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Passos N.56, Novembro 2004

50 anos de CL/ Do carisma

Congregação das Irmãs de Caridade da Assunção

“Vocês são vocês, mais eu”

por Gelsomina Angrisano

Na metade dos anos 60, padre Giussani conheceu as Pequenas Irmãs da Assunção da rua Martinengo, em Milão. Daquele encontro nasceu, em 1993, a atual Congregação

A natureza da ligação entre a Congregação e o Movimento é a história de uma amizade iniciada por acaso entre as Pequenas Irmãs da Assunção da rua Martinengo, em Milão, e padre Giussani. Depois, sendo – como todas as amizades verdadeiras – uma coisa de Deus, permaneceu no tempo e desenvolveu uma história extraordinária.
Foi padre Giussani, de fato, que nos disse ter conhecido um lugar e pessoas que o haviam tocado pela simplicidade e integralidade com a qual viviam a obra do fundador, o assuncionista, padre Pernet.
Muitas de nós, suas alunas, entraram para a congregação. Apresentou-se a nós, assim, uma forma de vida feita de muitas coisas novas: as pessoas com as quais vivíamos, as circunstâncias diferentes, a proposta de um modo de viver o convento, os votos e o trabalho missionário, o juízo sobre o mundo, a internacionalidade da Congregação, os fundadores e o carisma deles.
Na imaturidade não só da idade, mas também da circunstância histórica na qual nos encontrávamos – a da contestação juvenil – abraçamos tudo isso e tudo se desenvolveu segundo a dinâmica de um acontecimento amoroso.
A célebre frase de Romano Guardini, “na experiência de um grande amor tudo se torna acontecimento no seu âmbito”, descreve perfeitamente a nossa experiência. Sempre tivemos a grata certeza de que o “grande amor” era Jesus que se tornara presente na nossa vida pelo encontro humano com padre Giussani. Essa “audácia ingênua” nos fez viver tudo, até o nosso mal, com positividade.

A separação
Há um episódio que, entre tantos, faz entender de que modo padre Giussani compartilhou a nossa vida.
Atravessamos anos difíceis porque as circunstâncias nos solicitavam tomar decisões sobre o modo de continuar o caminho na Congregação: as diferenças com a Casa Mãe estavam se formalizando no final de 1987 e as coisas não podiam mais ser deixadas como antes.
Um dia, don Gius reuniu rapidamente algumas de nós e nos comunicou que tinha encontrado um alto prelado da cúria romana e tinha lhe perguntado sobre as questões que diziam respeito a nós e nos contou que, para sua surpresa, este lhe havia aconselhado a separação da Congregação, acrescentando essas palavras: “Porque, veja, padre Giussani, trata-se da alma dessas pessoas”.
Don Gius, porém, continuou: “Detive-me nessa resposta por algum tempo. Depois, entendi que não são um parecer seu. Porque ele não sabe quem é padre Pernet, não sabe em que nobreza de tradição vocês cresceram e não sabe que vocês são vocês, mais eu. Por isso, precisamos esperar um sinal”.
O sinal veio, depois, por dom Errázuriz, atual arcebispo de Santiago, que foi secretário da Congregação dos Religiosos por pouquíssimo tempo, mas tempo suficiente para que nós, com a sua ajuda, entendêssemos como colocar o problema e fôssemos transportadas incólumes à outra margem. Em 1993, chegou o decreto pontifício que declarava o nascimento da Congregação das Irmãs de Caridade da Assunção.

Gratuidade apaixonada
Mas o episódio que acabei de contar, além da insuperável definição ontológica de amizade – “Vocês são vocês, mais eu” – descreve o modo como don Gius sempre nos educou: as decisões, tanto nas coisas grandes como nas pequenas, são o fruto do reconhecimento de algo que acontece e não da resposta a análises que partem da nossa “sabedoria” e que, conseqüentemente, podem só dividir.
Além do mais pode-se compreender bem como padre Giussani sempre sentiu prazer pelo fato de se encontrar diante da obra de um outro – no nosso caso, de padre Pernet – e pelo fato de que pertencíamos a uma história amável e amada. “Não sabe em que nobreza de tradição vocês cresceram”.
O modo como padre Giussani se moveu e se move diante de qualquer realidade humana intensa é o de uma gratuidade apaixonada no colaborar com ela e no ajudar a fazê-la se tornar sempre mais ela mesma. Conosco, essa modalidade teve uma potência qualitativa e quantitativa particular porque nos aconteceu estar dentro de uma história de predileção. Para mim, é cada vez mais claro que a ajuda a ser “nós mesmas” nunca aconteceu a partir da insistência sobre as diferenças da nossa forma vocacional.

Aspectos elementares do cristianismo
“Certas de poucas grandes coisas”. Por mais de 40 anos, Giussani nos alimentou dos aspectos elementares do cristianismo. Além do mais, na tradição assuncionista há uma grande frase de padre D’Alzon que é uma luz de referência para toda a sua família religiosa: “O nosso pensamento é simplesmente católico”.
Padre Giussani sempre nos falou de acontecimento, do conceito de missão, do conceito de caridade e do conceito de mundo. Para qualquer forma de agregação eclesial, o ponto central da sua pedagogia está na educação a viver o Batismo como fonte geradora da vida nova que contém em si todos os fatores do eu e tudo aquilo que se encontra na realidade. O carisma original – como também cada individualidade pessoal – encontra uma exaltação e um gosto sem par somente em tal imenso caminho. De fato, as diferenças são genéticas, feitas pelo Espírito Santo, e se tornam evidentes conforme se cresce, assim como acontece com todo organismo vivente.
De fato, não é por acaso que a participação direta nos momentos formativos mais importantes dos Memores Domini produz em nós uma crescente compreensão da nossa tradição e nos ajuda a levar a sério os detalhes específicos da nossa vida, antigos e novos, fazendo com que eles se tornem, pouco a pouco, sempre mais ligados ao carisma. É a forma visível da vocação e é Cristo que a dá, a protege e a renova.
A novidade do nosso rosto, acontecida dentro de um caminho preciso, por meio da atenção e do entusiasmo por aquilo que Deus, aos poucos, opera, chegou inclusive a assumir a forma canônica: primeiro porque nos tornamos uma nova Congregação de Direito Pontifício e, em segundo lugar, porque, junto aos representantes da São Carlos e dos Memores Domini, fazemos parte da diaconia da Fraternidade de CL, segundo o estatuto aprovado pelo Pontifício Conselho para os Leigos.
“Mosteiro, convento, ou casa: feitos, criados, construídos, gerados por quem foi escolhido como pedra viva. Escolhido como pedra viva para formar, para gerar uma existência experimentável por todos, com a qual se demonstre, pela sua própria forma visível, que só Ele é: Christe cunctorum dominator alme” (Luigi Giussani, O Tempo e o Templo, Revista Litterae nº 44 mar/abr 1995, p. XX).


A Congregação das Irmãs de Caridade da Assunção surgiu em 1993 com o Decreto Pontifício, como Instituto autônomo, separado do núcleo originário das Pequenas Irmãs da Assunção. As principais atividades da Congregação são de assistência a famílias, seja como assistência de saúde em domicílio, seja de reforço escolar e ajuda ao trabalho. Atualmente é formada por uma centena de Irmãs. Estão presentes na Itália divididas nas casas de Turim, Trieste, Roma, Nápoles e Milão. Recentemente também foi aberta uma casa em Córdoba, na Espanha.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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