Durante as férias,
a construção da grande catedral
“Hoje eu acompanhei Catalina, uma amiga chilena, e como é cega eu pensei em ajudá-la segurando-a pelo braço. Mas ela me disse: ‘Assim não; eu caminho bem, o que eu preciso é segurar no seu braço, e não você no meu’. Essa é a experiência cristã: há uma pessoa para ser seguida, e esse seguimento é uma decisão de todos os dias”. Assim começou padre Julián de la Morena, responsável da Fraternidade de CL na América Latina, nessa manhã das férias para jovens adultos e famílias em Bariloche, na Patagônia argentina aos pés da Cordilheira dos Andes, de 9 a 14 de janeiro. Participam das férias 450 pessoas provenientes da Argentina, do Brasil e do Chile, uma família venezuelana e dois amigos dos EUA.
Durante a assembleia, as colocações confirmaram que a experiência destes dias marcou um novo início na vida de muitos que, por temperamento ou história, são tão diferentes entre si. “E nesta proximidade de opostos e semelhantes vê-se o caminho de cada um”, diz Luís, um advogado que encontrou o Movimento em 2010 ao receber um panfleto sobre o terremoto no Haiti na saída da missa, no centro de Buenos Aires. Ao levar seu testemunho, lembrou que para ele o fato decisivo foi ter encontrado pessoas mudadas, que com a própria vida ensinam que “em um mundo no qual tudo parece estar perdido, é possível ser diferentes quando Cristo deixa de ser para mim uma afirmação política para se tornar amor concreto, aquilo que dá significado à vida”.
Na Catedral ocorreram outros dois momentos especiais dessas férias: a missa de encerramento presidida pelo Bispo, Dom Ferdinando Maletti; e o concerto de órgão executado por Sebastián, um musicista argentino que há cinco anos mora em Rochester (EUA), onde é responsável pela música na paróquia de padre Jerry. Apresentando o concerto, afirmou: “Do ponto de vista físico são frequencias de vibração, mas o que a música suscita é superior a tudo o que podemos explicar sobre ela. (...) Todo o trabalho, por mais desagradável que seja, tem a tarefa de gerar beleza, porque trabalhar significa mover-se para construir um mundo melhor, e isso não é possível sem a beleza”.
Padre Jerry deu seu testemunho sobre como “é possível nascer de novo sendo velho”. Contou que tinha 51 anos de idade, e 26 anos de missa, quando conheceu um médico italiano do Movimento. Ficou provocado por ele e decidiu que queria conhecer aquele Cristo que o seu amigo conhecia. Hoje declara que na sua vida percebe o abraço de Cristo que o abre a um novo modo de se relacionar com as pessoas e o impede de se transformar em um “profissional da religião”.
Durante os cinco dias de férias alternaram-se jogos e passeios, gestos simples que tinham o objetivo de ser ocasião para viver a experiência do décimo leproso do relato evangélico, o único dos dez curados que sentiu necessidade de Cristo e que voltou para buscá-Lo. Não lhe bastou a cura, e compreendeu que o maior milagre era a presença de alguém que o amava, e decidiu procurar este Alguém para sempre. “A Igreja nasceu para podermos fazer a experiência do décimo leproso. O ideal é suplicar para ter amigos como o décimo leproso: homens que em qualquer circunstância façam memória d’Ele”, nos disse padre Julián.
Agora que cada um voltou para a própria cidade, não vemos mais as altas montanhas que nos rodeavam como um grande abraço do Mistério. Para enfrentar o trabalho de cada dia, a certeza funda-se em uma rocha, que nenhum terremoto pode destruir, e sobre o “braço” do rosto amigo que salva do ceticismo. E oferece uma amizade que se coloca sob a proteção da Virgem Maria, um “jardim que é o final de todo amor”, como canta Eliot na Quarta-feira de cinzas. Uma versão teatral dessa obra e dos Coros de “A rocha” foi apresentada nestas férias, nas quais tentamos viver cada detalhe na memória d’Ele, o Mistério feito carne do qual o homem necessita a cada dia para gozar a alegria de viver e de participar da construção da grande catedral.
(María Zatti)
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