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Passos N.139, Julho 2012

SOCIEDADE - Companhia das Obras

O trabalho como expressão de quem somos

por Ângela Lopes e Renato Braga Fernandes

O 1º Fórum Nacional da Companhia das Obras do Brasil, ocorrido em Belo Horizonte de 8 a 10 de junho, propôs como tema "No caminho da liberdade". Com a presença de Bernhard Scholz, o Presidente Internacional da CdO, reuniu profissionais, obras sociais e empresas. Um momento de comparação de experiências, perante os desafios que a realidade nos impõe

“Vamos procurar compreender o que é a obra, a empresa (em suas dinâmicas originais). Nessa tarde, vos peço: não se perguntem ‘o que devo fazer?’. Isso faremos amanhã de manhã. Porque o que fazemos é sempre expressão de quem somos... A pergunta de hoje é: ‘Por que acontece aquilo que acontece?’ (Por que alcançamos certos resultados e outros não? Por que alguns colaboradores são motivados e outros não? Por que em alguns setores somos organizados e as coisas vão bem e em outros não?). Temos que compreender as causas daquilo que acontece. A primeira questão é a relação entre uma pessoa e uma organização (que pode ser uma empresa social, uma multinacional, uma pequena empresa, um partido, um clube de futebol, uma escola... Essas são todas organizações). Uma organização é um conjunto de pessoas que juntas buscam alcançar um objetivo. Vamos agora começar a ver a pessoa.”
Foi assim, de modo direto e simples, questionador e pontual, que o alemão Bernhard Scholz – radicado na Itália, Presidente Internacional da Companhia das Obras (CdO) desde 2008 e consultor de empresas multinacionais – iniciou o “I Fórum Nacional da CdO do Brasil - No Caminho da Liberdade”. O encontro ocorreu no Dayrell Minas Hotel, em Belo Horizonte (MG), do dia 08 ao dia 10 de junho de 2012. Profissionais de empresas com e sem fins lucrativos vieram de três países, oito estados e treze cidades brasileiras, para participar do evento.
“As perguntas são o começo da sabedoria.” Isso reflete tanto o jeito como muitas pessoas chegaram ao evento, quanto o método de trabalho que Scholz instigou a todos a aprender, ao longo dos dias. Pois, como ele bem explicitou: “O homem não consegue mudar sozinho. Para chegar às causas dos problemas é necessário fazer perguntas. Nós somos mais fortes pelas perguntas que fazemos do que pelas respostas que damos. Com a pergunta você ‘chama pra fora’ àquilo que já está dentro da pessoa”. Assim, como se segurasse um candelabro de ouro, para esclarecer e iluminar a todos, Bernhard Scholz ministrou na sexta-feira, 8 de junho, um dos seus cursos de Escola de Empresas, intitulado:“Construir obras e empresas em um mundo que muda”. Nele, fez um traçado, para identificar qual o caminho ideal de desenvolvimento num mundo com tantas mudanças e turbulências. De modo a não se tornar escravos de acontecimentos tão imprevisíveis e incertos. Certamente, por isso, fixou o tema sobre o valor da pessoa. A necessidade de recolocá-la na postura adequada – como protagonista como ponto central da obra, da empresa. Sempre com uma nova pergunta e o convite de enfrentá-las juntos. Colocou questões como: “o que é uma obra, uma empresa, a CdO? Por que e o que significa delegar? Por que esse é um instrumento que ajuda muito no trabalho sem ele, ninguém cresce.?”. Ao lado de perguntas como: “Qual a finalidade do meu trabalho? Para quem trabalho? Qual a consistência da minha vida? Que diálogos preciso estabelecer com os meus amigos (de trabalho e da CdO), nessa história? Onde aprender a se relacionar com a realidade? Por que se colocar juntos?” Um caminho que também auxiliou a compreender o “como” a CdO do Brasil pode ajudar neste trabalho. E qual é o seu método.

“Uma obra só nasce quando uma pessoa é capaz de dizer eu”. Baseado justamente na fidelidade desta provocação foi que um grupo de amigos de Belo Horizonte realizou o 1º Fórum Nacional da Companhia das Obras. No qual profissionais, amigos e pessoas interessadas em geral vieram compartilhar suas experiências de trabalho em empresas, obras sociais, saúde e educação.
O Fórum demonstrou que a CdO é um espaço de ajuda a cada pessoa, para que se torne protagonista da sua própria vida, do seu trabalho, suas relações, afim de permitir que floresça paulatinamente uma contribuição significativa, para a organização em que está inserido. E isso foi experimentável entre os que participaram da organização desse momento. Cada um se descobriu na ação, no se ajudar a pensar e fazer juntos o Fórum. Fundamentalmente, por que estava baseada em algo antes da organização, antes da estruturação, antes de tudo. Sobretudo embasada na confiança mútua, enraizada em uma amizade que doa a certeza de que se não sabemos como fazer... Podemos, ainda assim fazer, por que podemos nos apoiar mutuamente e encontrar soluções juntos.
Foi uma beleza poder ver que as perguntas e o compartilhamento de experiências foram um método importante. Diversas pessoas tiveram oportunidade de colocar seus principais desafios no ambiente de trabalho e encontraram juízos concretos a partir da experiência de Bernhard e de outras pessoas que atuam no mesmo segmento. Inclusive as pessoas que não têm um cargo de chefia e que são desafiadas no relacionamento com seus colegas também foram ajudadas: “Se você trabalha com pessoas que tem uma visão diferente da sua, você não deve investir em repropor aquilo que quer, mas centrar o foco na pessoa: e no você o que quer? O que espera deste trabalho que fazemos juntos?”, afirmou Bernhard Scholz.

“O tempo de crise é o tempo da pessoa”. Diferentemente do Brasil que cresce, na Europa não se cresce mais. Então, agora, há um grande perigo de que as pessoas percam a liberdade. Por que se identificam de tal maneira com o crescimento econômico que quando o crescimento econômico não ocorre mais elas também caem. Bernhard Scholz falou de como essa crise nos coloca diante de uma pergunta muito importante: “Mas você, a sua existência, depende do andamento da economia ou de outra coisa? Essa pergunta é muito importante, tanto que concedemos em um encontro a palavra também a um empresário cuja empresa fechou. E ele concluiu: ‘A minha empresa faliu, mas eu não!’ E ele disse isso com grande sofrimento, mas também com grande liberdade!” Isso significa, segundo Scholz, que aquilo que no momento de crise se torna evidente é também verdade no momento do sucesso. O problema, tanto no sucesso quanto no fracasso, é sempre o mesmo: “Quem é você?”. Porque se eu me identifico apenas com aquilo que consigo fazer eu me torno escravo do meu projeto.
A Companhia das Obras é um espaço para compartilhar um ideal e viver uma amizade operativa que tem consciência de que cada pessoa tem todas as capacidades necessárias para modificar, mudar, melhorar este espaço de mundo que lhe foi dado. Mas o método não está em fornecer respostas, e sim em ajudar cada pessoa a fazer o caminho da liberdade rumo ao ideal último.
E este caminho foi demonstrado na abertura oficial do evento que contou com a presença de políticos e dirigentes de associações e empresas. Marcos Zerbini, Deputado Estadual em São Paulo, afirmou que a Companhia das Obras é uma companhia essencial que o ajuda no caminho da vida. Marcus Pestana, Deputado Federal de Minas Gerais, fez um paralelo entre os valores de trabalho, liberdade, solidariedade e subsidiariedade da Companhia das Obras com seus valores pessoais, que convive como político. Sérgio Cavalieri, Presidente do Conselho Administrativo do Grupo ASAMAR e Presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa, afirmou que vê o trabalho da Companhia das Obras como um trabalho importante para a sociedade, que tem valores e ações similares a associação que preside, que busca inserir a Doutrina Social da Igreja como ponto de partida para a gestão de empresas.
O primeiro dia do evento também foi lançado o vinho personalizado Reserva Especial a “Don Virgílio Resi”, uma ação filantrópica da Associação Don Virgílio por ocasião de seus 10 anos de falecimento, feita em parceria com a Vinícola Perini (Jota PE), para destinação direta de doação para as Obras Educativas Padre Giussani e o Centro de Educação para o Trabalho Virgilio Resi. No fim da manhã de sábado houve a apresentação inusitada do contador de histórias Roberto de Freitas. À noite, a amizade operativa dos artistas Chico Lobo e João di Souza brindou a todos – do Fórum e do público presente –, com o lançamento do CD: “O Tenor e o Violeiro” que lotou o Teatro Alterosa para assistir a união entre clássicos da música erudita com clássicos da viola caipira. Um exemplo da beleza e concretude de uma amizade operativa.
Domingo, no encerramento, Bernhard Scholz reforçou a importância do papel da Companhia das Obras do Brasil: uma associação, uma amizade operativa. No centro da CdO estão as obras e no centro das obras estão as pessoas. A atividade da CdO se articula em iniciativas que têm o objetivo de afirmar a centralidade da pessoa em qualquer contexto social ou de trabalho e de promover uma concepção do homem, do mercado e do estado inspirada nos princípios de liberdade responsável, solidariedade e subsidiariedade.
O 1º Fórum Nacional da Companhia das Obras marcou também um repropor desta associação de pessoas no Brasil. A partir de julho os trabalhos terão continuidade localmente por meio de vários instrumentos para que cada pessoa, independente do segmento em que atua, possa ser ajudada a entrar em sua realidade, a verificar a experiência de trabalho que lhe foi dada sem tirar nada, com uma inteligência que o ajuda a compartilhar tudo.


Um critério ideal, uma amizade operativa

A Companhia das Obras nasceu em 1986, na Itália, como associação entre empreendedores que desejavam valorizar os próprios recursos humanos e econômicos para concorrer ao bem comum.

A atividade da CdO se articula em iniciativas que têm o objetivo de afirmar a centralidade da pessoa em qualquer contexto social ou de trabalho e de promover uma concepção do homem, do mercado e do estado inspirada nos princípios de liberdade responsável, solidariedade e subsidiariedade.
Hoje, a CdO está presente em 17 países do mundo - no Brasil, desde 1986 -, envolvendo mais de 36.000 empresas e obras associadas, com e sem fins lucrativos.

A CdO difunde a cultura e o valor da colaboração em todos os níveis da vida social e empresarial, para acompanhar os associados no caminho de mudança, crescimento e desenvolvimento que cada um é chamado a fazer. O clima de amizade operativa que nasce do relacionamento entre e com os associados se declina em propostas e serviços específicos nos diversos âmbitos onde a CdO está presente, entre os quais, a formação, a internacionalização, a constituição de redes entre empresas, os serviços para a inovação, as parcerias e os instrumentos de financiamento e o apoio a obras educativas e sociais.


 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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