Assim que a porta do elevador se fecha, ela fica sozinha e começa a chorar. Todas as vezes que sai desta casa é assim. Clara vem aqui a cada vinte dias, há dois anos. É enfermeira em domicílio e tem a tarefa de trocar o cateter de Adele. Vê-la é sempre um golpe no coração: tem a mesma idade que ela, quarenta anos, mas vive numa cama. A esclerose múltipla a atingiu na época que cursava a universidade, enquanto estudava medicina e hoje não consegue mais fazer nenhum movimento voluntário. Somente espasmos, que não controla. Clara chega e, como sempre, a mãe de Adele lhe dá as boas vindas emprestando voz à filha, que a cumprimenta com um “..á”, soprado com toda a força que tem.
Depois, entra o pai. É ele quem faz Clara sofrer mais. Quando coloca os pés naquele quarto, sempre reclama de algo que não está bem. Fica nervoso porque a filha se suja com molho, porque é pesada para movê-la, porque não fala. Porque é assim. Lê-se isso no seu rosto, e ele também fala. E Adele sente, e em certos momentos chega a ficar com o rosto sombrio. “Por que esse homem faz assim?”, Clara se pergunta. “...Bem, essa é sua maneira de se revoltar. Eu entendo”, diz para si mesma todas as vezes.
Mas, depois, olha para Adele, para aqueles seus olhos “tão bonitos”. E os modos daquele pai lhe causam muita dor: não há nenhuma razão para maltratá-la. No entanto, nunca consegue dizer uma palavra. Tem dificuldade de ficar naquele quarto com ele, gostaria de fazer tudo rapidamente e ir embora. Porém, a Adele está ali. Então, faz tudo bem, conversa um pouco com a mãe, e os vinte minutos tornam-se sempre uma hora. Depois, vai embora, e chora.
“Aquele choro, todas as vezes, era por mim. Era uma dor minha. Mas não sabia o que dizer, o que fazer. E comecei a rezar, todos os dias. Por Adele, pelos seus pais, por mim. Comecei a pedir: Interceda, Tu, do alto”.
Um dia, enquanto está ali fazendo o seu tratamento, a mãe lhe diz: “Eu tenho um desejo, sabe? Queria poder levar Adele à missa...”. Clara diz que é possível fazer isso: basta encontrar uma maneira e ela poderia chegar um pouco antes para ajudar a carregá-la e a levarem com a cadeira de rodas. “Tudo bem, vamos ver”, responde a mãe. Mas, só o fato daquele pedido, nascido, assim, do nada, depois de dois anos, desperta algo. Uma comoção mais forte. É nesse momento que Clara se dirige ao pai: “Desculpe-me, mas preciso lhe dizer uma coisa: Adele é sua filha, e é assim. Aceite-a como ela é. É sua filha!”. O homem olha para ela, surpreso. E se cala. Nenhuma palavra. “Foi uma explosão minha”, conta Clara. “Eu estourei, pela beleza de Adele, pela necessidade de olhá-la por inteiro. Naquele dia, não tinha ido ali com a intenção de dizer nada, não tinha me preparado. Era o Senhor que já estava me respondendo”. E que, na próxima vez, vai deixá-la de boca aberta.
Clara chega, e a mãe lhe conta que, alguns dias antes, um padre veio trazer a comunhão para Adele. Pouco depois, entra o pai. É outra pessoa. “O rosto sereno, relaxado. E não se lamentou e nem reclamou de nada: eu olhava para ele e não conseguia acreditar. Senti um arrepio”. Meia hora. Uma hora. Depois, a despedida. “Quando saí, pensei: não é possível, deve ser uma exceção”.
Porém, desde então, é sempre assim. “Ele entra e fica ali. Pede-me conselhos. Confia”, conta Clara. “Eu não sei o que aconteceu com ele. Mas sei que pedi isso. Pedi a Deus que se mostrasse, que intercedesse de algum modo, e Ele o fez. Não ‘do alto’, mas como Alguém que age entrando na realidade, dentro das coisas”.
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