Sobieski, Graal, Lepanto... Nomes que lembram personagens e acontecimentos da história cristã. Mas são nomes de grupos, na Itália e no exterior, de jovens estudantes. Fomos conhecê-los para descobrir o que eles mais desejam
Sábado à tarde, entre as mesinhas dos bares que dão para a praça da Catedral, em Centuripe (Sicília, Itália), cidadezinha de seis mil habitantes, há muita agitação. Alguém pergunta: “Mas eles vêm?”. “Quem sabe o que terão inventado desta vez”. “Vejam, lá estão eles!”. Cinquenta jovens, entre onze e catorze ano, enchem a praça. Riem, brincam, mas quando o professor Gaetano começa a explicar o jogo, todos ficam em silêncio, atentos. E aí começa. Do alto da praça, um senhor sugere: “Atenção, você com a camiseta vermelha, eles vão te pegar!”. Um outro comenta: “São um espetáculo!”. Uma senhora que passava pergunta: “Mas quem são eles?”. Um rapazinho responde com orgulho: “Somos os Cavaleiros da Estrela. Nossa Senhora da Estrela”. No final, vencedores e vencidos, juntos, dirigem-se ao salão paroquial para: estudar, contar como foi a semana e, depois, para a oração.
A mil quilômetros de distância, na quarta-feira, uma cena semelhante se repete no pátio do oratório da rua Rosselli al Corvetto, bairro da periferia de Milão: oitenta jovens jogam e, depois, encontram-se para conversar com alguns professores. Eles são os Cavaleiros de Sobieski.
Disseminados por toda a Itália e pelo mundo, eles são os Cavaleiros do Cid, do Infinito, de São Januário, da Companhia da Amizade, dos Remadores de Lepanto, dos Caçadores do Graal... Nomes importantes porque o que desejam é importante: ser amigos de Jesus. Porque alguém lhes propôs que estar com Ele torna a vida mais bela e interessante. Não há nada de abstrato nisso. Sabem-no muito bem os adultos, professores e pais envolvidos nessa aventura educativa.
Enquanto os jovens jogam bola, a professora Vera explica: “É uma vida. Nos encontros eles falam das dificuldades com um colega de classe, da dor pela morte de um parente... Eles se expõem de corpo inteiro, percebem imediatamente se as tuas palavras são vazias ou plenas de experiência. Os garotos expressam palavras vivas. A gente não pode andar para trás, senão saímos perdendo”. Ela para por um instante, olha para o lado e grita: “Davide, não tente dar uma de espertinho! Jogue com o time!”. O rapazinho em questão para, olha para ela e passa a bola.
Simone, treze anos, ele foi pela primeira vez ao grupo dos Cavaleiros da sua escola, em Seveso, revela: “porque uma amiga me convidou. Eu estava no ginásio. No início, sempre estávamos juntos, eu e ela, depois nos separamos, porém eu nunca abandonei esta companhia. Quando minha avó morreu, eu fiquei muito abatido. Depois, no corredor da escola, Anna me disse: ‘Sua vovó agora está feliz’. Isso me levantou. Só um Cavaleiro podia me dizer uma coisa dessas. Eles ajudam sempre, perguntam-nos: posso te ajudar?”.
Luca, mesma idade, intervém: “A mim me propuseram: ‘Venha e depois você vai enxergar as coisas de um modo diferente, e ficará feliz’. É verdade. É bacana o relacionamento pessoal que existe com os professores, por exemplo, com Alfredo a gente se reúne para ver um filme ou jogar, em fim, é diferente”.
Eles têm dificuldade para descrever com palavras a tensão que sentem, mas, como diz Anna, “até minha mãe percebeu que alguma coisa mudou em mim. Eu falo pouco com ela, mas a sexta-feira é o único dia em que lhe conto como foi a semana”.
Alguma coisa muda o relacionamento com os colegas. Michela: “Eu percebi que a gente pode mudar o juízo negativo que tem a respeito de uma pessoa, no entanto, percebo que antes não era assim, mas Jesus toca o nosso coração e abre os nossos olhos”.
TRÊS REGRAS. Em Turim, Giulia fala daquele colega do qual todos zombam, porque é antipático. A professora Daniela lhe diz: “Convide-o para vir com a gente”. Giulia fica pensando. No sábado seguinte, quando se encontram, conta à professora: “Eu convidei aquele colega... Não veio porque é antipático. Mas fiquei contente de ter convidado”. Os cavaleiros não deixam escapar nenhum desafio.
Além-mar, em Washington, os Cavaleiros de São Clemente existem há mais de cinco anos. Quarenta jovens encontram-se com Pe. Roberto Amoruso e com algumas mães, toda sexta-feira, na paróquia: merendam, jogam e têm momentos de diálogo. Eles sugerem entre eles estas regras: 1. Jesus está propondo algo de grande para você agora. 2. Se você O reconhecer, diga ou escreva. 3. Se não O reconhecer, recite um Memorare para vê-Lo.
Nada, para eles, é óbvio, por exemplo, quando saiu a pergunta: “Como olhar as outras pessoas?”. Ou quando discutiram a respeito da diferença entre gosto (“I like”) e amo (“I love”); isto é, amo o outro como Jesus me ama? Instituíram dois “fundos comuns”: um, de dinheiro, para cobrir as várias exigências do grupo; e outro..., de Memorare; em que num livro escrevem quantas vezes recitaram a oração.
Conta Pe. Roberto: “O relacionamento entre eles é profundo, até os professores, na classe, percebem isso. Chamam a atenção uns dos outros. São mais atentos”.
Eloisa é arquiteta em Lyon (França). Ela se envolveu com a experiência dos Cavalieri quando os filhos chegaram à idade de frequentar o Ensino Médio. Os Cavaleiros reuniam- se a cada quinze dias, e nas férias, com os colegas italianos... Depois os filhos da arquiteta cresceram e ela não sabia se eles iriam continuar. Mas, um dia a mãe de Gabriel, ao encontrá-la, lhe diz: “Meu filho me pergunta sempre quando vocês vão se ver”. É um desafio para Eloisa. Hoje são dois Cavaleiros: Gabriel e um rapazinho muçulmano.
Uma coisa é certa: para cada um desses jovens, essa é uma experiência fascinante, que eles levam muito a sério. Jesus é o amigo que se torna companheiro; eles já experimentaram que com Ele a vida é mais bela. Na escola, em casa, nas férias. Por isso, uma vez por ano renovam a promessa de fidelidade a Ele. É “a Promessa”.
A ESCOLHA DO SANTO. Dois dias em locais onde se pode ver o que o homem soube criar como expressão daquilo que o coração busca. É o encontro com a Beleza. Os afrescos da Cappella degli Scrovegni (em Pádua), o Davi de Michelangelo, os pináculos da Catedral... E depois o gesto. Na Basílica de Santo Ambrósio (Milão), em San Miniato (entre Florença e Pisa), em Montreal (Canadá), na igreja de Santo Antonio (Pádua), e em muitas outras igrejas, um a um, eles se postam em frente ao altar e diante do padre recitam a oração do Cavaleiro. Eles mesmos fazem tudo. Pedem ajuda a um santo, para que os proteja. E a escolha não é casual. Simon: “Escolhi são Martinho porque era um cavaleiro que se converteu ao cristianismo, mas hesitava entre o exército e a Igreja. É mais ou menos como eu, porque tenho muitas perguntas sobre Deus e sobre a vida”. Federico: “Peço proteção a São Pedro, que dizia que nunca trairia Jesus, mas o traiu e depois se arrependeu”. Simone: “Escolhi Santa Lúcia. É o nome da minha professora e é a padroeira dos eletricistas, que é a profissão do meu pai...”.
E na volta Teresa escreveu: “Depois da Promessa, eu sentia que tinha algo de novo, mas nem sei dizer o que é”. Você tem todo o tempo do mundo para descobrir, Teresa.
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