O neuropsiquiatra italiano Eugenio Borgna, que vai encerrar a semana de Rímini, explica por que não há vida sem aquela “imensa certeza” a que se aliam razão e coração
Em 1983 participou pela primeira vez do Meeting e a última foi há dois anos. Eugenio Borgna, chefe de Psiquiatria no Hospital Maior de Novara, é um convidado querido do público de Rímini. Este ano, juntamente com o Padre Aldo Trento, irá apresentar, no encontro de encerramento, o livro de Dom Giussani Ciò che abbiamo di più caro. Precisamente em 1988, participou do encontro de universitários de que fala o livro. Um amigo relembrou-me uma frase sua: “A loucura é como um sangrar do coração, ou seja, da vida afetiva, da experiência”. Giussani, no dia seguinte, comentou: “Somos todos loucos”.
Quisemos falar com ele sobre o título dessa edição do Meeting. Na sua conversa, cada substantivo, cada adjetivo, ganha significado, relações profundas, ligadas à alma humana, à experiência cotidiana, revelando traços de infinito às vezes esquecidos. A razão expande-se verdadeiramente, não se aquieta. Salta logo a sua primeira reflexão: “Este título surpreendeu-me, no sentido de que o acolhi com maravilha no coração”. Aqui está o ponto. Nenhum raciocínio abstrato. Mas o que significa? “Parece-me que capta a condição fundamental de qualquer vida, da procura de infinito que existe em nós. Mas antes disso, capta o nó da fragilidade, da inconsistência das certezas humanas que acabam por ser transformadas pelo tempo. A época em que vivemos é marcada pelos aparentes triunfos das certezas matemáticas, físicas, neurocientíficas. Todas ‘verdades’ que encontram em si a sua possível contestação, porque são relativas à condição humana que é frágil, efêmera. É preciso olhar para um ponto fixo que existe em cada um de nós e que remete para outra coisa: o nosso coração”.
Volta-se sempre a essa origem. “Certamente. O caminho misterioso que nos leva a descobrir a sede de absoluto que há em nós é a premissa para ver onde é que este ponto fixo encontrou na história a sua evidência, a sua certeza: o Evangelho, do qual fazemos experiência por meio da fé, da esperança e da caridade cristã. A força de reconhecer em cada um de nós a sede de infinito leva-nos a colher o sentido da vida apenas naquela palavra que não estremece, que não está sujeita às mudanças e que torna o cotidiano, mesmo o mais doloroso, um manancial de esperança. É a experiência do Mistério que, como uma faísca, se reflete na vida transformando-a, subtraindo-a à banalidade, ao ócio”. É a “imensa certeza” de que temos necessidade. “Imensa parece-me um termo extraordinário. “Grande”, “fulgurante”, até mesmo “desmedida” não nos dariam esta conotação que, deslocando o eixo do discurso para o coração, consegue recuperar o verdadeiro valor da razão, já não fechada dentro dos limites estreitos do visível, mas escancarada à transcendência”. Faz uma pausa e retoma: “Dom Giussani transmitiu-nos, com força e rigor, que só quando a razão e o coração se aliam podem ter um olhar que vai para além do contemporâneo, do visível. Para ele era claríssimo. Mas todos nós somos chamados a reconhecer em cada fato, em cada descoberta, o significado, a luz do Acontecimento que mudou, de uma vez por todas, todas as circunstâncias humanas. Mesmo se tivermos os olhos inundados pelo pranto, pela dor, podemos ver e captar esta imensidão da existência”.
Uma última pergunta, sobre o livro. O que mais o impressionou? “É lindíssimo. Sem as coisas que li, não teria podido responder às suas perguntas. Estou permanentemente ouvindo Giussani”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón