Um gesto inesperado deu continuidade, em Brasília, ao Dia Nacional da Coleta de Alimentos menos de um mês depois. Uma arrecadação extraordinária de alimentos que foi ocasião de verificar a frase de Bento XVI: “A bondade do coração do homem só pode vir dAquele que em si mesmo é Bondade, é Bem”
O apelido, no diminutivo, talvez não traduza a dimensão de um gesto que se tornou gigante. Mas seguiremos chamando de “Coletinha” a arrecadação de alimentos de um mercado só que aconteceu em Brasília dia 3 de dezembro de 2011. A coleta extraordinária não estava prevista. Muito menos para quase um mês após o Dia Nacional da Coleta de Alimentos, o gesto já tradicional na vida do Movimento no Brasil que ocorre uma vez por ano. Uma série de sinais de que algo grande estava sendo oferecido novamente, porém, levou um grupo de amigos da Capital Federal a dar continuidade à arrecadação de alimentos que imaginavam já ter encerrado dia 5 de novembro de 2011.
Foi nesse dia 5 que Edilene abordou dois homens num dos cinco mercados que estavam realizando a Coleta em Brasília. Ela tinha acabado de passar por uma cirurgia delicada, estava curada e chegou a pensar em não participar do gesto dessa vez, mas resolveu aderir. Pensava, no entanto, em ajudar em algo que não exigisse falar muito. Apesar da dificuldade de falar, ela ficou no grupo de abordagem das pessoas que chegam para as compras.
De centenas de pessoas que passaram pelos voluntários, dois homens chamaram a atenção. Edilene os olhou e pensou em deixar que outros os abordassem. Como isso não aconteceu, ela se aproximou. Eles, vendo como o grupo realizava aquele gesto, perguntaram como poderiam fazer para que o mesmo acontecesse em outros mercados. A Edilene os encaminhou à Ângela, responsável pela Coleta naquele mercado. Eles se apresentaram como responsáveis de uma grande rede de supermercado do Centro-Oeste. A primeira coisa que disseram foi “vimos como vocês estão fazendo essa coleta de alimentos, tudo por meio de voluntários, a organização, a logística, achamos muito interessante. Então gostaríamos de saber como podemos fazer uma parceria com vocês”. Encerrada a conversa, deixaram um cartão com o nome deles e o endereço de uma das lojas da rede em Brasília para uma visita.
Algo que acontece agora. Levando em conta o cansaço da Coleta recém realizada, apesar da alegria e da beleza proporcionadas, Ângela e Renata, a responsável pelo gesto em Brasília, pensaram em esperar algum tempo para marcar a visita. “Para minha surpresa, três dias depois, uma gerente dessa rede me liga pedindo para marcar um encontro o mais rápido possível, justificando que gostaria de aprofundar a conversa iniciada no dia 5 de novembro. Ao desligar o telefone, já intuí que havia algo a mais porque não é muito habitual alguém insistir em uma parceria para ajudar as pessoas carentes. Pensei: aqui o Senhor quer nos ensinar alguma coisa nova”, conta Ângela.
Quando ela e Renata foram ao mercado conversar com a gerente que havia ligado, descobriram que aqueles homens eram diretores da rede de supermercados e que eles desejavam começar a parceria tão logo fosse possível. Não queriam esperar novembro de 2012, para quando já estava programada nova coleta nacional. “Olhando a realidade das nossas obras sociais, sobretudo as famílias carentes e a Creche Nossa Senhora Mãe dos Homens, e a caritativa de um grupo de adultos da comunidade em Brasília, pensamos em fazer uma coleta local direcionada a eles”, explica Ângela.
“A frase do Papa Bento XVI, ‘a bondade do coração do homem só pode vir dAquele que em si mesmo é Bondade, é Bem’, se confirmou naquele encontro e mais uma vez nos surpreendemos: os responsáveis pelo mercado se colocaram disponíveis, com abertura incrível para apoio e patrocínio do material de divulgação.” A partir disso, vários amigos do Movimento passaram a se envolver. Pedro criou a arte do material que seria utilizado (panfletos para abordagem, um marca-páginas entregue, ao final, como agradecimento e com o contato da creche). Sílvio sugeriu a confecção de cartazes com fotos das crianças da creche beneficiada. Rubens fez e ainda doou mais panfletos para divulgação da creche. Um amigo da Liziane pediu ajuda a uma gráfica, que imprimiu os panfletos de abordagem e o marca-páginas de agradecimento, e mesmo sem conhecer a Coleta, nem a creche, o dono da gráfica resolveu doar a impressão de todo o material. Os amigos da comunidade, seus filhos, alunos e colegas de trabalhos formaram o batalhão de voluntários para a Coletinha: 3 de dezembro de 2011.
O Dia da Coletinha. “Quando chegamos, pela manhã, fomos surpreendidos por uma imensa faixa, com a logomarca da Coleta (a formiguinha) e a frase ‘A caridade comove e move o homem. Coleta de alimentos para a Creche Nossa Senhora Mãe dos Homens’, iniciativa do mercado. Nunca tivemos uma abertura tão grande; havia uma disponibilidade para tudo o que se pedia: desde pessoal, espaço físico, almoço para todos os voluntários, anúncio do gesto pelo microfone que anunciava as promoções do dia. Como sempre acontece nesse gesto de gratuidade pura, de desejo de bem para si e para o outro, aquilo que era mais evidente entre nós era uma alegria e uma leveza, que podemos afirmar com certeza que vinha do Mistério de Cristo entre nós, que colocou no nosso coração esse desejo de ir ao encontro da necessidade do outro. Mesmo sendo o mês de dezembro, onde todo mundo já está cansado e pensando nas férias, nos preparativos do Natal, muitas pessoas se envolveram nesse gesto!”, diz Ângela.
Os clientes do mercado percebiam algo diferente ali, sem esquemas prontos, e se aproximavam para saber mais. Foi uma oportunidade de falar da Creche, que ganhou vários novos “admiradores” naquele dia – pessoas disponíveis para doar, para encaminhar o contato da creche a empresas que patrocinam projetos sociais como este, pessoas que, conhecendo a obra só na saída do mercado, voltaram para a loja para comprar algo para doação.
Assim como a Coleta não havia terminado no Dia Nacional, com a arrecadação de alimentos, a Coletinha não se encerrou, também, no dia 3 de dezembro. Acabado o trabalho no mercado, voluntários seguiram organizando os alimentos a serem levados para a creche, função que já tinha começado pela manhã. Sem a estrutura de um Banco de Alimentos, a criatividade e a disponibilidade de vários amigos deu forma à imensa dispensa montada numa das salas da creche para acomodar quase uma tonelada de alimentos que foram doados. Nos dias seguintes, foi momento de organizar tudo, com a ajuda de amigos dos grupos de Jovens Trabalhadores e dos universitários, de levar as cestas às famílias e de conversar muito com os amigos sobre o que tinha acontecido. E de voltar para agradecer às pessoas que ajudaram mesmo sem conhecer a creche, como o dono da gráfica, Raimundo, que disse sim ao gesto após um simples contato telefônico. Só na visita que ele soube mais sobre o gesto, sobre as atividades da creche e o acompanhamento das famílias carentes da Samambaia. Essas informações fizeram com que ele se emocionasse e agradeceu por ter podido participar, de alguma forma, de algo tão bonito.
Não parar na aparência. Essa coleta de um mercado só, e com oito horas de duração, rendeu 916 quilos de alimentos, distribuição de cestas básicas a 18 famílias consideradas em situação de vulnerabilidade social, cada uma com três a sete filhos, e abastecimento da despensa da Creche Nossa Senhora Mãe dos Homens, que atende 220 crianças, e a certeza de que tudo é ocasião para vermos o Mistério se propondo, se revelando,querendo encontrar conosco em carne e osso.
“Os fatos daquele dia [5 de novembro] me ajudaram a compreender que, na relação com a realidade, eu não posso parar na superfície, pois ela tem sempre um além e por mais que pareça contraditória, ela é sempre positiva, como o Carrón está insistindo conosco nos últimos tempos. Digo isso porque se tivéssemos ficado parados no êxito, isto é, na pequena quantidade de alimentos que arrecadamos no Dia Nacional da Coleta de Alimentos, teríamos perdido a possibilidade de 'reconhecer a realidade na sua verdadeira natureza' e não veríamos os milagres que aconteceram”, completa Ângela.
A CRECHE
Associação Nossa Senhora Mãe dos Homens
Desde sua origem, o principal objetivo da Associação é prestar atendimento de qualidade a crianças que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade social, selecionadas pelas Secretarias de Educação e de Assistência Social do Governo do Distrito Federal. Atualmente são atendidas 220 crianças em idade de 1 a 10 anos. Nesta obra social, o cuidar e o educar são indissociáveis e por essa razão são oferecidos alguns serviços para um maior cuidado e atenção às crianças. São realizadas ações de educação, acompanhamento escolar, esporte, cultura e acompanhamento familiar.
O trabalho da Associação se inicia com atendimento integral a educação infantil, com 100 crianças de 1 a 5 anos. Dos 6 aos 10 anos são oferecidas atividades socioeducativas no período alternado ao da escola, que se realiza por meio de oficinas de leitura, música, esporte e cultura. As crianças fazem todas as refeições e permanecem na creche durante o tempo necessário para suas mães terem outras atividades. As famílias mais carentes também têm um atendimento especial.
Para realizar esse trabalho a Associação conta com uma equipe formada por profissionais qualificados, sendo 32 funcionários e amigos voluntários.
Para maiores informações é possível entrar em contato pelo e-mail: ansmh@brturbo.com.br e cefeaprendiz@gmail.com ou telefones (61) 3486-1011 e (61) 3532-1977.
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