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EDITORIAL

A surpresa de um fato

"Um raciocínio abstrato não é o que faz crescer; o que faz expandir-se a mente é encontrar na humanidade um momento de verdade que se alcançou e ao qual se deu expressão. É essa grande inversão de método que marca a passagem do senso religioso à fé: não é mais uma busca cheia de incógnitas, mas a surpresa de um fato acontecido na história humana.” (Na Origem da Pretensão Cristã).
Essa frase de Dom Giussani, que publicamos na capa de Passos de novembro (dedicada ao discurso de Bento XVI em Regensburg), ecoou por toda a Itália e pelo mundo durante os encontros promovidos pelo Movimento. A começar pela Jornada de Início da Ano de Milão, cujas notas são apresentadas no começo da revista. E depois, mais ao Sul do país, até Nápoles, numa tarde no final de outubro, no Teatro Mediterrâneo. “O desafio da educação para libertar Nápoles”, foi o título de um artigo no Il Mattino, o principal jornal napolitano, quase que como uma resposta aos trágicos fatos que abalaram a cidade nos últimos dias.
As perguntas dos jornalistas, na véspera do encontro, destinavam-se a esclarecer quais análises e, sobretudo, quais projetos os “membros de CL” tinham para combater – pela ordem – o crime organizado, a corrupção, o desemprego, a evasão escolar. A resposta foi a mesma para todos: “Venham e vejam”.
Por que tanta gente – desafiada pelo aumento da violência (um homicídio a cada 24 horas) e por situações alarmantes (novas e velhas), que levaram alguns até a propor o emprego do exército para restabelecer a ordem na cidade – deixou de lado as suas ocupações e preocupações para ir ouvir um padre espanhol, que falava de “Viver intensamente o real”? Que intensidade de vida pode ter uma pessoa que vive insegura, na escola, em casa, no trabalho?
Na rua Castrucci, número 4/b, atua o Centro de solidariedade da Companhia das Obras. Foi fundado por amigos que não se contentaram em analisar a situação, elencar as carências, para depois concluir – como todos – que é impossível fazer algo de positivo, só restando esperar alguma magra ajuda do assistencialismo estatal. Não, eles inventaram uma coisa nova, para expressar uma experiência que faziam e fazem.
Só uma coisa real e presente pode acender a esperança, porque mexe com o eu de cada um, abre-o, e se essa pessoa for adequadamente educada, pode se tornar protagonista dentro de sua realidade e construir algo positivo, mesmo numa situação bem difícil. Por exemplo, um Centro de solidariedade no coração de Nápoles; centro que compartilha as necessidades das pessoas para também compartilhar o sentido da vida.
Nada de estratégia; e sim, a surpresa de um fato. Nada de uma busca “cheia de incógnitas” por soluções para os males da vida pessoal e social. Ao contrário, a esperança de uma solução, de uma “libertação”, só se sustenta se as pessoas virem alguém que vive a vida comum de um modo diferente, mais humano e verdadeiro. Alguém como nós, igual em tudo, mas que não se resigna com a impossibilidade de qualquer mudança. Um “acontecimento”, diz Finkielkraut. Um “imprevisto”, segundo Montale.
Nápoles é um exemplo de que procuramos responder com a vida ao apelo de Bento XVI para que se alargue a razão: a experiência cristã leva a pessoa a mergulhar na realidade, sem censurar coisa alguma, antes enfrentando tudo com um olhar positivo. É um acontecimento, isto é, um “momento de verdade que se alcançou e ao qual se deu expressão”, que rompe os limites de uma razão restrita.
“Nós encontramos algo que preenche a nossa vida”, disse Carrón em Nápoles, na tarde de 27 de outubro, “e queremos comunicá-lo a quem se dispuser a nos ouvir”.
Os napolitanos que estavam no Teatro Mediterrâneo acharam o tempo e se dispuseram a ouvir.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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