Uma manhã qualquer
Parada, som do ar despressurizado, portas escancaradas. E o vai e vem de quem entra e sai do metrô, linha verde, em direção à periferia. Quase todos desconhecidos, algum rosto familiar, como acontece a quem pega o mesmo trem todos os dias, à mesma hora. Cristina, desta vez, conseguiu sentar-se, e viajava com o olhar distraído e o ar de quem pensa em suas coisas. Pelo menos até Lambrate. É ali que embarca um homem de cerca de cinquenta anos, rosto simples e um papel na mão. Senta-se ao lado dela. Basta uma olhada para reconhecer o panfleto de CL sobre Eluana. Cristina tem um leve sobressalto de gratidão, pensando nos jovens que o distribuíram. Mas, depois, nasce uma pergunta: “O que fazer? Começar a conversar ou ficar no educado silêncio milanês?”.
DÚVIDA LOGO RESOLVIDA. Ele fala. E diz algo que Cristina não espera. Fala sobre a mulher que morreu jovem. Sobre o filho adolescente que, há seis anos, está em estado vegetativo, como Eluana, por causa de uma má-formação vascular no cérebro. Sobre um pensamento que sempre lhe volta, forte: “Eu gostaria que ele morresse, que não sofresse mais. Mas, como fazer? Nós não podemos decidir nada, não é? Eu não sou um homem de igreja, parei de frequentá-la há muito tempo, quando minha mulher morreu. Mas, se nós existimos, se ele existe, é porque Deus quer, e está bem assim”. Imaginem a cara de Cristina. Sente um nó na garganta, enquanto se inclina para pegar o panfleto que caíra. O constrangimento cheio de uma comoção que cresce, quando lhe devolve o papel, sem saber o que dizer: “Está pensando no seu filho?”. E ele: “Sabe, acho que se ele ainda está vivo, é por algum motivo. E acho que eu sei o porquê. Ontem, entrei em uma igreja, depois de anos”.
CRISTINA DESCE COM ELE. CONTINUAM A CONVERSAR. Faz-lhe companhia até o hospital, e ele lhe diz: “obrigado, você é um anjo”. E, quando vai embora, fica com uma certeza cheia de estupor que, em uma carta, contou assim: “Não, ele é quem foi um anjo para mim: um pai que ama dessa maneira. Atormentada, durante toda a viagem, porque não sabia o que dizer (porque eu estava ‘numa saia justa’: precisava dizer alguma coisa...) e, depois, parada diante do Mistério que veio ao meu encontro inesperadamente, em uma manhã qualquer. É realmente simples deixar-se envolver por Cristo. Basta ter os olhos abertos, mesmo diante de um ‘incômodo’ vizinho de viagem”. Isso pode acontecer até durante um trajeto de metrô.
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