Jovens de todo o País se mobilizam, enfrentando todos os sacrifícios da viagem para passar três dias juntos. Um momento para se ajudarem a olhar os fatos. Até chegar ao ponto central: reconhecer a contemporaneidade de Cristo
“E vós, quem dizeis que eu sou?”, pergunta Jesus de Na-zaré aos apóstolos no trecho evangélico identificado com a profissão de fé de Pedro. Foi esta também a pergunta que padre Carrón dirigiu aos universitários e jovens trabalhadores nos Exercícios espirituais realizados em dezembro último na Itália, e repetidas por padre Ignácio entre os dias 9 e 11 de abril de 2011 para os jovens brasileiros reunidos em Mariápolis Ginetta, Vargem Grande Paulista.
No Brasil, o encontro reuniu 120 pessoas de diferentes cidades e Estados do país. As palestras foram feitas pelo padre Ignácio, da comunidade de Salvador que aceitou o desafio de guiar os Exercícios na companhia de Alexandre Ferrari, da comunidade de São Paulo.
Na sexta-feira as pessoas iam chegando aos poucos em carros e vans e podiam assim encontrar estes amigos que a maioria vê apenas umas poucas vezes ao ano. O sentimento de familiaridade, apesar disso, era muito grande e justificava o modo como padre Ignácio definiu nossa companhia ao longo dos Exercícios: uma família.
Ainda na sexta-feira ocorreu a abertura do encontro na qual a pergunta “E vós, quem dizeis que eu sou?” foi apresentada. Cada um foi convidado a estar diante do gesto como se fosse “a primeira, única e última vez” que encontraria Jesus Cristo, não apenas um chamado de atenção urgente, para que todos pudessem estar ali inteiros, abertos, desejosos e capazes de aderir não a uma teoria, mas à presença – contemporânea – do Cristo, mas também uma indicação de método para o cotidiano, condição para uma vida nova ou para a “Vida”, tal qual testemunhada por tantos de nós.
A falta do humano. Na primeira palestra, sábado de manhã, padre Ignácio apresentou, com grande didatismo, o percurso que padre Carrón propôs aos jovens trabalhadores e universitários. Uma tomada de consciência da raiz histórica e contextual de certa dificuldade em vivermos na graça da excepcionalidade do fato cristão – de viver uma vida que seja Vida – e a possibilidade de libertar-se de uma vida determinada pelos próprios limites em favor de uma vida que é maravilhamento.
O momento histórico atual nos sugere que “não se pode conhecer nem encontrar a verdade da própria vida e para o grande anseio, para o irredutível desejo do coração humano não pode haver uma resposta”. O homem contemporâneo está diante da satisfação dos próprios impulsos e sensações como único caminho a fazer com que a vida valha a pena e está igualmente submetido aos sentimentos para lograr qualquer coisa. A consequência deste modo de ver a vida – conforme ressaltou Carrón – foi apontado por Dom Giussani há mais de vinte anos e no último ano foi até mesmo diagnosticado por um instituto de pesquisas socioeconômicas italiano (Censis); “temos menos vontade de construir, de crescer, de buscar a felicidade, e a isso se atribuiria a responsabilidade das ‘evidentes manifestações de fragilidade, quer pessoais, quer da massa, comportamentos e atitudes (...) condenados ao presente sem profundidade de memória e de futuro’”. Num momento histórico em que se fala em epidemias de depressão vemo-nos, portanto, diante da falta de desejo, de interesse pela vida, pelo crescimento pessoal. Vemo-nos diante de um relativismo que afirma a impossibilidade de relacionar-se com a verdade. O triunfo do estado de ânimo sobre nosso desejo, sobre o “eu profundo”.
Eis que o desafio de nosso tempo para nós é uma oportunidade, pois o coração do homem, sua natureza, sua real dimensão, adquire Vida no encontro com Cristo. Padre Ignácio anuncia que não estamos determinados por este período histórico, mas pelo amor de Cristo que vivemos e verificamos em fatos concretos. A fé é o modo como nos aprofundamos nesta realidade que nos despertou e que nos faz viver sempre mais despertos e conscientes. Mais nós mesmos.
Responder à pergunta feita por Cristo nos ajuda a viver sustentados não por sentimentos e estados de ânimo, mas por um juízo sobre o real alcance da Presença que veio compartilhar a vida conosco. Conforme responde um universitário a Carrón: “Tu, que vencendo toda minha infidelidade e imoralidade Te ofereces como possibilidade cotidiana de plenitude de vida, Tu, que me habilitas a esta experiência humana única, és o Cristo, o Filho de Deus”.
Diante de uma presença. A assembleia durante os Exercícios foi surpreendente. Muitos jovens ainda estavam marcados pelo acampamento de carnaval em Petrópolis e contaram o que aquele trabalho gerou neles nos meses seguintes. Mesmo sem ser o tema principal dos Exercícios, o tema do dualismo apareceu de modo muito claro. De um lado identificou-se o problema e, do outro, revelou-se o grande desejo de unidade.
No final desses dias, todos foram provocados a seguir o que Carrón afirmava no texto de trabalho: “Todos nos mobilizamos porque João e André se mobilizaram, e assim o cristianismo chegou até nós. Portanto o método é o mesmo: como todos nós nos mobilizamos por causa daqueles dois, outros se mobilizarão se nós nos mobilizamos. Não é um outro método, não é uma outra lógica. Responder a esta graça, a este dom: isso é o bem do mundo. Todos nós temos a constatação de muitos fatos que constituem este bem do mundo”.
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