Por uma mata escura
O Jeep dava solavancos pela estrada de terra. Sentado na carroceria, Alex segurava firme para não ser atirado para fora. A floresta que atravessavam era imponente: Amazônia. Durante o trajeto, de vez em quando “surgia” uma cabana. Ele e sua amiga Rommy estavam fazendo a última etapa da viagem. Conheceram-se em Lima, onde Alex, que cursa o quarto ano de Arquitetura em Milão, chegou em outubro e, juntos trabalham na CESAL, uma ONG espanhola, “irmã” da italiana AVSI. Da capital peruana, partiram de ônibus e viajaram a noite
inteira, subiram a 4.800 metros de altitude, depois desceram até Satipo, através da mata. Depois, oito horas de Jeep até Atalava, no coração da floresta amazônica.
Visitaram a universidade de Nopoki, filiada da universidade Católica de Lima, que padre Gerardo Zerdim, missionário croata, e o bispo local, quiseram que existisse para formar professores indígenas para lecionarem nas comunidades da floresta. Alex não esperava que a viagem fosse tão bonita. Foram muitos os encontros. Mas não bastava para ele, queria ver aquilo que lhe havia contado Dado, seu amigo italiano, um dos primeiros professores que foram para Lima. Tinham retomado viagem para ir até um dos vilarejos: Diamante Azul.
ESTAVAM VIAJANDO HÁ QUASE QUATRO HORAS, quando, de dentro do Jeep, Rommy gritou: “Já chegamos”.
O carro parou somente para deixá-los e foi embora. Um homem de uns trinta anos se aproximou
e disse: “Oi, sou Edinson. Estava esperando por vocês. Deixem as malas aqui”. E levou-os para dar uma volta pela vila: quinze cabanas com o teto feito com folhas de palmeira e assoalho de madeira, elevado um metro do chão para protegê-las da chuva. Não há portas nem janelas. Edinson parou em cada lugar, e os apresentou a todos. Não os deixou por um instante sequer. “Então, esta é a escola onde dou aulas para 35 crianças de idades diversas e aquela é a igreja.” À noite, comeram peixe cozido no vapor. Não há energia elétrica em Diamante Azul. A noite é negra, mas o céu é repleto de estrelas. Edinson falou de si, da sua família. O cansaço chegou. “Agora durmam. Amanhã vocês vão acordar cedo. Acreditem.”
Às 5h20min, Alex já estava de pé. “Edinson tinha razão, o sol está nascendo. Impossível dormir.” Fora da cabana, encontrou seu novo amigo esperando-o. “Oi. Onde posso me lavar?”. “Vem, vamos juntos ao rio. Também estou precisando.” Refrescaram-se, depois Edinson diz: “Quer dar uma volta de canoa?”. Alex não tem dúvida: “Vamos!”. Saem em uma embarcação feita com um tronco escavado e lentamente começaram a ir rio adentro.
NO MEIO DO RIO HAVIA SILÊNCIO. O sol se levantava no céu. Alex estava na proa, Edinson, atrás, remava com calma. “Por uma mata escura...”. Alex virou-se de repente: “O que você disse, Edinson?”. Ele, continuando a remar, disse: “Não é o que escreveu um conterrâneo seu, Dante Alighieri?”. “Como você o conhece?” “Li sobre ele em O senso religioso , de Dom Giussani” Alex se agitou e, por pouco, a canoa não virou. No meio da floresta, a 1.200 quilômetros de Lima e a dez mil de casa, um índio declama Dante, a quem conheceu graças a Dom Giussani. “Edinson, me conte como você o conheceu.” “Cursei a
universidade em Atalaya. Formei-me em Pedagogia, em 2011. Estudei O senso religioso. As premissas me fascinaram imediatamente.” E começou a dizê-las de cor. “Hoje dou aulas. Estou muito feliz, é apaixonante. Sabe? Antes, os professores vinham de fora, não conheciam a nossa língua, e não se importavam muito com o que ensinar. Agora, são os índios, como eu, que dão aulas: em espanhol e na nossa língua nativa. Os jovens aprendem a fazer soma, subtração e... estudam Dante. Depois, em muitos casos, vão para a escola. Mas, agora, vamos voltar, preciso me trocar: não dou aula de short e chinelo”.
Alex olhou para a margem, para o rio tranquilo, para o rosto de Edinson. Até na floresta amazônica...“Dom Gius, você esperava por isso? Preciso escrever para meus amigos" .
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón