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Passos N.112, Fevereiro 2010

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A história

Seleção de Pessoal

Final do outono, de manhã cedinho. Gianluca olha para o relógio: está adiantado. Tem exatamente o tempo para beber um café antes de enfrentar a prova que o espera: quatro horas de testes e perguntas, primeiro passo da seleção para uma vaga no “quadro de funcionários”, setor de marketing. Pega a bolsa e sai.
Na sala, estão três candidatos. Enquanto as folhas com as questões são entregues, a porta se abre. Gianluca levanta os olhos e reconhece a pessoa que, ofegante, acabou de entrar: um ex-colega. O homem desculpa-se pelo atraso, e senta-se exatamente ao seu lado. “Tudo bem?” “Não encontrava lugar para estacionar...” Pode-se começar.

Gianluca pega a caneta e começa a resolver os testes. As horas passam. Está quase no fim quando lê a indicação para as últimas cinquenta perguntas: “Responder livremente às seguintes questões”. A coisa o deixa curioso, faz uma primeira leitura rapidamente. Não são questões usuais. O tom é decididamente pessoal: “Chegará o dia em que eu...”; “Sinto-me visto por minha família como...”; “As três coisas mais bonitas da sua vida...”, e assim até o fim. Começa a responder, com calma. Não lhe interessa escrever banalidades ou coisas óbvias para mascarar aquilo que ele é. “Pensem o que quiserem. Eu sou assim”, reflete consigo mesmo.
Quando termina é quase meio-dia. Na sala, ficaram apenas ele e seu ex-colega. Aproxima-se dele para despedir-se, antes de sair. O homem tem o olhar perdido no vazio: “Tudo bem?”, pergunta. “Acho que não, não sei mesmo o que responder.” Gianluca abaixa os olhos: sobre a mesa estão as folhas com as famosas cinquenta perguntas.

Alguns dias depois, acontece a entrevista. Que começa, obviamente, com as respostas aos testes. Tudo corre bem. Depois, um dos examinadores da empresa de seleção pega a última prova. “Fiquei impressionado com as suas respostas. Por exemplo, para completar a frase: “Eu serei perfeitamente feliz quando...”, você escreveu: “Duvido que se possa ser perfeitamente feliz nesta terra”. “Por que você pensa isso?” “Digo isso a partir da minha experiência, não de uma teoria.” Está para acrescentar: “Mas, eu encontrei o segredo do mundo: somente Um pode nos fazer feliz”, mas o interlocutor interrompe: “E sobre os colaboradores? Por que escreveu: ‘trato cada pessoa de maneira diferente, levando em conta quem tenho à minha frente’?”.
A entrevista continua assim até o final, examinando uma a uma todas as cinquenta questões. E, depois, são feitas perguntas para tentar entender as respostas dadas: “Você fez algum curso para responder dessa maneira?”. Ou: “Vi que você trabalhou em empresas sem fins lucrativos, talvez seja por isso...”. E, ainda: “Como é possível que alguém que trabalha num banco possa ter essa visão do todo?”. E continuou assim. Gianluca fica surpreso. Para ele, são respostas elementares, para eles – evidentemente – uma novidade absoluta.
Voltando para casa, pensa naquela estranha entrevista. Satisfeito, claro. “E, no início, fiquei um pouco orgulhoso”, confessa quando nos conta o que aconteceu. “Depois, entendi. Com aquela insistência não tentavam descobrir um currículo. Procuravam mais. Queriam entender a origem da diversidade que os impressionava. E isso impressionou também a mim, instrumento inconsciente nas mãos de um Outro...”

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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