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Passos N.138, Junho 2012

MEMÓRIA - PADRE MASSIMO CENCI

“Sou teu, ó Cristo, salva-me”

por Giuliano Frigeni

O Bispo de Parintins lembra o amigo de uma vida inteira, falecido no dia 11 de maio, em Roma. O relacionamento entre eles e o encontro com Dom Giussani, que os ajudou “a viver a missão imediatamente”. Até a separação, que é um “novo início”

Um amigo dado e agora “retomado” por Aquele que nos tornou companheiros durante 44 anos para que pudéssemos ser fiéis à nossa humanidade e à missão a qual nos chamou. Eu e Massimo nos conhecemos no seminário do PIME (Pontifício Instituto Missões Exteriores), em Monza, na Itália. Tínhamos o mesmo desejo de viver até o fundo a vocação missionária que nos havia fascinado ouvindo os testemunhos de muitos velhos e jovens sacerdotes que voltavam da China, Japão, Birmânia, Bangladesh, Brasil e das missões africanas. O clima cultural e eclesial dos primeiros anos da nossa amizade (o início foi em 1968) era dominado por um desejo de renovação, causado pelo sopro do Espírito, que agitou a Igreja com o acontecimento do Concílio Vaticano II. Também nas universidades, nas fábricas, nas paróquias e nos seminários respirava-se um desejo de mudança. O encontro com Massimo, para mim, foi a doação de um amigo que não permitiu que eu “escorregasse” na utopia de uma mudança que fosse fruto de uma revolução das estruturas. Massimo tinha dado prioridade à sua humanidade e procurava alguém com quem compartilhar tudo: a fé, a vocação, a oração, o estudo. Esperávamos ansiosos pelo dia em que seríamos consagrados sacerdotes e enviados em missão.
Conosco, estavam muitos amigos do PIME que queriam a mesma coisa e, durante um período do caminho, vivemos em três o desejo de uma vida de comunhão que falasse por si, que não tivesse necessidade de explicação: que fosse apenas um estar juntos. Assim, fomos ajudados por nossos formadores a não perder o caminho e, enquanto seguíamos, Deus nos fez conhecer outros amigos que exatamente naqueles anos eram guiados por um padre milanês que Massimo tinha começado a seguir na paróquia de sua comunidade em Bresso: Dom Luigi Giussani. Na tempestade de 1968, muitos deixaram não só o seminário, mas também as igrejas e a Ação Católica. Muitos estudantes e universitários abandonavam o método e a experiência que Giussani tinha proposto e vivido com centenas de jovens e adultos nas escolas e universidades, por mais de quinze anos.
Foi assim que entramos em sintonia com a tenaz e lúcida proposta que Giussani fazia a todos sintetizando-a na expressão “Comunhão e Libertação”. Quando encontramos Giussani e lhe dissemos que éramos seminaristas do PIME nos sentimos não só abraçados, mas educados a ir a fundo naquele dom que o Senhor nos tinha dado e ele se tornou, para nós dois, Pai e Amigo. Um guia seguro em quem podíamos confiar porque nos ofereceu toda a sua humanidade, e todos os amigos que tinha, para nos ajudar a viver a missão “imediatamente” e, depois, no Brasil, quando viemos morar em Manaus a partir de 1979. Também ali Giussani veio nos encontrar junto com outros missionários do PIME e do Movimento Comunhão e Libertação. Nunca teria sido capaz de percorrer todo esse caminho se não tivesse tido Massimo ao meu lado, que sentia em sua carne como era essencial a Presença de Cristo em nossa amizade, nos amigos do Movimento e em toda a Igreja. Mas, sobretudo, na Igreja missionária, cheia de dificuldades, desafios, perigos.
Enquanto era ajudado a seguir e a obedecer a quem tinha um juízo mais claro e mais verdadeiro que o meu, oferecia a Massimo, e aos amigos em comum, aquilo que me era dado entender e experimentar em meu coração, aquilo que de bonito via crescer em Massimo e em todos aqueles que se deixavam envolver em nossa amizade. Esta era continuamente corrigida e endireitada pela vida real da missão, pelos compromissos a que o PIME nos chamava, pelo amadurecimento do Movimento que foi reconhecido também pelo Papa. Assim, por meio da obediência, dávamos passos cada vez mais comprometidos com a educação de futuros sacerdotes. Por um período me transferi para Florianópolis como reitor do seminário local do PIME, enquanto padre Massimo assumiu a mesma função em Manaus. Pertencer ao PIME, ao Movimento, à Igreja Missionária significava viver a nossa amizade como sinal da Misericórdia de Cristo da qual sentíamos uma inexaurível necessidade. Fomos, assim, chamados ao sacrifício da “separação” quando, em 1996, foi pedido a Massimo, primeiro para trabalhar na Nunciatura Apostólica em Brasília, e a mim, para ser Bispo de Parintins, na Amazônia, e logo depois, no ano 2000, quando a ele foi pedido para voltar para a Itália. Foi chamado a Roma para servir a congregação de Propaganda Fide, primeiro como conselheiro espiritual no seminário Urbaniano e depois como subsecretário da Congregação para a Evangelização dos Povos.
Agora, repentinamente, outra “separação” que é, para mim, um novo início dessa amizade que me foi dada para ser fiel, como foi Massimo em tudo aquilo que o Senhor lhe pediu para fazer. O Papa o estimava e amava porque aos seus olhos era um “humilde servo na vinha do Senhor”, que nunca esquecia sua humanidade e sua fraqueza. E, por isso, Massimo sempre gritou com todo o seu ser: “Sou teu, ó Cristo, salva-me”. Em todos esses anos, nunca vi padre Massimo abandonar alguém por ser frágil ou pecador: seminaristas, jovens, casais, padres, missionários, consagrados. Qualquer um que sentisse na própria carne ou nos relacionamentos a ferida do pecado original, encontrava em Massimo não só a Misericórdia do abraço de Cristo e da Virgem, mas a todos oferecia a sua amizade como método para viver no desejo de alcançar a felicidade e aquele Destino que agora vê e contempla. Agora, a nós só resta continuar fiéis à amizade que nos foi doada com abundância em rostos precisos, cheios de concretude. Para mim e para muitos amigos que o amaram assim como era, padre Massimo sempre nos estimulou a ir além da nossa pobreza para viver apenas da riqueza do Amor de Cristo que é aquilo que temos de mais caro.


O necrológio de padre Julián Carrón e de CL

Padre Julián Carrón e todo Comunhão e Libertação participam da dor da Igreja pelo falecimento de padre Massimo Cenci.
O encontro com o carisma de Dom Giussani aguçou nele a paixão missionária de que Cristo fosse amado pelos irmãos homens até os extremos confins da Terra, especialmente onde não é ainda conhecido. Gratos por tê-lo visto colaborar com a vontade do Pai na história como testemunha de uma fé que salva todo o humano, pedimos ao Senhor que recompense pela eternidade o seu testemunho missionário e a fidelidade ao Santo Padre e à Igreja Universal.

Milão, 12 de maio de 2012


 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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