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Passos N.125, Abril 2011

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Acontece

Brasília (DF)

Adélia Prado é uma das grandes escritoras da literatura brasileira e o material da sua criação poética encontra-se na vivência do cotidiano que por atrás da aparente simplicidade revela com profundidade o íntimo do ser e das coisas. Assim cada verso da poesia adeliana expressa desejo, pergunta, alegria, tristeza, esperança, amor, súplica e beleza diante da realidade que constitui a aventura do viver de cada homem e mulher.
Logo, nos identificamos com os anseios e questionamentos contidos na poesia de Adélia Prado, ou seja, nos reconhecemos na mesma trilha que busca responder as exigências de verdade, justiça, bondade, felicidade. Foi desse reconhecimento encontrado na leitura das poesias da escritora mineira que um grupo de amigos de Brasília realizou, no último dia 12 de fevereiro, um sarau intitulado Um encontro marcado com Adélia Prado. Durante duas semanas convivemos intensamente com a poesia fascinante de Adélia, que nos moveu não somente para realizar um belo espetáculo, mas para nos olhar e experimentar o verdadeiro valor da nossa amizade, por meio de pequenos milagres e gestos que tornaram esse momento uma manifestação da beleza e da unidade entre nós.
O sarau aconteceu na garagem da casa da nossa amiga Camila que foi enfeitada com tecidos de chita, juntamente com cartazes que continham frases da Adélia. Para essa noite de beleza, recebemos uma plateia com cinquenta pessoas que, primeiramente, assistiram trechos do vídeo de uma entrevista que o jornalista Edney Silvestre fez com Adélia Prado. Depois, o público pôde apreciar uma apresentação dividida em três atos representando fases distintas da escritora Adélia Prado, sendo elas respectivamente: o início da carreira literária, a fase madura da escrita poética e, por fim, um deserto literário que durou cinco anos. Em cada ato havia versos marcantes, que eram alternados com músicas do nosso cancioneiro popular, como os da poesia Desenredo: “E no entanto, é tudo tão pequeno / Para o desejo do meu coração / o mar é uma gota”. Depois, o noivo e a noiva em O casamento: “Há mulheres que dizem: / meu marido, se quiser pescar, que pesque, / mas que limpe os peixes. / Eu não, a qualquer hora da noite me levanto / ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar”. Ou ainda, o desejo de olhar Jonathan na Terceira via: “Quero você na minha frente, extático / Francisco e Serafim abrasados / e eu para todo sempre / olhando, olhando, olhando...”. Por fim, a missão da escrita em Sem saída: “Escreve para se dizer / Sou mais que meu pobre corpo. / Os óculos do escritor o atestam, / Lentes que para dentro olham, / Sua foto contra a estante, / Sempre flagrada a meio desalinho”.
Ao encerrar cada ato, eram oferecidos à plateia quitutes da culinária mineira, como pão de queijo e goiabada com queijo, ressaltando a mineiridade que permeia a poesia adeliana. Por fim, convidamos o público a unir as suas vozes com as nossas para cantarmos a música Maria, Maria de Milton Nascimento e Fernando Brant como síntese da Adélia mulher, mãe, esposa, amiga, professora, intelectual e poeta que nos atinge pelo poder da palavra simples, mas carregada de significado humano, através do desejo e da abertura ao infinito mistério da vida.

Fabíula Martins

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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