A Equipe do CLU
La Thuile.
Não é simples descrever o que vivi na Equipe dos Universitários (CLU), tal a riqueza experimentada. Em poucas linhas vou tentar expor os pontos que mantenho comigo e que me acompanham, sem querer esgotar tudo o que aconteceu em La Thuile, de 29 de agosto a 1º de setembro.
O primeiro ponto é a insistência sobre as circunstâncias como fator essencial e não secundário da nossa vocação. Foi admirável ver como Julián Carrón, que compartilhou conosco todos os momentos, captava cada coisa como ocasião para a sua maturidade e não hesitava em repropô-la a nós desse modo. Aos seus olhos, nada era banal, tudo vinha revestido da sua humanidade atenta e receptiva a qualquer sugestão que a realidade traz consigo. Como nas assembleias: Carrón se deixava provocar pelas intervenções, relançando a todos as perguntas que lhe eram feitas.
Pontos fortes. “Em geral reduzimos o nosso eu aos erros que cometemos; por que, ao contrário, não somos esta redução? Esse é o primeiro desafio, que dominou toda a assembleia da manhã e que permitiu a Carrón um aprofundamento sobre o uso da razão, frequentemente reduzida a esse racionalismo que – como dizia o Papa em Bundestag – nos encerra dentro de “edifícios de concreto armado, sem janela, nos quais damos a nós mesmos, sozinhos, o clima e a luz, e não queremos mais receber ambas as coisas do vasto mundo de Deus”. Frente a todas as circunstâncias que nos “sufocam”, podemos começar a tomar consciência de que somos feitos e buscar na experiência aqueles fatores que mostram claramente que não somos apenas os sentimentos que experimentamos ou os erros que cometemos.
A segunda questão que dominou a assembleia foi posta por um professor a um estudante de Bolonha: “Você já viu Deus?”. Carrón, mais uma vez, devolveu a nós a pergunta, exortando-nos a encontrar na experiência os elementos com os quais precisamos nos confrontar e graças aos quais, crente ou não, nós admitimos e reconhecemos a existência do divino. Porque só uma resposta que tenha esse ponto de partida pode satisfazer, a nós antes de tudo, e pode permitir que os outros não nos identifiquem com um “grupo”.
A referência contínua à experiência – o leitmotiv de Carrón ao responder a todas as questões colocadas – é um apelo metodológico fundamental e nada óbvio, sobretudo para quem vive no ambiente acadêmico, onde tudo leva a nos afastarmos da própria experiência ao julgar a realidade. Fora da experiência poderíamos até repetir certas frases, mas elas não seriam persuasivas. Por isso, diante desse professor é preciso colocar em jogo aqueles dados que façam emergir “pontos fortes” que qualquer um pode reconhecer.
A verdadeira novidade. Foi esse o espetáculo da segunda assembleia, onde muitos contaram a própria experiência: do encontro com um professor argentino – que, depois de uma partida de futebol e um jantar com alguns alunos, admitiu: “Foi a experiência mais bonita da minha vida” –, a Verônica, que contou como tudo mudou nela depois de encontrar pessoas que a aceitaram tal como ela era, só pelo fato de ela existir, depois de terem conhecido todos os seus limites.
É essa a força do que temos diante de nós, capaz de resistir e de responder à hegemonia cultural em que vivemos: fatos que não podem ser reduzidos aos nossos pensamentos e que nos “obrigam” a admitir a existência de um além.
Para nos acompanhar no trabalho houve também os testemunhos de Giorgio Vittadini e Alberto Savorana: um claro exemplo do que, justamente na hegemonia cultural, o estímulo das circunstâncias é para o nosso amadurecimento. Vimos homens que, sem se esconder nem evitar nada, em todo o ano passado até à grande ocasião que foi o Meeting de Rímini, se deixaram questionar pelo que acontecia, captando tudo como possibilidade para a própria mudança. Depois ficamos impressionados com o modo como Carrón se envolveu conosco no almoço e no jantar, com a mesma intensidade dos momentos de trabalho comum e com a possibilidade de se envolver mais pessoalmente. Assim acontece que, à mesa, emergem as perguntas de cada um, as dificuldades. E Carrón não dá um passo para trás. Várias vezes vem à tona a dor por ainda estarmos distantes do que vemos testemunhado diante de nós. Mas ele nos convida a observar isto: “Que a fraqueza seja fraca não é novidade: a verdadeira novidade é que há Alguém que continuamente nos acolhe; é preciso dar espaço ao que existe, e não ao que não existe”. Uma revolução no modo de nos concebermos, o primeiro modo no qual retomamos.
Ajuda na luta. A síntese esclareceu bem um fato: nós consideramos coisa óbvia o fato de existirmos. Damos por evidente que existimos, e isso não nos torna conscientes do fato de que – justamente porque existimos – há Alguém que nos quer agora. É a consequência do racionalismo que nos invadiu e contra o qual começa a luta no momento em que algo nos prende e reabre a partida.
Uma ajuda nessa luta chegou com Marco Bersanelli, astrofísico, que na última noite nos contou e mostrou a imensidão do Universo, levando-nos a tomar consciência de novo da excepcionalidade do homem, o único capaz de admirar tudo o que existe.
Nos dias deste encontro em La Thuile redescobri, sobretudo, a conveniência de ser cristão. E a gratidão a Alguém que, sem jamais se cansar, mendiga a minha humanidade e me arranca do esquecimento. Junto com isso, cresce cada vez mais o desejo de conhecer Aquele que encontrei e de comunicá-Lo ao mundo que O aguarda.
Mattia Fasana
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón