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Passos N.125, Abril 2011

Vida de CL / Salvador

Está acontecendo AGORA

por Milena Nunes

Jovens que, num jogo, intuem a decisão que devem tomar a cada dia: “aderir à realidade como ela se apresenta”. E que depois de três dias juntos, seguindo e aderindo, desejam continuar a levar a sério a sua humanidade. Breve relato das férias em Salvador, que ajudaram a descobrir “a surpresa de Cristo”

De 4 a 6 de fevereiro realizamos as férias regionais em Salvador, da qual participaram 75 pessoas, entre universitários e jovens trabalhadores. Além dos amigos de Salvador, estavam presentes pessoas das comunidades de Aracaju, Brasília e Itabuna. O tema para o diálogo destes dias foi: “De tudo o que nos fascina, existe algo que dure realmente?”
Fui convidada a guiar as férias e, de início, eu disse sim, mas acrescentei para quem me fez a proposta: “Eu só tenho uma coisa a dizer para vocês: são todos loucos”. Eu nunca tinha guiado férias até aquele momento, então tudo parecia loucura; mas em uma das reuniões da preparação do gesto, fui ajudada a entender que aquilo que era proposto para quem guia era proposto também para todos, e o trabalho a ser feito era se comparar com aquilo que Carrón está propondo. Ali, entendi que o meu sim não era mais um sim louco, pois entendi que guiar as férias não significava responder as expectativas dos outros. Guiar era um sacrifício a ser vivido! E entendendo isso me perguntei: “Milena, você topa viver esse sacrifício?”. Lembrando-me de uma coisa que tinha escutado na Escola de Comunidade, me perguntei novamente: “Você topa compartilhar da cruz de Cristo?”. E, de fato, tudo aquilo que eu vi acontecer nas férias foi além das minhas expectativas, foi além da minha capacidade organizativa, foi além da “possível e razoável” resposta às expectativas dos outros, pois foi um Tu que dominou tudo.
O primeiro acontecimento que me marcou foi o fato de termos ficado num lugar belíssimo, muito perto da praia, e ter visto a forma impressionante como as pessoas aderiam àquilo que era proposto, não se distraindo com outras coisas. Foi bonito ver o movimento de todos para responder a tudo. Na primeira noite, por exemplo, fizemos uma brincadeira para definir os grupos daqueles dias, e sobre isso a Ana Letícia nos contou: “Eu vim às férias com uma amiga e conhecia outras poucas pessoas. Na divisão dos grupos, eu fiquei longe delas e apareceu uma pessoa me oferecendo uma fitinha verde para que eu mudasse de grupo. Mas, eu decidi permanecer no grupo que estava porque a realidade também é assim, nem sempre eu tenho a possibilidade de escolher, mas posso aderir àquilo que a realidade me dá. E foi na brincadeira que eu descobri a coerência da vida”.
Pude escutar tantos outros testemunhos belos. Na assembleia que fizemos, que durou mais de uma hora, não teve um momento em que se tenha estabelecido ou predominado o silêncio. Eram testemunhos atrás de testemunhos, nenhuma pergunta, só fatos e experiências daqueles dias.
Diante disso cheguei à conclusão de que realmente não era o meu esforço, nem o esforço do pessoal da organização, era um Tu que dominava. Assim, pude responder à pergunta das férias dizendo que aquilo que dura é a possibilidade de ser surpreendida sempre por Cristo; independente do tempo que tenho de movimento, a maravilha inicial volta sempre a acontecer. Hoje, posso verificar os fatos que continuam acontecendo depois desse encontro. Emanuela, de Aracaju, contou que no início das férias teve a impressão de que tudo era repetição do que já conhecia, mas aos poucos foi percebendo a novidade: “Cristo surpreendeu-me outras vezes durante aquele final de semana. O depoimento de Camilo, que já tinha ouvido quando entrei no Movimento, me emocionou como se eu tivesse ouvido pela primeira vez. A observação das estrelas, algo que já fazia de vez em quando, mas nunca tentando descobrir constelações (e de uma forma tão descontraída). Os depoimentos no domingo de manhã, em que cada um tinha encontrado Cristo de uma forma diferente, com uma emoção diferente, durante aquele final de semana. A conversa com Arlete e as meninas dos colegiais, que me transmitiam uma alegria e uma sinceridade rara para meninas daquela idade e, até mesmo o final da gincana, na qual todos nós cantamos e pulamos ao som do axé. Não tinha como não perceber que Cristo estava ali, presente, mostrando-me tanta coisa para aprender! De repente, aquele final de semana, que me parecia repleto de coisas óbvias, tornou-se curto demais para tantas descobertas. Voltei para casa com o desejo de reencontrar Cristo, novamente, nos meus estudos, no meu trabalho, nas minhas relações com família e amigos, como da primeira vez. Sei que preciso trabalhar para não me deixar cansar da rotina ou pensando ‘está bom assim, não preciso de mais nada’. Parto da certeza de que Ele está comigo, prestes a me doar uma nova experiência, sempre querendo reacender em mim o desejo do Infinito!”.
Amana, que participou pela primeira vez das férias, voltou maravilhada: “As férias foram, para mim, um momento de descoberta e reconhecimento de que estou no lugar certo. No início das férias, parei para pensar: ‘O que estou fazendo aqui? Como será que eles vão me receber?’. Porém, com o passar do tempo percebi o quão era importante a minha presença naquele lugar. É incrível como nos identificamos com os testemunhos e vemos que Cristo está conosco em qualquer circunstância, seja rezando ou participando de brincadeiras. O meu coração dispara ao saber que essa amizade é essencial para que eu escute meu coração e continue nessa busca que encontrei. Eu fazia uma outra experiência religiosa, mas encontrando vocês, o meu coração vibra, eu fico feliz, não sei porquê. Mas a única coisa que eu sei dizer é que meu coração fica feliz quando eu estou com vocês. Eu quero dar meu sim definitivo e buscar aquilo que vocês buscam”.
E Ronald também testemunhou sua experiência: “O que me marcou foi a afirmação de que se uma coisa é verdadeira dura para sempre. Antigamente, quando estas coisas bonitas aconteciam e terminavam, eu ligava para a Paola irritado: e agora? E eu me perguntei um tempo atrás: mas se a amizade com as meninas de Ribeirão terminasse, se a Paola for embora da Bahia, o que eu vou fazer? O Movimento é verdade ou mentira? Para mim, agora, o Movimento não são somente os momentos bonitos que vivemos juntos, mas é a minha vida de verdade, lá em casa, no trabalho, onde eu estou sou eu mesmo, o mesmo Ronald. Eu agora vou fazer somente aquilo que meu coração pede. O que vivi nas férias não vai se apagar porque é uma coisa que tem a ver com o meu desejo de Infinito”.
Algumas semanas depois da viagem, Bracco (responsável nacional do Movimento) esteve em Salvador e ouvindo o relato dos jovens, deixou uma provocação a todos: “Aquilo que aconteceu com vocês é o mesmo que aconteceu com os Apóstolos. Se estamos aqui hoje é por causa daqueles 12 amigos de Cristo. Eles viveram coisas excepcionais não somente num final de semana, mas por três anos. É um grande presente o que aconteceu com vocês. (...) Tem um momento na vida em que acontece uma coisa tão diferente que eu devo decidir se as coisas ficam como antes, ou se tudo muda. Eu estou estudando porquê? Sem Cristo, o que vai ser de mim? Eu encontrei alguém que me fala que tudo aquilo que eu faço tem um valor infinito. Por que uma coisa é verdadeira? Porque corresponde, abre tanto o meu coração, inunda o meu coração de uma forma que eu nunca vou esquecer. João e André tiveram o coração tão grande que fizeram o quê? Não ficaram parados pensando. No dia seguinte foram lá de novo, foram procurar Cristo de novo. A vida não é somente brincadeira, a vida bate, mas nós temos a companhia de homens que nos mostram que a vida, toda, é uma aventura. Não tira os problemas, as dificuldades da vida, mas dentro disso, dentro das coisas da vida, é uma companhia que lhe deixa um fundo de alegria no coração. Agora, pessoal, depende de vocês decidir se encontraram algo tão verdadeiro, que muda toda a vida, ou não”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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