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Passos N.123, Fevereiro 2011

RUBRICAS

A HISTÓRIA

Bênção Natalina

Nunca tinha estado ali. Muito bem, mas o Cabrito é uma região que está no âmbito da paróquia. É um lugar estranho, uma espécie de pequeno forte erguido no bairro da Plataforma, em Salvador. Um punhado de barracos e chapas de ferro apoiadas em um muro que, um pouco, as protege e, um pouco, as separa do resto do bairro. Difícil entrar, para quem não mora ali. Inútil procurar se envolver para quem passa por acaso. Mas padre Emilio, que está no Brasil há poucos meses, não estava ali por acaso. Foi levar a bênção natalina. Ele e padre Ignazio, pároco da Igreja Jesus Cristo Ressuscitado, olharam-se e disseram: vamos. “Metade do bairro, eu visito, metade, você”. Rezam um Glória, e partem.
Padre Emilio começou a percorrer as vielas e foi rodeado por um bando de crianças e mulheres idosas, sorridentes, querendo ouvir algumas palavras em italiano, como aquelas que ouvem de vez em quando na TV. Foram eles que o orientaram: ali, o senhor pode entrar; ali, é melhor não. E ele continuou, batendo nas portas e cumprimentando as pessoas, fazendo orações ou apenas trocando algumas palavras, porque os evangélicos são muitos na região e é fácil um padre católico ouvir das pessoas que já estão abençoadas.

Quase sem perceber, padre Emilio chega a um campo aberto. Um pequeno grupo de mulheres está conversando. Ele tira a estola da mochila e elas dizem: “Obrigada, padre, mas quem vem de fora não entra em nossas casas”. De repente, aparece um homem. “Magro, alto, pálido: entendi imediatamente que naquele lugar há alguém que manda”, conta o padre. “Ele olhou para mim e me fez uma pergunta à queima-roupa: padre, por que não se casa? O senhor não gosta de mulheres?”.
Rapidamente Emilio decide aceitar o desafio. Fala de si. “Eu lhe disse que, sendo inteiro de Cristo e da Igreja, posso abraçar e amar todas elas”. Fala sobre a virgindade. E algo acontece. “Ele entendeu rápido. E muito bem. Eu o vi encher-se de comoção, aquele homem que deve ter tido dezenas de mulheres. E, naquele instante, passou a me acompanhar, batendo ele mesmo em algumas portas e fazendo-me entrar”.

A caminhada foi longa. “Entrei em muitos barracos. Na maioria moravam mulheres e crianças. No fim, fui embora prometendo que voltaria com o presente que eles – sabendo que eu era italiano – me pediram muito: um panetone”. E voltaria junto com padre Ignazio. “Porque a unidade entre nós é o testemunho mais bonito que podemos oferecer”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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