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EDITORIAL

Quem conduz a história

Existe um modo muito simples para entender o que é que a Igreja leva ao mundo: olhar o que aconteceu quando o Papa Francisco chegou em Milão, numa Visita Pastoral que durou apenas um dia. Gente por todo lado. Fala-se em um milhão de pessoas. E era um povo alegre, feliz, sorridente, apesar de suas fadigas. Não aquelas da viagem ou das horas de espera sob o sol no Parque de Monza, mas as dificuldades da vida, pesos de trabalho e preocupações que normalmente se desenrolam no dia a dia. Mas o que as pessoas esperavam do Papa? A solução de seus problemas? A dissolução de cada nó, de cada dificuldade?
Evidentemente, não. E isso é impressionante. Sobre esse ponto, no fundo efêmero, como qualquer homem, mas decisivo, porque ele encarna a Igreja, se derramou uma espera muito maior. Talvez inconscientemente, mas maior. Porque era uma espera que incluía todas as outras.

E o Papa respondeu. Ele abraçou cada ansiedade, todos os problemas, um a um, fazendo o que a Igreja sempre fez: escancarar a perspectiva. Apontando para a relação com Deus, para a dependência d'Ele, e para a Sua misericórdia. Ele fez isso o tempo todo, diante de cada pergunta que lhe era apresentada. As periferias? São, em primeiro lugar, o lugar onde “você pode se encontrar com o Senhor, renovar a missão das origens, voltar à Galileia do primeiro encontro”.
Evangelização? É uma alegria, mas é Deus quem faz, que “pega o peixe”, porque “é Ele que conduz a história”. A educação dos filhos? Enfrenta-se olhando para “a gratuidade de Deus”. E assim por diante. Até aquela expressão que, em certo sentido, sintetiza todas, pelo modo como amplia o olhar: “Não devemos temer os desafios, que isso fique claro. Quantas vezes você ouve as queixas: ‘Ah, desta vez, há muitos desafios, e nós estamos triste ...’. Não. Não tenha medo. Os desafios são para serem tomados como um boi, pelos chifres. E é bom que existam. É bom, porque nos fazem crescer. Eles são um sinal de uma fé viva, uma comunidade viva que busca seu Senhor e mantém os olhos e corações abertos”.

É isso o que faz a Igreja. Não a solução dos problemas, mas “olhos e corações abertos”. Ou seja, aquela “atitude verdadeira” que torna possível enfrentá-los, como dizia Dom Giussani. É a religiosidade, a consciência de que dependemos de Deus. “É Ele quem conduz a história”. E isso abre uma perspectiva que não nos distancia da realidade, não nos afasta das coisas. Pelo contrário: pede ainda mais, porque amplia o respiro, dá energia, faz colher uma profundidade nas vicissitudes da vida cotidiana que não imaginávamos antes.

Por isso a palavra mais ouvida em Milão foi “esperança”. Os problemas permanecem, para cada um de nós. Mas a Igreja existe, as “palavras eternas” de Jesus ainda estão “vivas no tempo”, como dizia Charles Péguy no texto do Cartaz de Páscoa proposto por CL. Os problemas permanecem, mas podemos descobrir o gosto de enfrentá-los.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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