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Passos N.118, Agosto 2010

BENTO XVI

O que quer que façamos, devemos sempre permanecer com Ele

por Bento XVI

Ordenações Presbiteriais dos Diáconos da Diocese de Roma. Homilia do Santo Padre. Basílica Vaticana, 20 de junho de 2010

Caros Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Caríssimos Ordenandos, Amados Irmãos e Irmãs, como Bispo desta Diocese, estou particularmente feliz por receber no “presbyterium” romano quatorze novos Sacerdotes. Juntamente com o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares e todos os Presbíteros, dou graças ao Senhor pelo dom destes novos Pastores do Povo de Deus. Gostaria de dirigir uma saudação especial a vós, caríssimos ordenandos: hoje vós estais no centro da atenção do Povo de Deus, um povo simbolicamente representado pelas pessoas que apinham esta Basílica vaticana (...). Por conseguinte, é toda a Igreja de Roma que, hoje, dá graças a Deus e reza convosco, que deposita grande confiança e esperança no vosso futuro, que espera abundantes frutos de santidade e de bem do vosso ministério sacerdotal. Sim, a Igreja conta convosco, conta convosco em grande medida! A Igreja precisa de cada um de vós, consciente dos dons que Deus vos oferece e, ao mesmo tempo, da absoluta necessidade que o coração de cada homem sente de se encontrar com Cristo, Salvador único e universal do mundo, para receber dele a vida nova e eterna, a verdadeira liberdade e a alegria integral. Então, sintamo-nos todos convidados a entrar no “mistério”, no acontecimento de graça que está se realizando nos vossos corações mediante a Ordenação presbiteral, deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus que foi proclamada.
O Evangelho que ouvimos apresenta-nos um momento significativo do caminho de Jesus, em que ele pergunta aos discípulos o que as pessoas pensam dele como eles mesmos o julgam. Pedro responde em nome dos Doze, com uma profissão de fé que se diferencia de modo substancial da opinião que as pessoas têm sobre Jesus; com efeito, ele afirma: Tu és o Messias de Deus (cf. Lc 9, 20). De onde nasce este ato de fé? Se formos ao início deste trecho evangélico, constataremos que a confissão de Pedro está ligada a um momento de oração: “Jesus rezava num lugar afastado. Os discípulos encontravam-se com Ele” diz São Lucas (cf. 9, 18). Ou seja, os discípulos são envolvidos no ser e no falar absolutamente únicos de Jesus com o Pai. E deste modo é-lhes concedido ver o Mestre no íntimo da sua condição de Filho, é-lhes concedido ver aquilo que os outros não conseguem ver; do fato de “estar com Ele”, do fato de “permanecer com Ele” em oração deriva um conhecimento que vai mais além das opiniões das pessoas, para chegar à profunda identidade de Jesus, à verdade. Aqui é-nos oferecida uma indicação bem específica para a vida e a missão do sacerdote: na oração, ele é chamado a redescobrir o rosto sempre novo do seu Senhor e o conteúdo mais autêntico da sua missão. Só quem mantém uma relação íntima com o Senhor é conquistado por Ele, pode levá-lo aos outros, pode ser enviado. Trata-se de um “permanecer com Ele”, que deve acompanhar sempre o exercício do ministério sacerdotal; deve constituir a sua parte central, também e sobretudo nos momentos difíceis, quando parece que as “coisas a fazer” devem ter a prioridade. Onde quer que estejamos, o que quer que façamos, devemos sempre “permanecer com Ele”.

Um segundo elemento do Evangelho de hoje gostaria de salientar. Imediatamente depois da confissão de Pedro, Jesus anuncia a sua paixão e ressurreição, fazendo seguir-se a este anúncio um ensinamento relativo ao caminho dos discípulos, que consiste em segui-lo, em seguir o Crucificado, em segui-lo ao longo do caminho da cruz. E depois acrescenta – com uma expressão paradoxal – que o ser discípulos significa “perder-se a si mesmo”, mas para voltar a encontrar-se plenamente a si mesmo” (cf. Lc 9, 22-24). Que significa isto para cada cristão, mas principalmente para um sacerdote? O seguimento, mas poderíamos tranquilamente dizer: o sacerdócio jamais pode representar um modo para alcançar a segurança na vida, ou para conquistar uma posição social. Quem aspira ao sacerdócio para um crescimento do seu prestígio pessoal e do seu poder, entendeu de modo totalmente errado o sentido deste ministério. Quem quiser realizar sobretudo uma ambição própria, alcançar um sucesso pessoal, será sempre escravo de si mesmo e da opinião pública. (...) Um sacerdote que considera nestes termos o seu ministério, não ama verdadeiramente a Deus e ao próximo, mas apenas a si mesmo e, paradoxalmente, termina por se perder a si próprio. O sacerdócio – recordemo-lo sempre – está fundamentado sobre a coragem de dizer sim a outra vontade, com a consciência, que se deve fazer crescer todos os dias, de que precisamente conformando-nos com a vontade de Deus, “imersos” nesta vontade, não só não será anulada a nossa originalidade mas, pelo contrário, entraremos cada vez mais na verdade do nosso ser e do nosso ministério.
Caríssimos ordenandos, quero propor à vossa meditação um terceiro pensamento, estritamente ligado àquele que acabei de expor: o convite de Jesus a “perder-se a si mesmo”, a tomar a cruz, evoca o mistério que estamos a celebrar: a Eucaristia. (...) É-vos confiado o sacrifício redentor de Cristo, é-vos confiado o seu corpo oferecido e o seu sangue derramado. Sem dúvida, Jesus oferece o seu sacrifício, a sua doação de amor humilde e total à Igreja sua Esposa, na Cruz. É naquele madeiro que o grão de trigo, lançado pelo Pai no campo do mundo, morre para se tornar um fruto maduro, doador de vida. Todavia, no desígnio de Deus, esta doação de Cristo torna-se presente na Eucaristia graças àquela potestas sacra que o sacramento da Ordem vos confere, a vós presbíteros. Quando celebramos a Santa Missa, conservamos em nossas mãos o pão do Céu, o pão de Deus, que é Cristo, grão partido para se multiplicar e para se tornar o verdadeiro alimento da vida para o mundo. (...) Trata-se de uma experiência de enlevo sempre nova, ver que através das minhas mãos e da minha voz, o Senhor realiza este mistério da sua presença!

Então, como deixar de rezar ao Senhor, para que vos incuta uma consciência cada vez mais vigilante e entusiasta deste dom, que é colocado no cerne do vosso ser sacerdotes! Para que vos conceda a graça de saber experimentar em profundidade toda a beleza e a força deste vosso serviço presbiteral e, ao mesmo tempo, a graça de poder viver este ministério com
coerência e generosidade, todos os dias. A graça do presbiterado, que daqui a pouco vos será concedida, unir-vos-á intimamente, aliás de modo estrutural, à Eucaristia. Por isso, irá vincular-vos no profundo do vosso coração aos sentimentos de Jesus que ama até ao extremo, até ao dom total de si, ao seu ser pão multiplicado para o sagrado banquete da unidade e da comunhão. É esta a efusão pentecostal do Espírito, destinada a inflamar a vossa alma com o próprio amor do Senhor Jesus. Trata-se de uma efusão que, enquanto manifesta a gratuidade absoluta do dom, grava dentro do vosso ser uma lei indelével – a lei nova, uma lei que vos impele a inserir e a fazer reflorescer no tecido concreto dos comportamentos e dos gestos da vossa vida de todos os dias o próprio amor de entrega de Cristo crucificado. (...)
Caríssimos, o caminho que o Evangelho de hoje nos indica é a senda da vossa espiritualidade e da vossa ação pastoral, da sua eficácia e incisividade, até nas situações mais cansativas e áridas. Além disso, esta é a vereda segura para encontrar a verdadeira alegria. Maria, a Serva do Senhor, que conformou a sua vontade com a de Deus, que gerou Cristo e o ofereceu ao mundo, que seguiu o Filho até aos pés da cruz no supremo gesto de amor, vos acompanhe durante todos os dias da vossa vida e do vosso ministério. Graças ao carinho desta Mãe terna e forte, podereis ser jubilosamente fiéis à exortação que, como presbíteros, hoje vos é confiada: a de vos conformardes com Cristo Sacerdote, que soube obedecer à vontade do Pai e amar o homem até ao fim.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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