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Passos N.127, Junho 2011

VIDA DE CL - O Cartaz de Páscoa

O papel e a carne

por Paola Ronconi

É possível que um pôster, em vez de virar algo pendurado na parede, suscite encontros e reações imprevisíveis? Sim, quando se torna vida e não meras “palavras para uso interno”. Foi a experiência de Giulia, Monica, Giacomo...

Faltavam poucos dias para a chegada da Páscoa. Cristina estava trabalhando em seu salão de beleza. Chega um papel enrolado. Ela o abre, é a reprodução de um quadro de arte sacra. Na lateral, duas frases. Junto com o pôster está um bilhete: “Este cartaz é, para nós, a possibilidade de lembrar sempre aquilo que temos de mais caro na vida: Cristo, a única Certeza, a única Esperança. Desejamos a você e sua família uma Santa Páscoa. Monica e família”. Cristina vai para casa e desenrola novamente aquele Cartaz. Relê as frases e o bilhete. Na manhã seguinte, telefona para Monica: “Pensei em você a noite inteira. Cristo é mais caro a você do que seus filhos e seu marido? Sei quanto você considera sua família, vejo isso todas as vezes que você fala deles e não entendo”. Monica responde: “É exatamente isso. É uma evidência quando você olha para seu marido, todas as vezes que está com seus filhos: Ele está ali na mesa com você”. Cristina responde: “Eu não entendo, mas não posso deixar de acreditar em você. Se aquilo que está escrito é verdade para você, quero que também seja para mim”. Alguns dias depois, Monica passa no salão de Cristina. Quer se despedir e dizer que vai passar dois dias em Rimini. “Olhe ali”. Entre fotos de cortes de cabelo e penteados, está o Cartaz. “Assim, as clientes podem vê-lo bem. E eu, enquanto passo o secador, sempre o tenho diante dos olhos, no espelho”.
Foi assim que as palavras de Julián Carrón, em uma Escola de Comunidade recente, se tornaram carne: “O Cartaz não é uma palavra para uso interno; é, ao mesmo tempo, o juízo sobre nós e sobre o mundo. Não temos nada mais adequado para dizer, para oferecer a nós mesmos e aos nossos amigos do que o Cartaz, com seu conteúdo”.

Panfletos e assembleias. Em muitas universidades italianas, os jovens convidaram os colegas de estudo para várias assembleias, distribuindo o Cartaz em formato reduzido, como um panfleto. Resultado? Muitos pequenos grandes episódios, cheios de uma riqueza imprevisível.
Por exemplo, Gabriel: ele recebe o panfleto fora da universidade de Bari. E aceita o convite para a assembleia. Encontra-se entre pessoas com quem cruzou muitas vezes nos corredores da faculdade. “Por que vocês dizem que tem a ver com Cristo?”, questiona. Bela pergunta! As colocações se sucedem na tentativa de dar uma resposta. “Há algum tempo, eu usava drogas leves”, conta uma moça. “Depois, aqui na universidade, encontrei pessoas do Movimento”. Aquela amizade é diferente. Há um fator novo que faz com que ela se sinta amada. Decide parar com o fumo. Assim, quando ajuda um velho amigo a passar em um exame e ele quer agradecer oferecendo um pouco da “coisa”, ela lhe diz: “Olha, nestes meses eu descobri o que quer dizer amar-me de verdade. E aquilo que você está me propondo é algo menor. Não uso mais isso”. Poderia ter agradecido, aceitado e depois que dobrasse a esquina, jogar fora a “doação”. “Mas a lealdade com aquilo que vivo era uma urgência para mim”. Naquele encontro imprevisível, naquela mudança, existe ou não a resposta para Gabriel?
Outra região, outro episódio. Francesco bate na porta da administração da universidade de Cosenza. Atrás da escrivaninha está sua amiga Silvia. “Oi. Vim lhe dar este panfleto. Boa Páscoa”. Silvia imediatamente o lê, na frente dele. E diz: “Entendi bem a importância desse ‘agora’ de que fala Dom Giussani quando comecei a me tratar da minha doença”. Silvia correu risco de vida por causa de um tumor. “Entendi o que queria dizer que há Alguém que nos dá tudo agora e quanto é importante o instante presente”. O panfleto acaba colado na parede. Francesco se despede, desce as escadas. Quantas vezes ouviu pessoas do Movimento dizerem que as palavras do Movimento são difíceis. Silvia nunca tinha lido Dom Giussani, mas aquelas palavras correspondiam à sua experiência.
Na assembleia da Universidade Estadual de Milão, Giacomo diz: “Era crente. Depois, fui a Medjugorje. As pessoas que estavam ao meu lado percebiam a presença do Mistério. Eu, não. Esperava que o milagre acontecesse na igreja, mas nada. Saí e comecei a chorar. Desde então, começou o meu ceticismo. Onde está este Jesus que eu não vejo? Eu ainda estou esperando. E se Deus nos criou à sua imagem, porque não é suficiente aquilo que sou, com a minha razão, para reconhecê-lo? Por que é preciso a fé?”. É um soco no estômago para todos. Entre as muitas colocações, está a de Stefano: “Se você decidiu vir até aqui é porque algo aqui lhe interessa. E eu digo: aquilo que lhe interessa existe. Está presente. Venha comigo aos Exercícios e veja”.

Na porta de casa. Maria é de Turim, mas estuda em Lugano (Suíça). Na noite em que chegaram os cartazes na Escola de Comunidade dos universitários, ela pegou alguns: logo pregou um fora da porta do apartamento. No dia seguinte o porteiro do condomínio lhe telefonou: “Os outros inquilinos estão perguntando por que você precisa expor a sua fé dessa maneira. Os proprietários do edifício também são católicos, mas, em suma, não é uma coisa normal”. Ela responde: “Sou cristã católica, se tirasse isso da minha vida e da minha casa não estaria aqui e não seria aquilo que sou!”. Na segunda-feira, atravessando o portão do condomínio, viu pendurado no mural um ramo de oliveira e uma cartolina com uma cruz e uma oração.

Em qualquer circunstância. E se o Cartaz fosse levado para o trabalho? Giulia, 28 anos, trabalha com organização de eventos. Depois de um pouco de hesitação, decidiu dá-lo para a sua chefe. Ela começa a chorar. Giulia entende que para a colega é um momento difícil: o namorado está se distanciando, a trata mal. Conversam. Nos dias seguintes a chefe tira férias. Quando volta, traz chocolates para Giulia: “Queria agradecer. Eu li o Cartaz. Era exatamente o que eu precisava. É o agora que me interessa”. Em qualquer circunstância.
Giulia, Claudio e muitos outros, no sábado, dia 16 de abril, panfletaram nos jardins da Rua Palestro, em Milão. Atrás deles, havia um Cartaz gigante de 3 metros por 2. Encontraram muitas pessoas. E muitas foram as reações. Terminada a panfletagem, Francesca, obstetra, foi trabalhar no plantão noturno do hospital e chega Emilia, no final da gravidez, com uma forte hemorragia. Flora, a menina desejada nesses anos de matrimônio, morre enforcada pelo cordão umbilical. “Não, Senhor”, repete Francesca para si, que poucas semanas antes, viveu a mesma experiência com seu sobrinho. Olhando os olhos daquela mãe, teve um pensamento: “Por que, meu Deus, eu tinha que estar de plantão hoje? É como Jesus na cruz: ‘Meu Deus, por que me abandonaste?’, mas logo depois: ‘Em tuas mãos entrego meu espírito’”. Naquele momento, Emilia fez um pedido: “Francesca, não me abandone”. Foi o início de uma amizade para ambas, feita de partilha, visitas mútuas, compaixão. Na Sexta-feira Santa, Emilia enviou uma mensagem: “Se os nossos dramas familiares não tivessem silenciosamente se cruzado, hoje a Cruz seria ainda mais insuportável. Agradeço pelo nosso encontro. Não vivemos todos os anos a Semana Santa e a Paixão na nossa carne como agora, então nos lembraremos dessa profunda comunhão de hoje com Jesus”.

Graziano e Nicola. “Na metade dos anos noventa, conheci Graziano no trabalho”, conta Nicola, de Pádua. “Uma amizade como muitas: alguns telefonemas por ano, pelos aniversários”. Depois, Graziano desapareceu, e era difícil encontrá-lo. Nicola fica sabendo por um amigo comum que ele está doente; tem Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). “Consegui entrar em contato com ele, nos reencontramos em julho de 2010 e ele me contou do calvário iniciado há um ano e meio, dentro e fora do hospital. Alguns meses depois, em outubro, a situação piorou e ele precisou ser operado: traqueostomia e sonda gástrica. Fui visitá-lo e não pude deixar de lhe dizer: “Fisicamente você está mal, mas você está com dois olhos estupendos que nunca vi antes”. Conversamos, e ele me disse: “Antes, aparentemente eu era uma pessoa livre que fazia tudo sozinha, mas era um vegetal. Agora, sou aparentemente um vegetal, mas voltei a viver. Sem esta doença, não teria entendido o que é a vida”. Fiquei sem palavras. Continuamos a nos encontrar. Levei Passos para ele e, na Páscoa, o Cartaz”. Alguns dias depois, recebi uma mensagem de Graziano: “A existência de cada indivíduo é parte de um projeto desconhecido por todos, mas que infunde muita esperança em quem observa a paixão de Cristo e tende à sua ressurreição”. Na Sexta-feira Santa participaram da Via Sacra juntos. Foi a primeira vez que saiu de casa desde julho do ano passado.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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