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Passos N.116, Junho 2010

RUBRICAS

Cartas

Gabriel e a ternura de Cristo
Ontem de manhã, cheguei ao trabalho e os colegas que trabalharam no turno da noite nos avisaram que estava chegando uma mulher que estava no fim da gravidez... e que o bebê estava morto no útero. Era necessário induzir o trabalho de parto. A colega mais velha me disse: “Você a espera!”. A senhora chegou com seu marido e passamos 12 horas juntos. No início, foi muito difícil entrar em relacionamento com este casal. O marido era muito frio comigo e com a mulher, e ela estava sozinha. Comecei a rezar: desejava realmente entender o que significa comover-se, e pedi que o Senhor se manifestasse a eles e a mim durante essa situação tão dramática. Aos poucos, o marido se soltou e começaram a se aproximar de mim. Quanto mais as horas passavam, mais se tornava clara a consciência de ser instrumento nas mãos do Senhor. Durante o trabalho de parto, tive a oportunidade de conversar muito com eles e me vi dizendo a esses pais o que sustentava a vida. Durante este ano – para mim, muito difícil –, dei-me conta de que amadureceu a certeza de estar em boas mãos. Dentro da dificuldade e do sofrimento, através de uma ferida grande, o Senhor fez-me florescer a ponto de fazer-me dizer com consciência: “Se Tu és tão grande a ponto de fazer-me crescer, mesmo dentro da dificuldade, como um prodígio diante dos meus olhos, então eu quero aprender a Te dar toda a minha vida!”. Às cinco e meia, nasceu Gabriel. No início, eles não queriam vê-lo. Deixei passar alguns minutos e, enquanto isso, o enxuguei e o envolvi em uma manta quente. Com discrição, aproximei-me deles. Para mim, foi o momento mais doloroso porque, sendo obstetra, estou acostumada a carregar bebês cheios de vida. Depois de alguns minutos, a mãe estendeu os braços e o pegou, dizendo-me: “Pelo menos, está aqui, perto de nós”. Ficamos diante deste menino por duas horas. A um certo ponto, disse: “Se vocês quiserem, podemos fazer uma oração juntos”, e comecei a dizer um Glória. Assim que terminamos, o pai começou imediatamente um Pai Nosso, parando sobre: “seja feita a Vossa vontade”. E, depois que rezamos a Ave Maria, a mãe me olhou e disse: “Se chama Gabriel como o anjo de Nossa Senhora... o fez belo para Ela”. “Meu Senhor e meu Deus!”, foi a frase que nasceu de dentro do meu coração. A conversão destes dois pais, a graça do tempo que o Senhor deu a eles para conseguirem encontrar seu filho com esta plenitude, realmente me deixou pasma. Fico surpresa com a ternura com a qual o Senhor está cuidando da minha vida.
Valentina, Lecco – Itália

Olhar para si
Em 1999, comecei a trabalhar com as pessoas do Movimento em uma creche e, em 2000, elas me convidaram para a Escola de Comunidade. Com o tempo, conheci o padre Gigio e vi que ele era uma pessoa de Deus. Ele me ajudou muito. Só que eu não entendia nada. Eu era uma pessoa triste, agora sou feliz porque tenho Jesus presente na minha vida. Abri meu coração para que Ele pudesse entrar, agora nada para mim é barreira, só felicidade. Isso tudo começou quando eu me dei conta de que era importante olhar para dentro de mim mesma. Uma mudança também aconteceu quando eu fui para o encontro com Carrón, em 7 de março, em São Paulo, e ele falou da importância da Escola de Comunidade. Eu voltei para casa com a certeza de que só Jesus pode me dar a certeza do meu eu. Vejo que eu tenho um trabalho bonito com Cristo.
Francisca Romana, Brasília – DF

Como o aroma do café
Não vou dizer que antes de CL minha vida não tinha sentido. Eu tinha minhas crenças. Acreditava em algo que não sabia nomear. Conheci o Movimento quando fui estudar Inglês na Irlanda, em março de 2009. Antes disso, jamais havia ouvido falar de “Comunhão e Libertação”. Fui buscando aperfeiçoar meu Inglês, e hoje vejo que havia algo muito mais importante a ser aperfeiçoado por lá. Sempre me perguntavam: por que Irlanda?... Há pessoas que dizem que “Deus escreve certo por linhas tortas”, eu diria que Cristo me acompanha e guia meus passos, pensamentos e palavras. Esta á a única explicação para que todas as datas mudadas e dúvidas sobre ir ou não para a Irlanda me levassem a conhecer, “por acaso”, Giacomo e Matteo (jovens italianos, membros do Movimento), no dia de São Patrício, em uma estação de um tipo de metrô em Dublin. O encontro com jovens de uma humanidade diferente, mas que, no fundo, tinha a ver com o modo como eu tentava viver minha vida, me tocou de uma forma muito bonita. A partir deste dia não os larguei mais e disse “sim” ao que eles me convidavam a participar. Em minha primeira Escola de Comunidade, decidi que deveria continuar, e meu amigo logo me deu o livro em inglês É possível viver assim?. Não havia escapatória, e eu não queria escapar. O mais comovente em mim mesma foi e continua sendo a forma com a qual minha humanidade, curiosidade e vontade de ir mais fundo no que Dom Giussani começou, cresce dia após dia. Nas Escolas de Comunidade e Assembleias, ouvia muito sobre tudo o que estava vivendo ali, mas confesso que muitas coisas ainda eram simples palavras para mim. Uma vez, ouvi uma amiga dizer que, sem aquele momento de Escola de Comunidade, ela não saberia como viver. Achei aquilo um pouco demais naquela hora, porque não compreendia o quão essencial é estar com alguém de CL por perto para ser testemunha d’Ele em nossas vidas. Participei de tudo com o meu coração sempre aberto. Fui a encontros com Carrón, viagens, peregrinação, Meeting em Rímini. Tudo na busca de entender Cristo na vida daquelas pessoas, e também senti-Lo daquele modo em minha própria vida. Queria saber de onde vinha aquela certeza tão forte ao falar do Mistério, da Presença de Cristo em suas vidas e uma alegria ao viver a realidade que me comovia. Só entendi a força do que todas aquelas pessoas do Movimento queriam me transmitir através de seus olhares, quando cheguei ao final da peregrinação para Czestochowa. Cristo estava ali! Depois de dias difíceis de caminhada, cansaço, dores musculares, somados ao fato de estarmos vivendo situações limites, ver 1300 jovens ajoelhando-se para cantar Non nobis, e esquecendo toda e qualquer adversidade pelas quais havíamos passado, ficou mais do que claro que não havia outro por quê se não Cristo. A fé e a certeza n’Ele animaram a todos ali, fizeram com que o cansaço fosse muito pouco diante do amor que Ele tem por nós. De volta ao Brasil em setembro, demorei para retomar e conhecer o pessoal do Movimento, pois havia uma certa resistência em mim. Demorei, mas fui abraçada e olhada do mesmo modo que na Irlanda, Itália e entre as pessoas que conheci de CL. E, por que não dizer que um novo encontro se fez em minha vida? Agradeço a Deus e a todos do Movimento por esse olhar e pela chance de me encontrar com Cristo através de cada um de vocês. O encontro é magnífico. Porém, reencontrar Cristo através dos universitários de São Paulo e nos simples acontecimentos perto deles é divino. Pude estar em missas, Escolas de Comunidade, churrascos e jantares, e através de uma brincadeira, de um sorriso, perceber a Presença e estar ciente de como Ele é grande e nunca nos abandona. Hoje, estou certa de que é assim que eu quero viver: no caminho de Cristo, porque só assim não há como me sentir só, seja lá onde eu estiver. Como me ensinou um amigo da Irlanda, o Movimento é como o aroma do café. Os rostos mudam, como muda o gosto do café de lugar para lugar, mas o aroma do café é inconfundível.
Mariana, São Paulo – SP

Naquele dia, naquela hora, naquele instante
Caríssimo Carrón, no ano passado contei que minha namorada viajaria para o Brasil para trabalhar em Belo Horizonte, nas “obras educativas padre Giussani”. Tudo, ou quase tudo, mudou de uma maneira louca, porque iríamos nos casar exatamente um ano depois, mas você, com a notícia, ficou entusiasmado, dizendo: “Que bonito! É indo a fundo no desejo que alguém encontra Cristo”. Elisa partiu, e o único instrumento que tínhamos para manter contato era o Skype. Um tempo depois, percebi que seu rosto tinha mudado, estava mais contente, e sua alegria estava me contagiando, fazendo-me superar a dificuldade da falta que ela me fazia. Depois de três meses, ela me disse uma frase que eu nunca vou esquecer: “Hoje, encontrei o Movimento! Agora, entendo aquilo que você me dizia”. Eu, que sempre tive a pretensão de que ela entendesse a experiência que eu fazia, me via diante dela, que estava começando a vivê-la mais intensamente que eu e no momento em que estávamos mais distantes. Decidi ir encontrá-la. Faltando apenas dez dias para sua volta, parti e fiz uma viagem de 24 horas para verificar aquilo que ela tinha visto. Na primeira semana, me apresentou aos amigos de Belo Horizonte levando-me às escolas onde tinha trabalhado e ficou evidente que a intensidade daquilo que se mostrava diante de nossos olhos pelos rostos dos favelados e daqueles que os acompanhavam, eliminou todo o burguesismo e toda a obviedade da experiência de Elisa, a ponto de fazê-la descobrir sua própria necessidade de Cristo e torná-la mais doce, decidida e livre. E, nos últimos dois dias, aconteceu uma “excepcional correspondência”. Fomos a São Paulo para conhecer Marcos e Cleuza. Passamos com eles dois dias inesquecíveis. Hospedaram-nos em sua casa e nos trataram com uma hospitalidade e uma amizade que eu nunca vi antes. As coisas que nos disseram e sobre as quais falamos como se fôssemos velhos amigos foram muitas, mas o que me comoveu foi o nível de liberdade e de profundidade com a qual eles, e todos aqueles que trabalham com eles, nos olharam e abraçaram. Ali, ficou claro que era o olhar de Cristo, não sei nem mesmo como descrevê-lo, certamente mais humano que o humano. O que aquele olhar moveu em nós posso chamar de unidade. Havia tantos anos que ouvia repetir essa palavra e eu mesmo não posso dizer que não a tenha vivido, mas não tinha entendido o seu alcance. Não é algo que alguém decide ou programa – “a partir de amanhã seremos unidos” –, não! Acontece, dentro de um olhar de tal forma correspondente, onde o meu coração e o de Elisa foram ambos tomados. Durante aqueles dois dias, nos olhávamos e dizíamos: “O que está acontecendo com a gente? Quem são estes e como é possível uma coisa assim?”. No fim, a despedida foi a de um pai para um filho e, de outro lado, há a resposta que ele deu à minha pergunta: “Marcos, por que exatamente nós?”. “Porque somos filhos do mesmo pai, Giussani.” A coisa que mais nos repetiu foi que estávamos junto a uma companhia cujo único objetivo era o de nos ajudar na certeza de que aquele Fato acontecido re-acontece a cada instante. Hoje, que voltamos ao trabalho, o que nos determina não é uma organização ou uma circunstância, mas a correspondência experimentada naquele dia, naquela hora, naquele instante, com aquelas pessoas. Onde toda a realidade tornou-se uma ocasião de verificação daquele olhar: o trabalho, os amigos, o casamento... tudo!
Filippo e Elisa, Ravena – Itália

De joelhos diante do Sudário
Caro Julián, nasci e cresci em uma família católica, encontrei o Movimento há dez anos e nunca mais o abandonei. Sou um membro ativo, e sempre caminhei comodamente na “escada rolante”. Até que, há seis meses, por causa de alguns fatos desagradáveis, entrei em uma terrível crise depressiva, que fez emergir toda a potência de minha humanidade, toda a minha necessidade, a minha insaciável sede de justiça. Muitos fatos, muitos amigos e os cuidados médicos me curaram dessa terrível doença; mas, bem no fundo, ficou como que uma última camada de cinismo e desconfiança de Deus, como se a vida fosse, na verdade, uma enganação. Depois, fui à peregrinação em Turim para contemplação do Santo Sudário. Diante de Cristo martirizado e ensanguentado, não pude deixar de me ajoelhar imediatamente, e recebi aquilo que nenhum afeto ou nenhum cuidado psiquiátrico me dera até então. Não pude deixar de me comover diante da infinita misericórdia de Deus que se fez torturar daquela maneira por mim. Não pude deixar de desejar e pedir para que eu não me esquecesse nunca mais daquele amor, absolutamente gratuito e não necessário, que aquele Homem tem por mim. Diante daquelas chagas, nenhuma dor pode arranhar a certeza da Sua Presença. E, então, entendi o que você diz que Cristo existe, mas o problema é que falta o humano. Se nos últimos meses não tivesse sofrido daquela maneira atroz e indescritível, não teria podido me comover diante da caridade de Cristo. É realmente verdade que precisamos aprender aquilo que pensávamos já saber. Eu sempre soube que Cristo morreu na Cruz e ressuscitou por mim, mas aprender isso, quer dizer, ver isso, é uma coisa totalmente diferente: é a única coisa da qual eu realmente preciso.
Carta assinada

É pura graça...
Foi comovente participar, no dia 1º de maio, da missa celebrada por padre Aldo Trento pelos seis anos do Hospital da Divina Providência. Trabalho como voluntária na clínica desde a sua criação em 2004, e o que me faz continuar é redescobrir a cada dia o sentido da minha vida no rosto de quem sofre, de quem é marginalizado, de quem vive na solidão, que está não só no doente, mas na vida de cada um de nós. Ali percebo a necessidade de amar e ser amada. Antes da missa foi lida a relação, por ano, de todas as 649 pessoas que faleceram na sua passagem pela clínica, desde a sua inauguração. A participação das crianças da clínica - Cristinita, Mario e Aldo -, assim como os pacientes adultos - Fermina, Tomas e outros -, tornava aquele momento sagrado e nos fazia perceber que todos somos nada nesta vida. Quando Tomas, doente de Aids, agradeceu em nome de todos os pacientes, foi o momento culminante da manifestação do Espírito e do poder da Sua graça, que nos alcança através do caminhar nesta experiência divina, que nos faz participar de um povo. Somos seu povo amado, que existe para dar glória a Ele. Durante a missa, Deus me premiou com um abraço intenso de Blanquita, que não me soltava mais depois que se aproximou para dar o cumprimento da paz. Foi algo inesperado para mim sentir todo o amor de Deus neste abraço e ternura de Blanquita, que me obrigou a ser grata por ser tão abençoada com a minha família. E me fez pensar nas coisas que fui abraçando ao longo desses anos: aceitei a proposta de padre Aldo e fiz a experiência de doação vinte e quatro horas por dia durante sete meses, vivendo na Casita de Belém com meus filhos. Parece um sonho que o Senhor nos deu, pois nos fez tocar o céu como fruto de uma entrega total e cheia de amor em nosso “sim” à Sua vontade. Algo que ninguém consegue entender, apenas aqueles que vivem a fé. A única coisa que devemos fazer é dar o amor. E Deus nos dá o céu! Quão grande é sua obra! Nem todo o ouro do mundo poderia comprar um instante do que temos vivido. É uma graça. ”Onde está o teu coração, ai está o teu tesouro”. E eu posso afirmar com o meu nada: “Tudo posso naquele que me fortalece”, e só Ele me confirma em Seu caminho, para o qual me chamou por pura graça. Ele me ajuda a entender e a reconhecer que a cada dia quebramos pedras e às vezes plantamos flores, com a certeza da esperança que Ele cumpre as nossas vidas.
Antonia, Assunção – Paraguai

Sinal do amor profundo
Caríssimos leitores da Passos, nós, como frutos do Centro Educativo João Paulo II e participantes do grupo dos colegiais de CL de Novos Alagados, queremos contar para todo o mundo um pouco da maravilha que é receber uma linda igreja moderna e bem localizada, de modo que quem passa na avenida suburbana – avenida que liga todo o subúrbio ferroviário ao centro de Salvador – fica impressionado com tamanha beleza, a ponto de ter curiosidade em visitá-la. Esta igreja recebeu o nome de Jesus Cristo Ressuscitado, quando foi inaugurada no dia 14 de setembro de 2008. Um ano depois, a mesma igreja ganhou um presente: sua consagração! A missa de dedicação, realizada no dia 26 de setembro de 2009, foi celebrada pelo Cardeal Arcebispo de Salvador Dom Geraldo Majella Agnello, e também contou com a presença de Dom Guido Zendron, Bispo de Paulo Afonso (BA), de Dom João Carlos Petrini, bispo auxiliar de Salvador, de padre Gigio, do diácono permanente Bibi, do padre Stifen Murnmgi, pároco da comunidade de São Braz, e, é claro, do padre Ignazio Lastrico, pároco da belíssima igreja. Por fim, mas não menos importante, contou também com a presença de Angelo Abbondio, uma pessoa que veio até Novos Alagados para mostrar-nos, por meio do seu rosto humano, as maravilhas que Cristo nos proporciona. Esse grande gesto que presenciamos e prestigiamos significou dizer que, a partir daquele dia, a igreja tornou-se um lugar sagrado para sempre, como diz a prece de dedicação que foi lida pelo Cardeal durante a celebração da Santa Eucaristia: “Hoje, o povo fiel, com rito solene, deseja consagrar-Vos para sempre esta casa de oração, onde Vos honra com amor, instrui-se pela palavra e se alimenta com os sacramentos”. A igreja tornou-se sinal do amor profundo de Jesus para conosco. E este é um convite que Jesus faz a cada um de nós de também dedicar as nossas próprias vidas. Tudo isso se torna mais fácil pela amizade que já existia e se fortaleceu entre nós, e que, com essa mais nova paróquia, manifesta-se mais concreta e sincera. Isso vem despertando em muitos outros jovens da comunidade o desejo de estar conosco. Damos continuidade ao grupo de Escola de Comunidade, porque nos ajuda a dar mais sentido às exigências da vida. Também já fizemos nossa primeira caritativa com a comunidade: um grupo visita os idosos e doentes, e outro brinca com as crianças do bairro. Ali nos demos conta do valor da caridade, pois mesmo vivendo em situação parecida com a das pessoas às quais doamos nosso tempo e atenção, não pedimos nada em troca. E isso é muito gratificante!
Lucileide e Lisandra em nome dos colegiais de Novos Alagados,
Salvador – BA

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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