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Passos N.129, Agosto 2011

LEITURA - JOSÉ MOSCATI

Um protagonista verdadeiro

por Luca Doninelli

É aquele “médico” do subtítulo que faz a diferença. São José Moscati. Cristão, leigo e médico. A autora a que nos referimos é Paola Bergamini, vice-diretora da edição italiana de Passos. Os leitores podem imaginar como é difícil e delicado escrever uma crítica sobre o livro escrito por uma cara amiga, fingindo não conhecê-la. Por sorte, o livro acaba vindo em socorro do meu estúpido dilema. Porque é um livro belíssimo, e o seria mesmo que tivesse sido escrito pelo meu pior inimigo. Uma das mais belas e agudas imagens sobre a santidade que eu já li.

Lembro ainda da impressão que tive, quando jovem, ao ler o prefácio do livro Santos, de Cyril Martindale (Ed. Jaca Book), escrito por Dom Giussani. A primeira coisa que ele dizia era que o santo é um homem. A afirmação mais simples e, também, a mais distante de tudo o que eu pensava sobre o assunto. Isso aconteceu antes de aparecer em cena João Paulo II que praticou, durante sua missão, a mesma intuição que eu encontrei nas palavras de Giussani. Um dos santos proclamados por João Paulo II foi exatamente José Moscati. Ele é um dos mais famosos da Itália, muito venerado em Nápoles, sua cidade natal.

José Moscati era um médico de personalidade forte, grandioso tanto na cura dos doentes, quanto no exercício da ciência. Conheci um médico que não sabia que aquele grande homem da medicina, que morreu muito jovem, seria proclamado santo: conhecia-o apenas por seus estudos científicos. Essa é a prova mais evidente da verdade do título: Leigo, isto é, cristão. A santidade de Moscati é uma coisa só com o seu exercício laico da medicina. E Paola Bergamini, revelando-se excelente e humilde narradora (excelente, isto é, humilde: é a lei da narração), percorre sua vida sem um fio de retórica, individuando, com a típica inteligência que nasce do nosso carisma, os fatos biográficos, mas, sobretudo, profissionais, nos quais emerge a extraordinária personalidade cristã desse grande santo.

A santidade é, assim, reconduzida à concretude da vida, e o heroísmo se torna o heroísmo da cotidianidade: levantar-se da cama, rezar, tomar o ônibus, ir trabalhar, bater o cartão, comer, dormir. Sua vida passa por todas essas coisas: a morte dos pais, o vulcão Vesúvio que entra em erupção, o Congresso de Medicina, um doente maltratado pelos médicos, alguém de quem precisa cuidar. Em todas essas coisas, emergem uma excepcionalidade de juízo que não é fruto de dotes especiais, mas do “sim” dito a Cristo, o qual Maria foi a primeira a dizer, em resposta ao Anjo.

Mas há outra coisa que impressiona: o prefácio de Dom Giussani. Vinte e cinco anos depois da introdução do livro de Martindale, como são ricos de vida, de fatos concretos, os mesmos conceitos! A excepcionalidade de São José Moscati é algo que Giussani conhece por tê-la visto em outros médicos seus amigos. É um maravilhamento maior: o dilatar-se incessante de algo que começou com o “sim” de uma menina. É a doçura de uma vida que nos arranca da nossa burguesia cotidiana devolvendo-nos o desejo verdadeiro: o de repetir todas as manhãs o “sim”, que é a única coisa interessante da vida.


São José Moscati. Cristão, leigo e médico
Autor: Paola Bergamini
Editora Santuário
Aparecida (SP), 2006
R$ 18,60

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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