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Passos N.100, Dezembro 2008

EXPERIÊNCIA - Chile | MISSÃO EM 360 GRAUS

Até os confins da terra

por Jonah Lynch

Da ilha de Chiloé, no extremo sul do mundo, aos bairros periféricos de Santiago, florescem encontros que deixam marcas no país sul-americano. Porque nascem de uma paixão pelo homem e por sua educação

Só a Austrália é mais longe. A ilha de Chiloé é quase o último ponto habitado no extremo sul do Chile. Mais abaixo está a Patagônia, terra maravilhosa de geleiras e pequenas ilhas, que João Paulo II definiu como o lugar mais belo do mundo. Depois, vem a Tierra del Fuego, gelo, pinguins.
No trajeto por Chiloé, descemos até Chacao e entramos na bela capela de madeira que se vê ao entrar na enseada. Na mesinha de entrada, uma surpresa: três exemplares de 2007 de Huellas (edição de Passos em língua espanhola; nde)! De modo imprevisto, percebe-se a continuidade da nossa história – tornada tangível por meio dessas revistas deixadas por algum desconhecido –com a dos missionários jesuítas, que foram os primeiros a evangelizar esse lugar, séculos atrás.
É uma continuidade que vimos também mais ao norte, na grande cidade de Santiago do Chile, onde o Movimento existe há mais de vinte anos. Desde então, diversas obras nasceram: quatro escolas, sendo uma para crianças com deficiência de aprendizado, em Peñalolen; a escola San Pablo Misioners, no bairro São Bernardo, com cerca de 1.200 alunos no ensino médio e fundamental; e ainda os dois colégios Nuestra Señora de Lourdes, no bairro La Florida, entre os melhores do país. Há alguns anos, foi fundada também uma sede da Companhia das Obras, além de outros acontecimentos. Mas, ficaria na cidade por poucos dias e queria ver as novas sementes recém-brotadas no terreno fértil do Chile: na universidade, e entre os jovens de Puente Alto.

A Universidade Santo Tomás
Santiago lembra as grandes cidades norte-americanas: avenidas muito bem construídas, um centro da cidade com estacionamentos e arranha-céus anônimos, e uma grande periferia cheia de bairros de classe média (casas modestas e idênticas) e de classe baixa, que não chegam ao aspecto esquálido das bidonvilles. Em todos os lugares respira-se um desejo de sair do Terceiro Mundo, de construir o futuro sobre as bases de uma economia forte e uma grande capacidade de trabalho. Depois de anos de ditadura, sob o governo de Pinochet, querem deixar o passado para trás. Mas, deixando o passado, tende-se também a cortar qualquer nexo com a tradição, a duvidar de toda paternidade. Chegando a eliminar qualquer referência com a Igreja. Como consequência, o povo chileno encontra-se diante de muitos problemas que se vêem também na Europa. Quem diz isso é padre Federico Ponzoni, milanês, missionário da Fraternidade São Carlos Borromeu e professor de Filosofia da Educação na Universidade São Tomás. Ele e Simona Albertazzi, professora italiana na mesma universidade há vários anos, começaram um grupo de Escola de Comunidade com seus colegas. Convidaram também o diretor Mauricio Echevarría, que começou a participar. Ele foi ficando cada vez mais fascinado pela maneira de viver e pelo frescor da fé que via neles. Por isso, participou do Meeting de Rímini este ano. E, na Itália, deu-se conta de ter encontrado aquilo que sempre buscou.
Agora, essa amizade está se aprofundando. “Também está se tornando muito operativa”, diz o milanês, padre Ponzoni. “Mauricio começou a me acompanhar de perto, para me ajudar a entrar mais na cultura chilena. Concretamente, me ajuda no trabalho de professor, que faço há pouco tempo: ele me indicou livros para ler, e temos longas conversas em sua sala. Insiste sobre a experiência da beleza; muitos desses jovens são pobres e nunca viram muita beleza em sua vida”.
Agora, Ponzoni sempre começa suas aulas fazendo-os ouvir músicas que vão de Bob Dylan e Joan Baez ao grupo U2. Filósofo por formação, o acompanhamento do seu decano é um bom corretivo para não se tornar muito conceitual: às vezes, lê uma poesia ou coloca uma música para que seus alunos entrem na experiência que quer comunicar. Se nos parece sentir um eco daquilo que um outro padre da Lombardia fazia há cinquenta anos no Liceu Berchet, padre Ponzoni concorda: “No fundo, para mim, Maurizio é uma ajuda a ser fiel ao carisma e ao método de Dom Giussani”.

Com os jovens de Puente Alto
O bonito é ver a reciprocidade dessa amizade: um introduz na experiência da vida cristã como comunhão, o outro, mestre paciente, ajuda o jovem professor a melhorar seu trabalho, por meio de uma contínua correção. E amizade atrai amizade. Já são dois os grupos de Escola de Comunidade dentro da Universidade Santo Tomás: uma de professores e outros adultos, e outra para os alunos que, pouco a pouco, começam a chegar.
Também em Puente Alto, um dos bairros mais pobres da cidade, está nascendo algo de novo. Suas casas pequenas, com os ambulantes ao longo da estrada, parecem distantes anos luz do centro da cidade e de suas belas universidades. Mas, entre os jovens vizinhos da Capela de São José Trabalhador aprende-se a estudar juntos, brincar, cantar. Para alguns deles, a pequena refeição de pão e chá que é oferecida a todos (não tendo outros espaços, dentro da igreja) é mais do que recebem em casa. E os catequistas que os ajudam, fascinados pelo acompanhamento paterno de padre Michelle Lugli, da Fraternidade São Carlos Borromeu, começam a se perguntar de onde chega essa paixão por suas vidas. Padre Michelle não esperava outra coisa: começam a ler Dom Giussani com outros jovens e a viverem juntos não apenas por causa do trabalho na paróquia, mas por uma história comum. Impressiona muito ouvir jovens que vêm de experiências tão diferentes da nossa, e sentir-se unidos a eles. Uma delas pertencia à sentimental “tribo urbana” dos emo, outra era tão tímida que não conseguia falar em público, outros, vivem graves problemas familiares. Mas, em suas palavras e em seus olhos, percebe-se um renascimento em ato. Convidam seus amigos e o milagre se repete. A paixão gratuita pela vida de um outro faz renascer e, por sua vez, este se torna missionário. Parecem distantes anos luz, mas nas ruas de Puente Alto ou nos modernos corredores de Santo Tomás, em Chiloé ou na Itália, o coração do homem é o mesmo. E um carisma verdadeiramente católico fala em qualquer lugar.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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