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Passos N.147, Abril 2013

RUBRICAS

A História

A ressonância

Levanta feliz, pela manhã. “Porque dormi”. Depois de várias tentativas, acharam os remédios certos para aliviar a dor. “E porque estou viva”. Tudo deveria ter terminado cinco anos e meio atrás, quando foi diagnosticada com câncer de mama, com metástase nos ossos e no fígado. “Estou viva”. E, depois, diz que para ela “é muito fácil...”. O que? “Ver que tudo é um presente”. Lela fala com firmeza. “É fácil porque vivo sempre em suspenso. Dá para entender? Em suspenso em relação àquilo que acontece”. Ao fato de que todos os dias, no hospital, faz encontros inesperados, ou de que alguém venha especialmente para esperá-la, as enfermeiras que cuidam dela, a doutora “que é extraordinária”, um amigo que a acompanha, e um outro que vai buscá-la. “Eu não sei como o dia vai ser. Os remédios são muito fortes, estão acabando com meu estômago e, por outro lado, a doença está se agravando. Então, fico aqui, e penso: e se precisar parar de tomar esses remédios e voltar a gritar de dor à noite? E se hoje eu tivesse de imprevisto, um daqueles efeitos colaterais que fiquei sabendo?...”. Os pontos de interrogação são um turbilhão, sussurrado, e, muitas vezes violento. “Mas eu tenho apenas uma necessidade: de infinito”. E diz isso como se chamasse alguém. “Eu procuro aquilo que desejo, aonde estou. Normalmente, estou no hospital”.

ACONTECE TODOS OS DIAS. Um exame atrás do outro, quimioterapia, morfina e cortisona, e a radioterapia nos ossos para melhorar a dor. Enquanto os três filhos são levados e trazidos por amigos e parentes, por um círculo que cresce, “cresce cada vez mais”. No dia em que descobriu que estava doente, pediu a Dom Giussani, em seu túmulo, um milagre. “Que acontece todos os dias”. Hoje, há quem pegue o seu filho pequeno para levar à aula de bateria, depois o leva para casa e o ajuda a fazer a tarefa. Os outros dois precisam ir ao dentista, e outra pessoa os leva e fica com eles. “Estamos envolvidos em ajuda e companhia. Tenho apenas o embaraço da escolha”. Ela, que ama escolher. As roupas, “sou fissurada”, e as coisas para casa. “Compro roupas que talvez não terei tempo para vestir”. Às vezes alguém a olha com olhos arregalados quando sai para fazer compras, “mas a vida continua. Eu vou”. Diferente de desmoronar. A sua vida pegou fogo em plena corrida, como no verso de Pasternak. “Primeiro, era uma vida normal. De mãe e esposa. Ainda é, mas agora é plena. É mais bonita. Porque a presença de Cristo é palpável, o vejo, o toco, todos os dias”.

COMO NA ÚLTIMA RESSONÂNCIA. Está ali, tensa, antes de entrar. O exame dirá se a doença chegou aos ossos. Depois, fará outra ecografia importante. Mas enquanto espera, com o marido e um amigo, chega uma mensagem. “O Papa renunciou”. Ficam petrificados. E logo recebem outras mensagens, agitadas: “As pessoas ficaram cheias de desconforto, perdidas, pela decisão do Papa. Eu não. Naquele momento, senti-me em paz”. Olhava o telefone, e pensava: “Qual é o problema? A vida é algo maior do que nós. Este homem se abandona com toda a sua humanidade diante do Pai”. É a vez dela. “O gesto do Papa, tão verdadeiro, fez eu me abandonar, docemente. Acompanhou-me durante todo o exame”. Uma hora e meia dentro do tubo da ressonância. “Tinha certeza de que qualquer coisa que acontecesse depois seria a resposta à minha necessidade. À necessidade de infinito que tenho”.
Os exames não foram bons. A doença piorou. “Este é o resultado. E é a resposta à minha necessidade, porque me abre para o infinito, que está Presente”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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