa e padre Paolo nos disse, citando uma canção de Cláudio Chieffo: ‘Não tenha medo, não pare nunca porque o meu amor é fiel e nunca termina; estas são as palavras que Annalisa nos diz agora’. Depois, disse que Annalisa sacrificou-se misteriosamente pelos outros, exatamente como Jesus pelos pecadores e que, por isso, devemos rezar a ela para que nos ajude a sermos fortes. Depois, me disse: ‘Você não perdeu uma amiga, mas ganhou uma amiga no céu’. Essas palavras me deram conforto e me ajudaram a entender que Annalisa está bem porque agora está perto de Jesus. Depois dessas observações, anotei as coisas mais importantes e as li na escola onde rezamos uma missa por Annalisa. Quando entramos na sala de aula, tínhamos um ar triste, mas, depois que lemos as observações de padre Paolo, reagimos, e tudo mudou. Era como se Annalisa estivesse ali e me dissesse: ‘Seja forte, pois eu estou bem, estou perto de Jesus’. Eu estava muito mal, mas a nossa companhia e o estarmos juntos me deu a coragem para seguir em frente”.

Os anjos e o menino
Glooooria a ...”. “Não, não, pessoal, assim não está bem – interrompe padre Marcello –. Vocês são os anjos que anunciam aos pastores o nascimento de Jesus. A notícia mais bela que se pode esperar. É noite de Natal! Inclusive hoje. Marco, entendeu? Mattia, jogue fora o chiclete. Vamos começar de novo e sigam o regente”. No salão, ressoa o canto de 80 “anjos” com idade entre 11 e 13 anos. “Muito bem. Agora, vamos nos dividir para os grupos de discussão. Nos encontramos em 30 minutos para o grande jogo. O meu grupo, para baixo, na outra sala”. Enquanto descíamos as escadas, Giovanni cutucou seu amigo com o cotovelo: “Mas que anjos, nós somos cavaleiros! O padre está errado. Nós acabamos de fazer a promessa”. Sentado à mesa, padre Marcello faz a chamada dizendo o nome de um a um. “Maria? Não está? Quem a avisa sobre o que fizemos hoje? Quem é amigo dela? Pense nisso, Alessia. Roberto? Por que não está?”. “Padre, ele está de castigo, sua mãe não o deixa sair”. “Foi suspenso”. “Faz confusões até aqui”. “Calma, calma. O que podemos fazer par ajudá-lo? É nosso amigo, não? Com a mãe, falo eu, que sou padre. Mas, por ele, o que podemos fazer? O que Jesus faria?”. Ninguém fica quieto, todos têm algo para dizer, um corrige o outro. Passaram 30 minutos falando de um amigo que não estava presente. De um amigo que tem os mesmos desejos, as mesmas ânsias e, talvez, alguns problemas a mais. No final, padre Marcello disse: “Bom, parece que hoje aprendemos uma coisa importante. Peguem o caderno e façam estas duas anotações (Stefano, da próxima vez traga o caderno): 1. A nossa regra diz para tomarmos conta dos amigos como Jesus, que se comovia quando encontrava uma pessoa. 2. Quando alguém é olhado dessa forma, muda e se torna mais capaz de viver a vida. Bem. Então estamos de acordo: vocês dez farão um revezamento e irão à casa de Marco todos os dias, para estudar com ele durante uma hora. Para estudar, entendam bem. E agora, Cavaleiros de Sobieski, vamos jogar e... acabar com eles”.

A razão de Vasco
Siena. É a noite anterior à promessa. No salão, ecoa a voz do cantor Vasco Rossi “... quero encontrar um sentido para essa vida, mas ela não tem sentido”. Em pé, os jovens cantam a plena voz. Soa a última nota e, então, ouve-se a voz de padre Alberto: “Se Vasco tem razão, o que nós estamos fazendo aqui? Somos todos loucos?”. Brusio: “Não, padre, espera”. Todos têm algo a dizer. Num canto, Giulia murmura a cada cinco minutos: “Vasco tem razão”. Fulvia a ouve: “Vamos dizer isso a padre Alberto. Ou ele, ou Vasco tem razão”. “A minha vida é um saco, você sabe, com todos os problemas na minha família. Então, não tem sentido... mas eu não sou louca. Vamos embora”. Padre Alberto a escuta e diz: “Olha, a sua vida é como um campo árido, no entanto, o Senhor plantou sementes que logo germinarão, senão você não estaria aqui. E, depois, no ano que vem, quando estiver no ensino médio, por que não vem para a minha escola?”. No dia seguinte, o “Eis-me aqui” de Giulia vibra na abadia de São Galgano.
A noite da promessa é uma grande festa. Giulio não fica quieto um segundo, tagarela, grita. Catarina, a um certo ponto, não agüenta mais e o leva para fora: “O que você tem? O que lhe preocupa?”. “Estou feliz, é tudo bonito, mas acabei de saber que o meu irmão fez uma das suas. Está na prisão. Por que isso não é para ele, também? Para todos? Eu quero que seja para sempre”. Esse é o milagre de um encontro que simplesmente irrompe na vida, dando-lhe uma nova perspectiva que abraça tudo.

As batatinhas e a matemática
Deixados de lado os livros e os cadernos da escola, começa o encontro. Duração máxima: 20 minutos. O tema é a afetividade. Há tempos os jovens querem falar sobre isso. A pergunta é simples: o que significa ser amados? Muitos deles têm situações familiares complicadas. Paolo toma a palavra: “Eu sei quando alguém gosta de mim porque a pessoa me incentiva a fazer coisas que ajudam a mim e não só a ela”. “Explique”. “Se alguém me diz: ‘roube aquelas batatinhas’, é evidente que isso não é bom para mim. Ao contrário, se alguém me propõe: ‘estude matemática’ e, assim, descubro que essa matéria é fascinante e, por isso, me agrada, é claro que esse é um amigo que me quer bem, porque me fez descobrir uma coisa nova, bonita e interessante”. Claríssimo.




Oração dos Cavaleiros

Jesus,
meu Senhor e meu rei,
que te dignaste derramar o teu sangue
pela minha salvação
guia meus passos em direção a ti
que és o caminho, a verdade e a vida.

Dá-me
uma inteligência sedenta de verdade,
um braço forte para defendê-la,
um coração corajoso para testemunhá-la.

Ofereço-me inteiro a ti,
o estudo e a diversão,
as palavras e o silêncio,
o pranto e a alegria,
seguindo a companhia que tu me deste
como sinal da tua presença
para que a vida se cumpra
e o mundo te reconheça.

Maria, rainha dos santos,
sustenta a minha oração.


 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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