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Passos N.100, Dezembro 2008

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Passos na Mídia

O ESTADO DE SÃO PAULO
O esforço da fé


Estranho esse Campeonato Brasileiro de 2008. Nenhum time se firmou, nenhum grande destaque ou revelação, uma certa paridade que poderia muito bem significar emoção, mas está mais para uma mediocridade anêmica e pastosa. As rodadas vão se sucedendo e o esperado estouro não acontece. Será que vai ser assim até o final? Se continuar desse modo, também não é de todo ruim, afinal a disputa se manterá aberta até as últimas rodadas. Mas tem alguma coisa que não parece correta. Futebol é paixão, não é somente cálculo, cautela e convenção. Estaríamos todos nós anestesiados pelo mau costume de não ter mais aquela esperança infantil e inesgotável? Será que a seqüência de episódios obscuros e nunca desvendados dos escândalos públicos e políticos vazou para além do Olimpo de concreto do cerrado e escorreu seu óleo sujo para os nossos dedos desencorajados?
Estranha essa nossa seleção brasileira que não mais encanta. Nenhuma atuação realmente convincente, nenhum resultado estrondoso que revele a vibração do sangue correndo pelo corpo, nenhum passe desconcertante, nenhum calor, quase mais nenhum torcedor presente nas cadeiras ou nas arquibancadas. (...)
Estranho esse mundo que parece caminhar cego e insensível sobre o fio invisível do destino que ruma ao certo pro abismo, mas não arruma um jeito ou uma rota alternativa que não bater de frente com sua invenção. Excessos demais, velocidade demais, dinheiro demais pra quem quer sempre mais e mais e mais, enquanto aqueles que não estão vivendo com esse excesso todo na verdade estão sim, mas com os excessos da ausência, da inexistência, da falta de tudo que não apareceu porque não sobrou. E o jeito atual de querer tudo imediatamente acaba por corroer o tempo tão vorazmente que não sobra nem mesmo tempo pra sentir desejo, pois o enjôo de tanta coisa até a fome já matou. Será que a liberdade é um gesto impossível, será que liberdade é apenas um sonho inatingível, já que estamos amarrados a essa vida com os pés na terra e a cabeça deitada sobre o colchão?
Estranha essa vida que começa sem que a gente escolha; que, quando começa, nunca mais pára; que o tempo que passa parece melhor depois do que foi durante; que o que a gente espera, quando acontece, é sempre diferente de como a gente pensava que seria antes; e que no entanto a gente sempre acha graça, não quer nunca perder essa graça, mas sabe que nada acontece de graça, pois nem mesmo milagre acontece sem o esforço da fé.
Quando eu era criança, queria ser jogador de futebol. Não queria ser astronauta, nem bombeiro, nem presidente de banco ou da República. Queria jogar bola, sonhava que um dia marcaria o gol do título com o estádio repleto de torcedores gritando em uníssono o meu nome. Nunca passei de um lateral-direito razoável, esforçado e míope. Será que é por isso que eu me recuso a acreditar que o futebol está morrendo?

(Nando Reis, Esporte, 18.set.2008)


O GLOBO
O Ensino Religioso no acordo entre Santa Sé e Estado Brasileiro


Entre os muitos pontos de grande importância do Acordo estipulado ontem [13/11/2008], entre a Santa Sé e o Estado Brasileiro, queremos destacar o reconhecimento do Ensino Religioso, seja ele católico como de outras confissões religiosas, nas escolas públicas do ensino fundamental. Esta forma de Ensino que podemos chamar “pluri-confessional” está plenamente em sintonia com quanto previsto pela Constituição Federal, Art. 210, § 1º e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Art. 33. O atual Art. 210 da Constituição Federal de 1988 determina: «O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental». É inegável que o ensino religioso não deve ser entendido como alusivo a uma ”religião genérica”, a-confessional, indefinida, já que uma tal ‘religião’ não existe. Seria pura abstração mental, sem correspondência na realidade da vida e da sociedade humana. E se o Estado quisesse administrar esta forma de ensino genérica, esta sim seria contra a laicidade do próprio Estado porque ele não possui uma religião própria, mas deve respeitar as formas religiosas que se encontram na sociedade.
Deve-se sublinhar que esse ensino religioso é sim ‘confessional’, mas é, ao mesmo tempo, pluralista, enquanto o Estado oferece aos alunos de todos os credos os ensinos religiosos próprios, em conformidade com sua identidade de fé, e é perfeitamente democrático e leigo, porque só será ministrado aos que, livre e facultativamente, o requeiram. A temática do Ensino Religioso é um ponto decisivo desta batalha por uma sociedade feita de vários sujeitos diferentes que convivem e se respeitam...

(Dom Filippo Santoro, Opinião, 14.nov.2008)


EncontroPovo desconfiado

Se se fosse fazer o retrato do Brasil atual, ele sairia com a cara meio desconfiada. Revelaria a insegurança com as instituições, medo de inovar, de oportunismo para se garantir ante à imprevisibilidade, proliferação de contratos com letras miúdas e gravações de telefonemas para garantir que você cumprirá a palavra. Desconfiança fundamentada por ditos populares: vão puxar seu tapete, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, e por aí, se prossegue neste vale de receios, numa multidão de desconhecidos com que se depara todos os dias. Quantificada no Barômetro das Américas, pesquisa recém-concluída pela universidade Vanderbilt, dos Estados Unidos, em que o Brasil ocupa a 20º posição, atrás apenas do Peru e do Haiti, logo este submerso numa guerra civil há 18 anos. Quase cópia de outra enquete, essa mundial, de 10 anos atrás, onde o Brasil aparece nos últimos lugares.
Nem a evolução do tempo, da História, da economia, da política içou o país do terreno da desconfiança interpessoal. “O Brasil sempre esteve em níveis muito baixos”, diz o cientista político Lucio Rennó, professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Barômetro das Américas no país, em que foram entrevistados 1.500 brasileiros no primeiro semestre deste ano.

(Silvânia Arriel, capa, set.2008)

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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