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Passos N.56, Novembro 2004

50 anos de CL/ Do carisma

Memores Domini

Companhia vocacional

por Luca Doninelli

Paixão contínua pela própria humanidade e companhia guiada: condições para viver a presença de Cristo. Entrevista com Antonio Giavini, um dos responsáveis da associação

“Não um caminho, mas o caminho”. Essas palavras abrem uma perspectiva infinita sobre a nossa vida. Parece-me que tocam com profundidade a própria natureza da nossa Fraternidade.
Certo. A idéia sobre a qual se funda a Fraternidade – e, portanto, todo o Movimento – é, simplesmente, a consciência de que só Cristo presente salva o humano.

Imediatamente surge a pergunta: como eu posso, hoje, viver a presença de Cristo?
Na companhia entendida como o lugar da permanência de Cristo junto à pessoa. Em outras palavras, é a possibilidade de permanecer no início, quer dizer, de viver continuamente os termos do início, que são o eu e o tu. No relacionamento com a vida, em todos os seus aspectos, o eu não está mais só e isso significa que o eu não pode mais reduzir a realidade à própria imagem, mas a enfrenta segundo um ponto de vista de semelhança entre Deus e nós.

Em outras palavras?
Cristo torna-se nosso companheiro de caminho na medida em que a sua Companhia nos é doada novamente, continuamente: Memores Domini. Isso vale, naturalmente, para qualquer vocação, porque cada vocação tem dentro esse percurso. Os Memores Domini são concebidos como companhia de Cristo dentro do mundo.

Quais são as condições necessárias para que isso seja possível agora, aqui, neste instante?
Substancialmente, são duas: antes de mais nada, a verdade de si, o amor ao ser, a paixão contínua pela própria humanidade. Em segundo lugar, a companhia guiada – e sublinho “guiada” –, porque a garantia da permanência na origem do Carisma está no relacionamento com a autoridade.

E qual é a diferença entre a Fraternidade e os Memores?
Não é um problema de diferenças ou semelhanças, mas de origem. A origem, tanto da Fraternidade quanto dos Memores Domini é única e se desenvolve a partir de duas especificidades da unicidade do carisma que as gera. O ponto central está em entender que aquilo que salva o humano em mim é o relacionamento com Cristo presente aqui e agora. E a modalidade desse relacionamento se chama “carisma”, que se exprime em uma companhia permanente. Sem isso, tudo se torna formal.

Vamos falar mais sobre o tema da permanência.
Esse é o núcleo da questão: aquilo que permanece. A intuição de padre Giussani, quando deu vida à Fraternidade, é um sinal claro da sua paternidade em relação a nós. Em um certo sentido, podemos dizer que ele quer garantir o futuro dos próprios filhos. Não no sentido associativo, econômico ou social, mas no sentido ontológico: a permanência de seus filhos na companhia de Cristo, ou seja, Cristo, companhia de Deus ao homem.

Nisto consiste também toda a dramaticidade da vida humana, independente da forma com a qual se realiza a vocação de cada um.
Permanecer na origem é permanecer na luta. Há quem diz: “Entendi aquilo que padre Giussani fala” e há quem está continuamente disponível à mudança. O ponto de vista semelhante entre mim e Deus se realiza quando eu permito que o meu olhar siga o Seu e isso é possível dentro do mistério da companhia guiada.

Porque o senhor fala de mistério em relação à companhia guiada?
Porque não se trata de um guia escolhido por categorias sentimentais ou políticas. O mistério da autoridade é o mistério de Cristo. A autoridade é Cristo presente. Aqui está a diferença entre a concepção correta de Igreja e a que prevalece hoje, que a reduz a um pensamento.

Porém, isto é sempre possível para todos.
Um dos maiores riscos, mesmo entre nós, é a redução do carisma a um pensamento. Nesse sentido, fica evidente aquilo que se dizia: o que caracteriza uma posição humana verdadeira é o desejo de ser corretos, porque o carisma é de um Outro. Por isso, é necessário buscar sempre a correção.

Tanto os Memores Domini quanto a Fraternidade têm uma regra. Como o senhor definiria o seu conteúdo?
O conteúdo da regra é a correção: não um faço eu, mas um faço com. Mas não no sentido colegial! Fazer com significa fazer com Cristo. Quando falamos de mistério da companhia guiada falamos disso. Se alguém não percebe mais a condução, não percebe mais o Mistério.


A Associação Memores Domini reúne pessoas de Comunhão e Libertação que seguem uma vocação de dedicação total a Deus, vivendo no mundo. O início se deu em Milão no ano de 1964, no âmbito da experiência de Gioventù Studentesca. Depois de se difundir por várias dioceses, a Associação foi reconhecida canonicamente pelo Bispo de Piacenza, dom Enrico Manfredini, em 14 de junho de 1981. Sete anos depois, no dia 8 de dezembro de 1988, os Memores Domini foram aprovados pela Santa Sé, que reconheceu a sua personalidade jurídica como “Associação eclesial privada universal”. Atualmente existem 300 casas no mundo, sendo mais de 80 fora da Itália.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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