“POR QUEM VOCÊ FAZ ISSO?”
O turno, naquele dia, começou com uma boa notícia. Uma família renunciou à cesta básica do Banco de Solidariedade porque sua situação melhorou. Stefano pegou a relação das pessoas na fila de espera. “Infelizmente, todos os dias a lista cresce”, pensava consigo mesmo. Era preciso decidir quem escolher. Falou sobre isso com os outros voluntários e, juntos, escolheram um novo destinatário. “Bom dia, eu sou Stefano, do Banco de Solidariedade. Há algum tempo o senhor pediu ajuda. Quero dizer que a partir deste mês o senhor receberá uma cesta básica...”.
O homem do outro lado da linha quase não o deixou terminar a frase: “Certo, a essa hora se eu tivesse esperado por vocês...” Stefano acha que não entendeu direito: “Desculpe, o que disse?”. “Se eu ficasse esperando por vocês, já teria morrido”. A mensagem é muito clara. Stefano fica chocado: “Olha, nós não somos uma entidade assistencial, somos voluntários que fazem aquilo que podem. No entanto, se o senhor coloca as coisas nesses termos... Talvez agora não precise mais?”. “Não, não. Preciso”. “Ok. Será entregue ao senhor a partir deste sábado. Bom dia”. Stefano desliga o telefone. “Mas, quem ele pensa que é? Eu devia ligar para ele outra vez e dizer que levaremos a cesta para outra pessoa...”.
Procura não pensar nisso. Mas aos poucos um estranho incômodo substitui a raiva. Alguma coisa não está certa, e não é só o ar arrogante, a pretensão daquela pessoa tão irritada. “Cristo é a resposta às nossas necessidades. Precisamos nos educar a isso”, disse-lhe um amigo. Essa frase é uma grande provocação. Ele, que queria se fazer de juiz, estabelecer méritos e necessidades... No fim, abre-se uma pergunta: “Por que levo as cestas? Por Quem?”. A única resposta é que é somente para mendigá-Lo. Aquele telefonema deixou de ser fonte de raiva.
Poucos dias depois, um amigo estava sozinho para entregar as cestas. Era a primeira vez que ele fazia isso. Stefano não teve dúvidas: “Vou com você. Para quem você vai levar?”. “Para uma família nova. A mãe se chama Martina e tem seis filhos”. “Ok”. Quando chegam ao portão, tocam o interfone. Ninguém responde. Tentam outra vez: nada. Talvez ele esteja quebrado ou a pessoa não esteja ouvindo. Tentam no celular. Nenhuma resposta. Enquanto pensam no que fazer, uma pessoa se aproxima. O amigo pergunta: “Desculpa, aqui mora uma senhora chamada Martina, que tem seis filhos?”. “Sim, se vocês quiserem, eu abro o portão. Olha, aquele rapaz que está na sacada é um dos filhos”. Stefano ergue os olhos e diz: “Somos do Banco de Solidariedade. Vamos subir”. O rapaz os espera na porta. Pega a cesta sem dizer uma palavra. Está para entrar em casa quando Stefano o para. Em uma fração de segundo aquele telefonema passa por sua mente, o incômodo que experimentou, e aquela pergunta: “Por quem você faz isso?”. “Não posso ir embora dessa maneira”. E, então, pergunta: “Você é filho da dona Martina?”. O rapaz se volta: “Sim”. “Como você se chama?”. “Michael”. “Oi, Michael”. “Oi”.
A porta se fecha. Duas palavras, apenas um cumprimento e nenhum agradecimento. No entanto, Stefano está contente. Ele se chama Michael. “Mas é o nome de um Outro”.
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