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Passos N.121, Novembro 2010

MOVIMENTO - MEMÓRIA | CATARINA MARRONE

Viver à altura do Ideal

por Mônica Baeta*
Catarina está ao centro, de blusa listrada.
Catarina está ao centro, de blusa listrada.

Encontrou o Movimento com mais de quarenta anos. E sua simplicidade a levou a aderir totalmente a esta história, dedicando toda a sua vida a Cristo. Sua doença tornou-se ocasião de conversão para ela própria e para os amigos

No dia 25 de setembro, às 23h45, faleceu a nossa amiga da Fraternidade São José do Rio de Janeiro, Catarina Marrone. Ela foi para todos os que a conheceram um grande testemunho do amor incondicional de Cristo, que a abraçou e a tomou consigo dia após dia, de forma especial nos últimos meses em que estava lutando pela vida, pois tinha câncer no fígado.
Como ela mesma gostava de dizer sobre seu encontro com o Movimento, “Cristo foi me buscar dentro da minha própria casa”. Conheceu CL através de uma amiga que a convidou para uma palestra do padre italiano Giuliano Renzi na Igreja São Paulo Apóstolo, em Copacabana, no ano de 1987. A partir daí nunca mais deixou o Movimento e, em 1999, entrou para a Fraternidade São José. Esta Fraternidade, nascida no carisma de Dom Luigi Giussani, reúne pessoas que decidem dedicar total e definitivamente a própria vida a Cristo na virgindade, permanecendo nas próprias circunstâncias de vida pessoal e de trabalho. Ninguém melhor do que ela mesma para falar do que significava sua vocação. Escreveu a uma amiga da São José no dia 13 de outubro de 2009, um dia após o término dos Exercícios da Fraternidade São José em São Paulo: “Márcia, espero que você ainda esteja em êxtase como Santa Teresa D’Ávila [cujo dia estava próximo]; eu estou também como Santa Catarina de Sena! Que grande presente o Senhor nos deu!... um padre simples e de um coração bom [falava do padre italiano Michelle, que havia pregado os Exercícios]... depois da palestra final, do modo como ele falou da São José, eu não conseguia parar de chorar de alegria por ter tido a graça de Deus de ser escolhida para a São José, e me sentir realmente amada pelo Senhor. Não tenho dúvidas do caminho, e a frase que me tocou muito foi: Giussani criou o Movimento para mim hoje, para que eu não ficasse sozinha.... Imaginar que essa historia foi feita para mim... Que grande graça, você não acha? São José, rogai por nós! Beijos, Catarina”.
Catarina sempre testemunhou a quem encontrasse esta graça e, através dela, pessoas no Brasil e até na Itália encontraram a São José e o Movimento. Durante os últimos meses, recebeu o carinho e cuidado diários, a visita e telefonemas de amigos de vários lugares do Brasil e do mundo, e se comoveu profundamente quando padre Gianni, o responsável pela Fraternidade São José na Itália, em sua última vinda ao Brasil em abril deste ano, fez questão de ir visitá-la no Rio de Janeiro e celebrar uma missa em sua casa. Na última assembleia do Movimento que conseguiu participar, em maio deste ano, disse comovida, diante de todos: “Eu vim aqui para agradecer a vocês, porque nesses últimos tempos eu tenho estado doente e a coisa mais maravilhosa que eu tenho encontrado na minha vida é que Deus me deu uma companhia linda, a companhia mais bonita de toda a minha vida, porque da Itália até aqui, vocês oram por mim, pessoas que nem me conhecem, que nunca me viram. E eu tenho recebido muitas graças. (...) Toda vez, quando eu rezo meu terço, eu ofereço as minhas dores, ofereço as minhas seis horas de quimioterapia. Esse tempo eu ofereço por vocês, pelo Movimento, pela Igreja, pelo Papa (...). Eu tenho ficado cada vez mais apaixonada por Cristo, eu tenho ficado cada vez mais apaixonada por essa companhia. Não importa os defeitos que nós temos, se estamos bem, se não estamos bem. Então, eu vim aqui hoje, na companhia de Nossa Senhora, muito cansada, para agradecer a vocês o carinho, a amizade e todas as orações. E continuem rezando por mim, que eu continuarei oferecendo por vocês”.

A seguir, alguns testemunhos de amigos que lhe escreveram durante este período ou enviaram mensagens no seu falecimento:

Querida Catarina, tenho recebido notícias suas através dos amigos e acompanhado um pouco daquilo que o Senhor te faz experimentar nestes últimos dias. Fico cheia de gratidão pela sua vida e pela forma como tem vivido tudo, e também particularmente por oferecer tudo que está vivendo pela nossa Fraternidade e por pessoas como eu, tão mancas. Através desse seu olhar amoroso para nós da São José, me sinto pessoalmente olhada e alcançada pela misericórdia de Deus que abraça tudo. Te quero muito bem e peço ao Senhor, a Nossa Senhora, a São José e a Dom Giussani que te protejam a cada momento. Um abraço carinhoso.
Márcia (Belo Horizonte)

Caríssimos amigos, foi com pesar que recebi a notícia do falecimento da Catarina, mas certo de que agora ela está novamente nos braços de Deus e participa de modo misterioso e mais profundo da nossa companhia. A tristeza nos toma neste momento, mas a alegria do Senhor será a nossa força. Aquela mesma alegria que sempre moveu a Catarina e que ela levou a todo lugar por onde passava. Um grande abraço.
Carlinhos (Belo Horizonte)

Queridas, levem um grande abraço meu para Catarina neste tempo de real provação.
Com certeza chegou o tempo de muita dedicação ao Senhor na vida dela e junto com os amigos ela, em meio a toda dor ou limitação do momento, acolherá tudo na fé; mesmo não compreendendo tudo, confiará no Senhor. Um abraço a cada uma de vocês.
Iara (Salvador)

Caríssimos amigos, no último sábado o nosso grupinho de São Paulo dedicou o horário de nossa reunião para juntas rezarmos na Igreja de São Francisco, no centro da cidade, aos pés da imagem de São José, padroeiro de nossa Fraternidade, pela vida da Catarina. Foi um momento muito bonito e significativo; chegamos uma hora antes da missa, rezamos as Laudes de pé, em frente ao altar, depois rezamos os mistérios gozosos, pedindo a Nossa Senhora e a padre Giussani pela vida de nossa amiga e participamos da missa. Na semana anterior a Bete e eu fomos ao Rio visitá-la. Foi um momento muito forte, pois mesmo diante da fragilidade, da dor e do medo, a nossa Catarina continua impressionantemente protagonizando a própria doença. Falamos do futuro e ela revelou o desejo de “curtir” a vida do Movimento e de nossa Fraternidade. Fiquei impressionadíssima com o olhar da Catarina e disse a ela que eu precisava ir à sua casa para olhá-la, para ver como o Senhor se apresentaria para mim desta vez. Ela está bem magrinha, sente dores, mas está de pé, e com “de pé” quero dizer que ela está consciente de seu estado e oferecendo cada momento pela nossa Fraternidade, pelo Movimento, pela Santa Igreja... enfim, está verdadeiramente fazendo aquilo que é pedido a cada um de nós que estamos vivendo esta experiência dentro desta “vocação que dá arrepios”.
Fiquei muito contente por ter ido, pois me ajudou a readerir à Fraternidade São José, ajudou-me a me dar conta de novo da grande graça que o Senhor reservou para nós. É preciso somente prestar atenção, porque a doença da Catarina é um grande sinal para cada um de nós, não porque seja bonito, legal ou desejável ficar tão gravemente doente, mas porque através deste fato não há como não reconhecer o Mistério. Quando nós estávamos quase saindo de sua casa, chegaram mais amigos do Movimento e então ela nos disse: “Hoje o Senhor veio à minha casa e parece que não quer mais ir embora...” e então pediu a Carol que cantasse “Vuestra Soy” que é o Hino de Santa Teresa. Amigos, se vocês puderem pensar um pouco sobre isto, se os nossos grupinhos puderem, com toda a liberdade, seria muito bonito se pudéssemos parar um dia, uma noite, cada um sabe quando, deveríamos rezar juntos pela nossa irmã. O Senhor nos colocou juntos, e neste momento pede o Sim de nossa amiga, e através dela é possível que cada um de nós possa contemplar também o Mistério. Quero muito bem a cada um de vocês.
Cida (São Paulo)

Mesmo muito triste com o sofrimento da minha tão querida amiga Catarina, sou muito grata ao Mistério que fez com que eu a conhecesse. Ela é para mim uma companhia precisa, ajudando a mim e minha filha que mora em Recife (onde Catarina morou muitos anos) com indicação de médicos e dando outras dicas que têm sido importantes, para quem sempre morou no sul do país. Ela sempre fez questão, quando nos encontramos na internet (quase todos os dias), em ligar a câmera para que pudéssemos nos olhar nos olhos, tornando-se assim uma companhia concreta e presente. Depois que adoeceu, sempre que seu estado permitia, nos falávamos e rezávamos juntas o Angelus. Na última semana tenho sentido muito sua falta, gostaria muito de estar junto dela agora para poder abraçá-la. No nosso último encontro estava mesmo muito fraquinha. Jamais vou esquecer a frase que me disse depois que rezamos... “Zaira, eu te amo!”, num fiozinho de voz. Esta frase ecoa em meu coração como se o próprio Cristo me sussurrasse no seu momento de agonia intensa, “Zaira, Eu te amo”. Obrigada, meu Deus, por ter me “dado” a Catarina. Não me esqueço da frase de padre Virgilio, quando soube que sua doença era grave: “Quer eu fique, quer eu vá... tudo é para a glória de Cristo”.
Zaira (Londrina)

Caríssimos amigos do Rio, conheci Catarina em diversas ocasiões, especialmente nos encontros nacionais do Movimento. Ontem a recordamos na Missa e continuo rezando para que o Senhor a acolha na sua Paz. Em Cristo,
Dom João Carlos Petrini
(Bispo Auxiliar de Salvador)

Caros amigos, durante a minha visita ao Santo Padre em Roma, recebi a notícia da ida da nossa Catarina ao encontro definitivo com o Senhor. Logo esta manhã rezei a Missa por ela, por sua família, pela São José e por todos nós, seus amigos. Para este momento ela fez o encontro com a nossa história, mudou de vida, se dedicou totalmente a Cristo e à sua glória. O seu amor pela vida, o entusiasmo e a resposta fiel à misericórdia do Senhor, hoje lhe abrem as portas do Paraíso. A última vez que a encontrei fez uma santa confissão. O que ela começou a viver conosco, agora está vivendo no abraço eterno de Cristo. Este é o milagre que todos nós pedíamos e que o Senhor nos oferece junto à dor pela sua separação. Nossa amiga e nossa irmã, seja agora acolhida por Nossa Senhora Aparecida, pelos nossos santos, a começar por Dom Giussani, e vigie sobre os seus queridos filhos e sobre todos nós, seus amigos. Obrigado pelo “sim” definitivo, demonstrado com o dom da sua vida. Veni Sancte Spiritus, veni per Mariam.
Dom Filippo Santoro
(Bispo de Petrópolis)

*Colaboraram Débora, Vânia e amigos da Fraternidade São José.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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