Tudo começou cinco anos atrás, como algo que pudesse ajudá-los no trabalho. Era um grupo de atletas e treinadores, professores e dirigentes, todos movidos por um desejo: entender como juntar e manter unidos “esporte” e “educação”. E por que o atletismo e os jogos de equipe “não são só uma diversão, mas oportunidades para nos tornarmos mais humanos”. Nestas páginas, a história e o presente de uma obra que nasceu de uma paixão comum
Cabelos desarrumados caindo sobre a testa molhada de suor. Ele está em fila, atrás de um colega. Aguarda. Ajusta o uniforme verde e branco. Bate a ponta da chuteira no chão, para limpar os cravos. Quase um ritual. Mesmo que o campo esteja enxuto e o calçado limpinho. É a vez dele. A bola na frente. Um-dois, para e chuta. É gol! Ele corre para se juntar aos outros. Pensando naquele chute. Foi gol, mas podia ter sido melhor: como lhe diz o técnico, ele precisava manter o tronco ereto, além do quadril, para a bola não subir tanto. “Na próxima oportunidade, vou prestar mais atenção”, dizem os olhos do menino, protegidos do sol pela mão sobre a testa.
Tem dez anos, mas “parece um homem”, como diz uma canção italiana. Tal como os demais meninos, seus companheiros de time. Pelo rosto deles percebemos que levam a sério o treinamento que estão fazendo; o uniforme que vestem; todo o ambiente em volta. “Eles se esforçam e se sentem adultos. Crescem”, diz Giuseppe Villani observando-os nos campos do Centro Esportivo Romano Banco (CSRB). “O nome é o mesmo desse bairro de Buccinasco, na entrada de Milão, no qual nasceu, no seio da paróquia local, na década de 1970. Tornou-se uma entidade jurídica há seis anos”, continua o orgulhoso Giuseppe, que é também o presidente do clube.
Bastam poucas horas entre os vestiários e o gramado, entre os rostos dos pais que observam os filhos no campo e os dos treinadores e dirigentes, para se ter a confirmação, ou melhor, para se ver em ação a síntese de uma conversa de poucos dias antes, num restaurante: que no esporte é possível educar, isto é, fazer crescer, ajudar os jovens a se tornarem homens de verdade. “Homens, sim. Que expressem ao máximo todo o seu ser”, como me conta Antonello Bolis, treinador do time do Milan sub-16, novo campeão da Itália, durante uma conversa pouco tempo depois: “Quando a gente treina, deve deixar que os meninos se expressem livremente: que arrisquem, que errem, que tentem um drible. Isso os ajuda a crescer. Não devemos comandar como se eles fossem soldadinhos, para alcançar um bom resultado a qualquer custo”. A regra é permitir que sejam homens, mesmo quando erram.
Estou à mesa, no restaurante, tendo ao meu lado um ex-jogador da seleção italiana de rúgbi, de paletó e gravata, uma ginasta que leciona educação física, uma médica do esporte com um passado de esgrimista e um professor de educação física que não esconde a decepção por uma carreira futebolística interrompida por uma infelicidade... Aí vem a pergunta: “Vamos falar de CdO Esporte?”, diz Marco Platania, o ex-jogador de rúgbi. Ele tem três filhos pequenos e é engenheiro. Há dois anos, é o presidente da associação que floresceu no grande tronco da Companhia das Obras italiana (CdO). Gente que há alguns anos vem colaborando com a associação, procurando dar aos que se dedicam ao esporte um ponto de referência e um ambiente onde possam dialogar sobre aquilo que vivem.
Beleza, ascese e utilidade. “Em geral, o esporte é visto apenas em seu aspecto recreativo, algo que se pode facilmente sacrificar em favor de algo aparentemente mais importante”, diz Giancarlo Ronchi, o professor de educação física, responsável pela área esportiva do colégio Sacro Cuore de Milão. “No passado aconteceu que muitos de nós desistimos porque alguém dizia: ‘Pare com isso, está na hora de você se ocupar com coisas mais sérias’. E acontece ainda hoje. Professores que têm ciúme quando um jovem pratica esporte com paixão e, talvez, não vai tão bem na escola. Ou pais que dizem ao filho que naquela semana ele não vai jogar bola por causa de uma nota baixa”. Bem, às vezes talvez isso seja correto... “Talvez. Mas pense que, se ele não se dedicar a uma coisa muito especial para ele, como o esporte, vai se dedicar ao estudo?”, replica a ex-ginasta Paola Zannini. Palavra de alguém que leciona numa escola feita justamente para ajudar atletas que precisam gastar muitas horas da semana em treinamento. “Com muita frequência, meus alunos aprendem a estudar levando o sacrifício e a dedicação que vivem na prática esportiva também para o campo do estudo”.
“É o ponto-chave. O esporte é uma coisa especial na vida de muitos jovens, e é acessível praticamente a todos. Por que não deveria ser levado a sério? Por que não pode ser um ponto a partir do qual a pessoa possa crescer?”, pergunta Marco. “Inclusive porque na atividade física, na paixão esportiva, expressam-se a personalidade, a dedicação e o caráter da pessoa. Sobretudo quando crianças. Então, a partir daí, pode-se mudar também o modo de treinar uma equipe de futebol, de basquete ou de ginástica artística. O esporte se torna um instrumento educativo de grande importância”, diz Giancarlo, que trabalha com crianças todos os dias.
Em 1986, Dom Giussani evidenciou, durante um encontro com alguns membros do Movimento Esportivo Popular, três fatores fundamentais do esporte. A beleza: dizia o fundador de CL que “o esporte é beleza porque implica medida, equilíbrio, ritmo, intensidade, densidade”. O esporte é ascese: através do esforço empregado nos treinamentos, treina-se a paciência, e não se trata só da ascese do corpo, mas também do espírito, porque “o homem é uno”. Terceiro critério, a utilidade: “Assim como a religiosidade é toda humana, é amor ao homem, amor a uma humanidade mais humana, me parece que um fenômeno tão útil ao homem como o esporte não pode deixar de ser amado, proclamado e apoiado em todos os lugares”.
Sociedade “séria”. Portanto, mesmo quando pratica esporte a pessoa expressa também a sua religiosidade, que não é algo ligado somente à fé. Tanto que às vezes degenera até para a violência. Ou para valores desligados de qualquer raiz. Coisas como fair play (jogo limpo), esportividade, dedicação apaixonada... Coisas boas, mas de onde nascem? “O que está por trás disso é o coração, atraído pela possibilidade de realização pessoal”, diz Marco, pensando em quando se confrontava com o jogador adversário nos jogos de rúgbi e se enchia de santa razão. “É aí que se insere a educação. A possibilidade de, praticando o esporte, a pessoa poder crescer em todos os aspectos da vida”, diz Giancarlo. E por isso nasceu o CSRB. Assim como nasceram associações esportivas em outras cidades italianas como Nápoles, Milão, Bréscia e Údine. “Antes, o CSRB era a equipe da paróquia. Mas a partir de certo ponto vimos que alguns jovens, aqueles que jogavam por paixão – do vôlei ao futebol –, se transferiam para outros clubes. Mais ‘sérios’, diziam. Nós nos perguntamos, então: Mas por que, para jogar seriamente, eles precisam procurar outro lugar? Assim, em 2002 fundamos esta sociedade”, explica Giuseppe. Uma estrutura nova com quatro campos, uma escola de futebol e mais de seiscentos meninos entre 5 e 18 anos, praticando também vôlei e ginástica artística. E os primeiros resultados começaram a aparecer. “Não só em termos esportivos. Com algumas equipes, conseguimos chegar a níveis importantes. Mas um dado interessante é que os pais começaram a transferir seus filhos de outros clubes, trazendo-os para cá”. Em suma, um método que começa a dar frutos. Como dizia Marco, durante o jantar: “Para maximizar a dedicação de um atleta, basta fazê-lo tornar-se um homem”.
Mas é preciso sempre voltar a este ponto. Por isso nasceu a CdO Esporte, há cinco anos. Francesca Sadowski, a médica do esporte, conta: “Lembro que da CdO de Milão vieram alguns a Gênova para nos dizer que estavam pensando em algumas iniciativas que pudessem apoiar também os que atuavam nos setores esportivos. Eu, então, por causa do trabalho, estava sempre muito ocupada. E precisava de um lugar onde pudesse me confrontar, dialogar”. Dito e feito: Francesca foi a Milão para se encontrar com o então presidente da CdO Giorgio Vittadini. E voltou para casa tão entusiasmada que logo envolveu também alguns colegas “do setor”. E aí veio o segundo passo. Mas desta vez para assinar o nascimento da associação. Naquele dia de dezembro de 2005, diante do escrivão, com ela estavam Teudis Plaza, Tiziano Saggiomo, o primeiro presidente, Danilo Vucenovich e o médico Carlo Tranquilli.
Quarteto improvável. “Claro, não é uma coisa que nasceu do nada”, esclarece Marco. “No passado já se havia tentado constituir associações que pudessem ser uma referência para as pessoas que trabalham diariamente com o esporte. Mas o que está acontecendo agora é, de fato, interessante”. Inútil perguntar qual é o “algo mais” de que está falando. Isso é visível nesse quarteto improvável que conversa amigavelmente à mesa. O ponto é uma amizade. A obra nasceu a partir de um interesse comum, porque o que está em jogo é o coração deles, o desejo de felicidade. Porque envolve a vida toda, inclusive as inclinações e as paixões esportivas. Aliás, exalta-as. “Por isso realizamos encontros, seminários, preparamos exposições como aquela que levamos ao Meeting de Rímini, dois anos atrás, e que agora continua a percorrer a Itália”, diz Marco. “Mas a grande virada aconteceu quando descobrimos que não devíamos ter uma preocupação organizativa em nossas reuniões”, como criar ocasiões, buscar relações com pessoas importantes no ambiente ou com esportistas famosos. “Não. Começamos observando o que estava acontecendo e começamos a estar presentes verdadeiramente. E começamos a ser amigos, a estarmos sempre juntos”. Foi o que aconteceu em Recco, no ano passado, e em Ischia, no final de junho: algumas dezenas de pessoas de toda a Itália, dirigentes de entidades, atletas e diretores de clubes, que se reuniram durante três dias, como uma família, com momentos de cantoria, de banhos de piscina e de trabalho em comum. Passaram da mera associação à amizade. “E, paradoxalmente, a associação começou a crescer, a se dilatar, a se tornar cada vez mais um ponto de referência para os que iam aderindo”.
Um exemplo, voltando ao tema do campo. No CSRB era preciso montar o programa de treinamento para as crianças pequenas. “É um aspecto delicado. A preparação atlética na idade de desenvolvimento deve ser avaliada de maneira meticulosa. Assim, fomos ajudados pela CdO Esporte. E o instrumento que propomos aos nossos treinadores para ajudá-los no trabalho educativo é justamente o livro de Giancarlo Rochi e Nicola Lovecchio sobre o desafio educacional no esporte”, diz Massimo Battista, dirigente da sociedade.
A mochila nas costas. Uma amizade, antes de tudo, que se dilata como uma mancha de óleo. Que se torna desafio também para quem se depara com ela. “Encarar o esporte assim, como possibilidade educativa, quer dizer ensinar os jovens a levar a sério toda a vida”, afirma Marco. E os meninos logo percebem isso e aprendem. Porque eles levam muito a sério o jogo. Como aquele menino uniformizado, pronto para chutar. Como terá voltado depois para sua casa? E a gente imagina esse menino, com a mochila nas costas, caminhando pela calçada: “Aquele chute poderia ter saído melhor”, pensa. E, no entanto, caminha. “Parece um homem”.
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