Cibele não chegou a tempo de assistir a todo o encontro, mas logo entendeu que era “o que eu esperava”. A apresentação de "O senso religioso", em Salvador. Uma novidade proposta a todos
“Nunca ouvi ninguém falar desse jeito. A impressão que eu tenho é que esperei muito tempo para ouvir essas coisas. E agora eu quero mais”. Roberta se comove ao repetir a frase que ouviu da amiga Cibele na noite chuvosa de 29 de abril, logo após assistirem à apresentação do livro O senso religioso, de Luigi Giussani, na Academia Baiana de Letras, em Salvador. Cibele foi uma dentre as quase 200 pessoas que encheram o auditório nobre da Academia, após enfrentarem o trânsito caótico de uma sexta-feira. Mas isso não foi obstáculo para o desejo de cada um e as pessoas chegaram de todos os cantos da cidade para ouvir Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA); o Deputado João Carlos Bacelar, atual Secretário de Educação do Município de Salvador; e Marco Montrasi (Bracco), responsável nacional de Comunhão e Libertação.
No início da apresentação, três cantos brasileiros para ajudar a entrar na proposta do evento. Voz, violão e flauta recepcionaram o público. Dom João Carlos foi o primeiro a falar. “Esta é uma circunstância muito especial, pois diferentemente do que acontece na maior parte das vezes que nos reunimos, em que discutimos sobre coisas fora de nós como violência ou economia, nesta noite o convite é para refletir sobre a nossa própria humanidade, sobre aquela inquietação que caracteriza a humanidade, que nos leva a buscar a satisfação, a felicidade, a realização da própria vida”. O Bispo de Camaçari contou sobre as perguntas que o angustiavam na adolescência e de como o encontro com CL o ajudou a encontrar o caminho para uma resposta adequada na pessoa de Jesus Cristo, “presença viva que chega a mim através do testemunho de pessoas vivas, hoje”.
Proposta atemporal. O Secretário de Educação, Dr. Bacelar, demonstrava toda a sua alegria em participar do evento e expressou sua gratidão à amizade que se iniciou com Dom Guido e agora conta também com outros rostos ali presentes. Logo no início de sua colocação sublinhou a importância de Dom Giussani para o campo da educação. “É evidente que a proposta de Dom Giussani encontra ressonância na educação. Não basta a formação técnica para depois ocupar uma vaga no mercado de trabalho. Essa obra que hoje apresentamos nasce de um conjunto de reflexões de um mestre com seus alunos. Nasce dessa urgência educativa que está presente em todo o livro. (...) A mudança começa na pessoa e não na estrutura”. Desafio que ele assume para si: “No momento em que assistimos a redução da educação a técnica, e que assistimos a própria banalização da vida e da violência, tal proposta nos enche de esperança, nos convoca e nos interroga”.
Por último, Bracco contou sobre a experiência que fez ao se deparar com a experiência do homem Giussani: “A minha percepção escutando-o ou lendo-o foi sempre aquela de uma grande aventura proposta à minha vida”. Na colocação de Bracco percebia-se toda a vibração de um homeme que foi cativado por Cristo. Ele desenvolveu sua fala nas três grandes descobertas que fez: o que é a razão como abertura; o senso de infinito e a desproporção original; o encontro com Cristo que esclarece o senso religioso, historicamente relatado no exemplo do abraço do Apóstolo André à sua esposa: “Era ele, mas era mais ele, estava diferente”. Para Otoney, atual responsável de CL na comunidade de Salvador, a colocação de Bracco foi revolucionária. Algo que o deixou alguns dias em silêncio, como diante de um grande Mistério, até poder nos enviar essas palavras, que exemplificam bem o que aconteceu naquela noite: “Eu faço Escola de Comunidade há uns 17 anos. É possivelmente a atividade a qual fui mais fiel em toda a minha vida. O convite de Carrón para fazer Escola de Comunidade sobre O senso religioso a partir da fé me tocou muito, eu me propus a reaprender tudo. O fruto mais interessante deste trabalho foi perceber como na ação eu mudo o método, isto é, apesar de todo o desejo, de todo o esforço, no confronto com a realidade prevalece uma forma velha de estar diante do real, na qual a razão como medida de tudo insiste em dar o tom. A experiência não é de uma libertação plena, no máximo de uma posição mais inteligente, mas que deixa sempre um gosto amargo na boca. Não é isso que Carrón vive e me convida a viver. Eu desejo mais, não pode ser só isso. Vendo o testemunho de Bracco em Salvador, eu pude entender em ato o caminho que Carrón está nos convidando a fazer. A forma como ele se colocou não era uma explicação do texto, era um diálogo de um eu com a experiência de Dom Giussani. Sei que não é um problema de maior inteligência, é um problema de posição diante do Mistério, mais concretamente de posição diante da pessoa do Carrón, de seriedade diante da sua companhia e da sua amizade, não de subserviência, mas de aceitar o método que o Mistério escolheu para me educar, que consiste em uma comparação infatigável e dócil com as provocações que nascem do olhar do Carrón frente a realidade, aceitar que esta é a fonte viva do carisma”.
Uma vida plena. Uma novidade ao alcance de todos. Basta o verdadeiro empenho com a própria humanidade. E, naquela noite, o encontro foi encerrado com a mensagem de Carrón aos colegiais na Itália, como ponto de partida para esse caminho: “Sentir urgir dentro de si as exigências de felicidade, de beleza, de justiça, de amor, de verdade, senti-las vibrar, fervilhar em cada fibra do nosso ser é inevitável, a menos que a pessoa seja de pedra. Levá-las a sério é uma decisão, a maior decisão da vida. Com consequências imprevisíveis. Só para audazes. Só para pessoas vivas, livres, capazes de se amar de verdade. Encontrar companheiros ao destino assim é uma graça. Que não tenham medo de crescer, de ser adultos. Aliás, que não se contentem com nada menos”.
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