O RESTO É COM ELE,
QUE FAZ O QUE JULGAR MELHOR
Caro padre Carrón, tenho quarenta anos e sou comerciante. Nestes últimos anos, tenho notado mais claramente um afeto e uma responsabilidade antes de tudo em relação a mim mesmo, o que tem tido efeito positivo até sobre os meus relacionamentos, em particular no trato com os novos colegas de trabalho – todos com cerca de vinte anos de idade – que Deus colocou ao meu lado, e em minhas preces rezo para me tornar uma testemunha para eles. Tenho consciência de toda a desproporção e inadequação do meu pedido, porém penso que devo fazer a minha parte, o resto é com Ele, que faz o que julgar melhor. Assim começo a constatar coisas “estranhas”: os jovens colegas, que num determinado horário e turno vêm trabalhar comigo, me dizem: “Torcemos para vir trabalhar com você (estou em outro departamento); aqui a gente fica melhor e tem mais paz; lá no nosso departamento estão todos esclerosados”. Estabelece-se uma relação que, em sua simplicidade, permite um diálogo sobre certos aspectos da vida: a namorada, Deus, a política, por exemplo. Convidei meu colega Alessio para a Jornada de Início de Ano e ele me disse: “Enrolei você várias vezes, mas desta vez eu garanto que vou”. Eu o apresentei a alguns amigos e ele conversou por quase uma hora com o grupo do Amistad, que ele desconhecia. Na saída do encontro, Gabbro me parou para me dar o DVD “O rosto das testemunhas – Férias de La Thuile 2009”, que imediatamente repassei a Alessio. Quando retornamos para casa, perguntei a ele o que achou do encontro; me respondeu que estava de acordo com tudo, menos com o aspecto religioso. Isso me deixou triste, mas não desanimado, porque a sua conversão não é obra minha. Depois, me perguntou o que mais me havia impressionado, e eu respondi: “Padre Carrón gosta de mim gratuitamente e deseja que a minha humanidade se realize completamente; se eu quiser ser feliz e livre na experiência que vivo, preciso dar um juízo. Ele sabe do que é feito o meu coração”. Depois de alguns dias, Alessio me devolve o DVD e me diz: “Obrigado, eu o vi. Em geral, não gosto de ver as fotos das minhas férias, imagine então as dos outros; mas esta noite só fui para a cama à 1h40 da madrugada, depois de ver todas as fotos. Algumas eram tão bonitas que até me comovi um pouco”, disse ele, que as descrevia para mim. Depois, começou a me fazer perguntas sobre as férias e, no fim, me disse: “Estou tentado a ir junto com vocês no próximo ano”. Depois de algum tempo, enquanto a gente trabalhava, me disse que era ateu, que crê em Jesus, mas só como um grande homem que quis fazer o bem. Eu, então, lembrei a ele que quando as pessoas encontravam Jesus, embora sabendo muito bem que era filho do carpinteiro José, se viam constrangidas a perguntar: “Mas quem é esse aí?”. Frente a esses fatos, só tenho uma atitude: colocar a minha miséria nas mãos dEle e dizer “Faça como quiser”.
Claudio, Módena – Itália
MAIS FILHA, MAIS IRMÃ... MAIS CRISTÃ
Caríssimo padre Julián, encontrei o Movimento há um ano. Para mim, foi um novo início de algo que havia acontecido comigo há doze anos, primeiro na Igreja ortodoxa, depois durante um encontro com a comunidade de Taizé. Em CL, não senti nada de novo ou desconhecido, mas tudo era diferente. Comecei a frequentar regularmente a Escola de Comunidade e todos os encontros do Movimento, com contínuo maravilhamento e busca. Mudei muito neste ano: me tornei mais filha dos meus pais, mais irmã para o meu irmão, mais jurista no trabalho, mais amiga dos meus amigos; me tornei mais cristã. Redescobri o gosto e a totalidade da vida. O encontro com o Movimento tornou-se tão importante para mim e para os meus amigos que, com a chegada do verão, pedimos que a Escola de Comunidade continuasse, mesmo durante as férias. Este ano encerrou-se para mim com o desejo e a possibilidade de ir ao Meeting. O Meeting foi, para mim, o período das perguntas, da crise e do conhecimento. O ano passado foi o tempo de uma iniciante no Movimento: eu e os meus amigos aprendemos muitas palavras novas, termos e conceitos. Devagarzinho comecei a falar como um “cielino de verdade”. Se aqui em Moscou isso não parecia tão estranho, no Meeting tornou-se evidente. As palavras que, antes, eu sentia como “ditas a mim de uma maneira muito especial” tinham perdido o seu conteúdo; ao ouvi-las e repeti-las, eu não as vivia mais. Isso despertou em mim o primeiro escândalo e a primeira crise. Não estava mais certa de nada, tinha medo de ficar perdida. Além disso, o nosso trabalho no Meeting era tão cansativo que não me ajudava e não me dava nenhuma clareza a respeito do que acontecia. Antes de ir ao Meeting, eu já havia conhecido o método de verificação da correspondência entre a realidade e o coração. Assim, as condições do Meeting tornaram-se, para mim, o campo da verificação. Parei e recomecei a perguntar a mim mesma: “Em minha vida existe algo maior do que os meus medos, do que a minha insatisfação?”. A resposta positiva tornou-se o meu juízo. Em minha vida há Algo maior, em que tudo adquire sentido, há o encontro que me abre as portas para o Infinito, há a Sua presença, que se faz sentir em seguida. Assim, comecei a gritar e a pedir a Ele que me regenerasse e me desse o sentido. Desse modo, passo a passo, confrontando com o meu coração tudo o que acontecia, a minha vida no Meeting tomava uma forma familiar. Eu trabalhava, repousava, trabalhava de novo, mas com mais alegria, depois eu ia à praia, olhávamos alguma exposição. Pude descobrir de novo e mais profundamente as coisas que pareciam já conhecidas. Fiz a experiência viva a que você se referia na Jornada do Início de Ano. Descobri, de novo, as coisas velhas, que pareciam já conhecidas e sabidas. Por isso, senti muito forte a correspondência das suas palavras. O que você dizia eu vivi e estou vivendo agora. Agradeço-lhe muito pelo seu “sim” a essa caminhada e por compartilhá-lo comigo.
Viktoria, Moscou – Rússia
E PENSAR QUE O MELHOR
AINDA ESTÁ POR VIR
As férias estavam para começar e eu pensava que seria muito chato para mim. Eu trabalharia à noite no bar de meu tio, por isso não poderia ir à casa dos meus amigos, nem ir ao Meeting. Além disso, havia também as recuperações e o estudo para preparar o meu trabalho científico. Tudo isso era suficiente para tornar as férias um desastre. Quando voltei do camping, durante a única semana livre que me restava, eu me sentia mais animada, pronta para enfrentar a vida, mesmo que não fosse como eu desejaria. Na verdade, foi muito melhor do que eu poderia imaginar. Costumavam ir ao bar alguns jovens com uma visão da vida completamente diferente da minha. Na medida em que o tempo passava, consegui conversar com eles. Em geral, alguns pensamentos deles e seu modo de ver as coisas me deixavam de boca aberta, pois revelavam uma realidade que eu jamais gostaria de viver. Um deles me disse que estava desesperado com a chegada do inverno e que não tinha a mínima vontade de recomeçar a rotina diária, feita de estudo e trabalho. Frente a ele, só consegui dizer: “Que tristeza!”. Um outro jovem dizia que, para ele, divertir-se era beber e embriagar-se. Além disso, tem amigos dos quais gosta, mas não confia em ninguém: pensa que, um dia, seriam capazes de roubar-lhe a mulher. Que feio! Mas o verdadeiro episódio que mudou o meu modo de ver foi outro. Um deles, uma noite, me disse: “Gosto de você. Não sei como consegue estar sempre serena, alegre, com o sorriso no rosto, mesmo enquanto trabalha. Só tenho duas explicações: ou você é tonta ou é mesmo feliz. Mas não acho que você seja tonta!”. Veio à minha mente Marco, que durante os encontros nos contava como, no trabalho, seus colegas notavam nele algo diferente, uma coisa a mais que lhe dava um ar feliz. Quando ele contava isso, eu não conseguia compreendê-lo profundamente. Até que a coisa aconteceu também comigo! E quem me disse isso foi uma pessoa que mal me conhecia. Perguntei-me o porquê e acho que era pelo modo como eu havia decidido enfrentar a vida. E, então, pensei o quanto sou feliz por ter alcançado a graça de poder viver essa experiência, feliz por ter encontrado Cristo, que mudou a minha vida. Por isso, hoje, mais do que ontem, entendo como é importante apegar-se a Ele e continuar a dar um sentido a tudo o que acontece, inclusive às coisas ruins. Levei adiante a minha caminhada pessoal que me deixou ainda mais consciente daquilo que estou vivendo. E fico mais feliz ainda ao pensar que o melhor está por vir.
Veronica, Carrara – Itália
Muy chéveres, esse professores...
Leciono na escola primária do Instituto Alessandro Volta, de Bogotá (Colômbia). Há algumas semanas, pedi para cobrir a falta de um colega no primeiro colegial só para reencontrar os meus alunos da quinta série do ano passado. Entrei na classe e comecei a perguntar como cada um estava. A certa altura, desenvolveu-se o seguinte diálogo: “O professor Ballabio é muito severo”. “Sim, muito Outro dia castigou Felipe.” “Sim, mas as suas aulas são muy chéveres (fortes, lindas, na gíria dos meninos).” “Por quê?”, perguntei. “Porque são interessantes.” “Como as da professora Doris.” “É verdade”, confirmam vários outros. Eu comento apenas que me impressiona o fato de um professor ser tão severo e, ao mesmo tempo, dar aulas interessantes. O professor Ballabio é um professor italiano que chegou há poucas semanas, e a professora Doris é uma professora colombiana que trabalha na escola há muitos anos. Antes não se conheciam, mas têm algo em comum: ambos pertencem ao Movimento. Saí da classe com um senso de gratidão e pensando: “Mas quem és, ó Cristo, que te revelas de um modo tão discreto, mas evidente, através da simplicidade de algumas horas de aula?”.
Anna, Bogotá –Colômbia
A VISIBILIDADE DO MISTÉRIO
PASSA POR UMA AMIZADE
Em outubro fui à Itália para participar do casamento de Francesca, uma grande amiga, e fui surpreendida por alguns fatos, na sua maioria imprevistos, que foi impossível não dizer: é Deus! O primeiro deles foi o próprio casamento, a forma simples e bonita com que tudo foi preparado pelos amigos, familiares e noivos. As músicas escolhidas eram sinais de uma experiência cristã. Depois, pude visitar o túmulo de Dom Giussani, e ali, diante dele e daquela rocha, pude agradecê-lo por ter iniciado essa história e hoje poder fazer parte dela e estar vivenciando toda essa grandeza de humanidade proporcionada pelo relacionamento com Cristo, que se dá por meio de pessoas e diversas modalidades. O terceiro aspecto foi ter ido à Escola de Comunidade com Carrón, pois estando ali entendi que realmente o coração humano é único e espera por uma coisa só. O caminho, as perguntas, eram as mesmas e Carrón não perdia tempo, provocava todos a responder a pergunta “o que é experiência?” e não fazer discursos. Com isso entendi que o Movimento não tem uma forma fixa: no Brasil, na Itália ou em qualquer lugar, aquilo que se tem é um método educativo que nos permite olhar o humano. O quarto fato foi a maneira desconcertante e acolhedora com que os pais de Francesca me receberam. Estando com eles por 15 dias, me marcou a forma como compartilhávamos tudo com a nossa experiência cristã, momentos e vivências brasileiras que se encontravam e assemelhavam-se com as experiências italianas, o simples fato de jantar, fazer um passeio, assistir a um filme, ir à missa, conhecer novos amigos, todos os momentos juntos eram oportunidade para falar e viver Cristo. Marco (pai de Francesca) era um testemunho vivo de que o Mistério age, pois ele carrega o olhar de Cristo no canto dos seus olhos, sendo capaz de julgar tudo, inclusive os dramas, com esse olhar. Isso gerava em mim uma pergunta: de onde nasce isso? Estes dias na Itália foram necessários para me fazer entender a carnalidade de Cristo, que me alcançou por meio de fatos e pessoas. Isso me fez entender porque estando entre amigos é mais fácil reconhecer Cristo: era Deus que me abraçava por meio deles. Carrón dizia, no encontro em São Paulo, que Cristo continua no meio de nós por meio de pessoas que nos tratam como Cristo. Eu fiz essa experiência: a experiência de ser amada, uma afeição tal que despertou o meu eu. Tenho amigos verdadeiros que me ajudam a crescer me obrigando a dar um juízo diante das coisas que acontecem, e como a testemunha não me substitui, eu estou sendo chamada a responder a minha realidade no Brasil, fazendo o meu trabalho, me relacionando com minha família, mas fazendo memória de tudo que vivi, pois eu, Milena, agora sou chamada a dar o meu passo. A testemunha me ajuda, mas não me substitui, por isso, mesmo querendo de imediato ficar, voltei aceitando esse desafio. Fui tão tomada pelos acontecimentos que tive que dizer: aqui é Deus, pois nenhum raciocínio humano explicava tudo que aconteceu, uma grandeza de fatos que me permitia dizer: aqui tem o dedo do Mistério, por isso a visibilidade do Mistério passa por uma amizade. Sou grata a essa companhia, a esses amigos, a Dom Giussani e a Cristo por ter me preferido. Obrigada!
Milena, Salvador – BA
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón