Há dias em que, ao folhar os jornais, parece-nos desfiar um rosário de mistérios dolorosos. Violências impensáveis, no Brasil e no mundo, terremoto na Itália. Depois, a onda amarga daqueles títulos sobre os “corvos no Vaticano” e os papéis roubados da casa de Bento XVI. Pense no Pontífice, na tristeza que deve carregar no coração, e é difícil não sentir uma dor aguda, um mal-estar que certamente não é aliviado com comentários do tipo “estamos com o Papa, mas é preciso fazer uma limpeza”, nem pelos que nos lembram – ainda que com razão – que “no fundo, a Igreja é feita de homens”.
Homens, claro, erram. E nós também erramos. Lá no Vaticano, no coração do coração do mundo, naquele pedaço de história do qual Cristo se apropriou para sempre para permanecer na história; e aqui, nos atos minúsculos – ou grandes – das nossas vidas quotidianas. Todos erramos, pecamos, mas sofremos com isso. O que poderá evitar que sejamos esmagados por essa dor?
É aí que o pensamento retorna ao editorial do último número de Passos. Era a carta de Julián Carrón publicada no jornal Repubblica em maio. Ali também se fala de erros e dor. Outros erros, de outro tipo, mas “a dor indizível de ver o que fizemos com a graça que recebemos”. Impressiona retomá-la e ler as reportagens dos jornais. Porque, de certo modo, ali encontramos tudo: a raiz do erro (o deixar prevalecerem os nossos projetos, a “hegemonia”, sobre o fascínio da presença de Cristo) e o que nos possibilita não nos deixarmos esmagar por eles: “Como o povo de Israel, podemos ser despojados de tudo, ser até mandados para o exílio, mas Cristo, que nos fascinou, permanece para sempre. Não é derrotado pelas nossas derrotas”.
Permanece para sempre. Mas onde?
Eis aí o fascínio indestrutível da fé. Diante dessa pergunta – “onde?” –, o olhar não gira no vazio. Pode repousar num ponto, num rosto: o Papa. Captamos que a salvação está ali, nesse eixo que à primeira vista parece fragilíssimo, mas que serve de ponto de apoio para a fragilidade de todos nós, inclusive dos que estão mais próximos dele. Um nada, um ponto que parece sempre na iminência de ser arrastado pela tempestade. Mas permanece lá, irredutível. Desde sempre. “A casa construída sobre a rocha da fé não cede”, como lembrou o próprio Bento XVI recentemente. O eu, a pessoa gerada pela fé, pode balançar, mas não cai. Nem mesmo em meio às crises. Nem diante dos terremotos. E a rocha, a âncora da fé, é Pedro. Tão obstinadamente irredutível que se torna capaz, por exemplo, de indicar a todos uma estrada clara e nítida mesmo nestes tempos de escuridão, como fez com o formidável discurso dirigido à Assembleia dos bispos italianos, que pode ser lido nas páginas a seguir.
É por isso que também publicamos uma síntese dos seus discursos às famílias e ao mundo durante o Encontro Mundial das Famílias realizado no início de junho em Milão. É um outro instrumento para segui-lo de perto. E para responder àquele “onde?”. E nos tornarmos mais homens.
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