BENTO XVI
Sua Beatitude, Irmãos Bispos, Senhor Presidente, queridos amigos!
“Graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso” (2 Ped 1, 2). A passagem da carta de São Pedro, que ouvimos, exprime bem o grande desejo que há muito tempo trago no meu coração. Obrigado pelo vosso caloroso acolhimento, obrigado de todo o coração pela vossa presença tão numerosa nesta tarde! (...)
Queridos amigos, cabe a vós viver hoje nesta parte do mundo que viu o nascimento de Jesus e o desenvolvimento do cristianismo. É uma grande honra! E é um apelo à fidelidade, ao amor pela vossa terra e sobretudo para serdes testemunhas e mensageiros da alegria de Cristo, porque a fé transmitida pelos Apóstolos leva à liberdade plena e à alegria, como manifestaram tantos Santos e Beatos deste país. A sua mensagem ilumina a Igreja universal; e pode continuar a iluminar as vossas vidas. Muitos dos Apóstolos e dos Santos viveram períodos conturbados, e a própria fé foi a fonte da sua coragem e do seu testemunho. Extraí do seu exemplo e intercessão a inspiração e o apoio de que precisais.
Conheço as dificuldades que sentis na vida diária, por causa da falta de estabilidade e segurança, da dificuldade em encontrar emprego ou ainda do sentimento de solidão e marginalização. Num mundo em contínua mudança, enfrentais numerosos e graves desafios. O próprio desemprego e a precariedade não devem vos impelir a provar o “mel amargo” da emigração, com o desenraizamento e a separação em troca de um futuro incerto. Tendes de ser protagonistas do futuro do vosso país e assumir a vossa função na sociedade e na Igreja.
Ocupais um lugar privilegiado no meu coração e na Igreja inteira, porque a Igreja é sempre jovem. A Igreja confia em vós; conta convosco. Sede jovens na Igreja. Sede jovens com a Igreja. A Igreja precisa do vosso entusiasmo e criatividade. A juventude é o tempo em que se anela por grandes ideais, e o período em que se estuda preparando-se para uma profissão e um futuro. Isto é importante e requer tempo. Procurai o que é belo, e comprazei-vos na prática do bem. Dai testemunho da grandeza e dignidade do vosso corpo, que “é para o Senhor” (1 Cor 6, 13). Conservai a delicadeza e a retidão dos corações puros. Na linha do Beato João Paulo II, repito também eu: “Não tenhais medo! Abri as portas das vossas almas e dos vossos corações a Cristo”. O encontro com Ele “dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo” (Deus caritas est, 1). Nele, encontrareis a força e a coragem para avançar nos caminhos da vossa vida, superando as dificuldades e o sofrimento. Nele, encontrareis a fonte da alegria. Cristo vos diz: "Dou-vos a minha paz" (Jo 14, 27)! Esta é a verdadeira revolução trazida por Cristo: a do amor.
As frustrações presentes não devem vos levar a buscar refúgio em mundos paralelos, como por exemplo o mundo das drogas de todo o tipo ou o mundo triste da pornografia. Quanto às redes sociais, são interessantes, mas podem, com facilidade, levar-vos à dependência e à confusão entre o real e o virtual. Procurai e vivei relações ricas de amizade verdadeira e nobre. Cultivai iniciativas que deem sentido e raízes à vossa existência, lutando contra a superficialidade e o consumismo fácil. Estais de igual modo sujeitos a outra tentação: a do dinheiro – este ídolo tirânico que cega até ao ponto de sufocar a pessoa e o seu coração. Infelizmente os exemplos que vedes ao redor não são sempre dos melhores. Muitos se esquecem da afirmação de Cristo: não se pode servir a Deus e ao dinheiro (cf. Lc 16, 13). Procurai bons mestres, guias espirituais que saibam indicar-vos o caminho para a maturidade, pondo de lado o que é ilusório, aparência e mentira.
Sede os portadores do amor de Cristo. Como? Voltando-vos sem reservas para Deus, seu Pai, que é a medida do que é justo, verdadeiro e bom. Meditai a Palavra de Deus. Descobri o interesse e a atualidade do Evangelho. Rezai. A oração, os sacramentos são os meios seguros e eficazes para ser cristão e viver “enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). O Ano da fé, que está quase começando, será uma oportunidade para descobrir o tesouro da fé recebida no Batismo. Podeis aprofundar o seu conteúdo através do estudo do Catecismo, para que a vossa fé seja viva e vivida. Assim vos tornareis, para os outros, testemunhas do amor de Cristo. Nele, todos os homens são nossos irmãos. A fraternidade universal, que Ele inaugurou na Cruz, reveste de uma luz brilhante e exigente a revolução do amor. “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34). Este é o testamento de Jesus e o sinal do cristão. Aqui está a verdadeira revolução do amor.
E assim Jesus vos convida a proceder como Ele, a acolher o outro sem reservas, mesmo que pertença a cultura, religião, nação diferentes. Dar-lhe lugar, respeitá-lo, ser bom com ele torna-vos sempre mais ricos em humanidade e fortes com a paz do Senhor. Sei que muitos de vós participam nas diversas atividades promovidas pelas paróquias, escolas, movimentos, associações. É bom comprometer-se com os outros e pelos outros. Viver, juntos, momentos de amizade e alegria permite resistir aos germes de divisão, que devemos combater sem cessar. A fraternidade é uma antecipação do Céu. E a vocação do discípulo de Cristo é ser “fermento” na massa, como afirmava São Paulo. Sede os mensageiros do Evangelho da vida e dos valores da vida; resisti corajosamente a tudo o que a nega: o aborto, a violência, a rejeição e o desprezo do outro, a injustiça, a guerra. Deste modo, propagareis a paz ao vosso redor. No fim de contas, não são os “obreiros da paz” aqueles que mais admiramos? E não é a paz o bem precioso que toda a humanidade procura? Porventura não é um mundo de paz aquilo que mais profundamente desejamos para nós e para os outros? "Dou-vos a minha paz", disse Jesus. Ele venceu o mal não com outro mal, mas tomando-o sobre Si e aniquilando-o na cruz com o amor vivido até o fim. Descobrir verdadeiramente o perdão e a misericórdia de Deus permite sempre recomeçar uma nova vida. Não é fácil perdoar; mas o perdão de Deus dá a força da conversão, e a alegria de, por nossa vez, perdoar. O perdão e a reconciliação são caminhos de paz, e abrem um futuro.
Queridos amigos, com certeza muitos de vós se interrogam de forma mais ou menos consciente: O que é que Deus espera de mim? Que projeto tem para mim? Desejará que eu anuncie ao mundo a grandeza do seu amor por meio do sacerdócio, da vida consagrada ou do matrimônio? Não me chamará Cristo para segui-lo mais de perto? Debruçai-vos confiadamente sobre estas questões. Encontrai tempo para refletir nelas e pedir luz. Respondei ao convite, oferecendo-vos diariamente Àquele que vos chama a ser seus amigos. Procurai seguir com coração generoso a Cristo que, por amor, nos resgatou e deu a vida por cada um de nós. Conhecereis uma alegria e uma plenitude inimagináveis. Responder à vocação que Cristo prevê para cada um: está aqui o segredo da verdadeira paz.
Ontem, assinei a Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente. Esta carta destina-se também a vós, queridos jovens, como a todo o povo de Deus. Procurai lê-la com atenção e meditá-la, para pô-la em prática. Para vos ajudar, recordo-vos as palavras de São Paulo aos Coríntios: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações” (2 Cor 3, 2-3). Também vós, queridos amigos, podeis ser uma carta viva de Cristo. Esta carta não estará escrita em papel nem com a caneta; será o testemunho da vossa vida e da vossa fé. Assim, com coragem e entusiasmo, fareis compreender ao vosso redor que Deus quer a felicidade de todos sem distinção, e que os cristãos são os seus servos e testemunhas fiéis.
Jovens libaneses, sois a esperança e o futuro do vosso país. Vós sois o Líbano, terra de acolhimento, de convivência, com esta capacidade incrível de adaptação. E neste momento, não podemos esquecer os milhões de pessoas que formam a diáspora libanesa e mantêm laços sólidos com o seu país de origem. Jovens do Líbano, sede acolhedores e abertos, como Cristo vos pede e como o vosso país vo-lo ensina.
Queria agora saudar os jovens muçulmanos que estão conosco nesta tarde. Obrigado pela vossa presença, que é tão importante. Sois, juntamente com os jovens cristãos, o futuro deste país maravilhoso e de todo o Médio Oriente. Procurai construí-lo juntos! E, quando fordes adultos, continuai a viver a concórdia na unidade com os cristãos; é que a beleza do Líbano encontra-se nesta bela simbiose. É preciso que o Médio Oriente inteiro, pondo os olhos em vós, compreenda que os muçulmanos e os cristãos, o islã e o cristianismo, podem viver juntos, sem ódio e no respeito das crenças de cada um, para construírem juntos uma sociedade livre e humana.
Soube ainda que há entre nós jovens vindos da Síria. Quero dizer-vos o quanto admiro a vossa coragem. Dizei em vossa casa, aos vossos familiares e aos vossos amigos que o Papa não vos esquece. Dizei ao vosso redor que o Papa está triste por causa dos vossos sofrimentos e lutos. Não esquece a Síria nas suas orações e preocupações. Nem esquece as populações do Médio Oriente que sofrem. É tempo que muçulmanos e cristãos se unam para pôr termo à violência e às guerras.
Ao terminar, voltemo-nos para Maria, a Mãe do Senhor, Nossa Senhora do Líbano. Do alto da colina de Harissa, Ela vos protege e acompanha, vela como uma mãe sobre todos os libaneses e tantos peregrinos que vêm de toda a parte para Lhe confiar as suas alegrias e penas. Nesta tarde, confiamos à Virgem Maria e ao Beato João Paulo II, que esteve aqui antes de mim, as vossas vidas, as de todos os jovens do Líbano e dos países da região, especialmente aqueles que sofrem por causa da violência ou da solidão, aqueles que precisam de conforto. Deus vos abençoe a todos! E agora todos juntos, rezemos-Lhe: (Ave, Maria,…).
VIAGEM APOSTÓLICA AO LÍBANO
14-16 DE SETEMBRO DE 2012
ENCONTRO COM OS JOVENS
DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Patriarcado Maronita de Bkerké
Sábado, 15 de Setembro de 2012
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón