A sua rede de hotéis vai à falência. E Horácio recomeça numa pensão. Descobrindo que “qualquer coisa é bem-vinda”
A percepção que temos, um segundo antes que as coisas aconteçam. “Como o sinal da cruz que fazemos de manhã. Antes de começar a jornada, quando reconhecemos que tudo é dom. Então as coisas que acontecem são bem-vindas: como são justas, é justo que aconteçam”.
Foi isso que Horácio ganhou junto com o novo trabalho. Embora “novo” não seja a palavra exata. Ele começou com um hotel em Rímini, que em menos de vinte anos se tornou uma rede de 22 hotéis na Itália e no exterior, com faturamento de 50 milhões de euros e 400 funcionários. Depois de erros e crises, no início de 2010 cede a empresa e os novos acionistas o afastam. Perde tudo. Hoje trabalha na limpeza do chão, limpa os latões de lixo, prepara o chá para os clientes, numa pensão de cinquenta quartos, em Riccione. “Eu recomecei”, exclama contente.
Mas antes de recomeçar ficou um ano ausente da realidade. “Eu vivia numa bolha e tudo me enjoava. Até as muitas coisas boas que aconteciam à minha volta me consolavam só um pouquinho, mas não me transformavam”. A coragem e a companhia inseparável da esposa Laura, que por primeiro se pôs a trabalhar na pensão, sem que essa fosse a sua função, pois é funcionária da Prefeitura. “Ela andava como um trem, eu experimentava gratidão e aborrecimento”. Até os amigos o irritavam. Ainda mais porque, se eles existem e são verdadeiros, “não se pode fingir que nada está acontecendo”. No mínimo, nos tornamos presunçosos. “Eu sempre pensava que os outros não entendiam”. E terminava os dias envenenado.
Depois, aconteceu. “O imprevisível instante, de que fala o panfleto sobre a crise, existe mesmo”. E bastou começar a se ocupar com a pequena pensão para que tudo mudasse. “Ao fazer as coisas, revi a minha consistência. Se a gente sonha, pode pensar qualquer coisa, inclusive achar que está acordado, quando na verdade está dormindo”. Mas quando fazemos as coisas, é você, uma pessoa real, no bem e no mal. “Não há mais nada de abstrato. Sobretudo se a pessoa tem um trabalho como o meu, quinze horas em contato com o povo. É vivendo que nasce em nós um modo diferente de enfrentar a jornada diária, acolher as coisas que acontecem. Ajudado pela graça de ter certos amigos e pela comparação com o trabalho da Escola de Comunidade”.
Pode-se, inclusive, repensar livremente os erros cometidos. “Como a vida fica leve!”. E ver que sempre ficava um passo atrás nas decisões levou-o a uma grande superficialidade, “que exigiu de mim um amadurecimento pessoal”. Agora, não vê a hora de chegar o verão e começar a alta estação. “Que se levantem as cortinas.”
(por Alessandra Stoppa)
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