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Passos N.149, Junho 2013

DESTAQUE

O contragolpe “não falava para uma massa, mas para mim”

por Giuseppe Frangi

“É alguém que vive com as portas abertas”. O amor do papa Francisco pela misericórdia de Deus e a nossa pergunta está mudando o olhar de muitas pessoas. Inclusive “distantes” da Igreja. Até às “periferias da existência”

Nem todos se chamam Patti Smith. Mas para todos, como para Patti Smith, aquele 13 de março despertou imediatamente o mesmo desejo: saber mais coisas daquele homem que, aparecendo na Varanda das Bênçãos, a primeira coisa que fez foi saudar a todos com um inesperado “boa noite”. São os “distantes”, pessoas que com a Igreja pensavam já ter acertado definitivamente as contas, e que, ao invés, ficaram tocados com o ato surpreendente do papa Francisco.
É um fenômeno, de dimensões não mensuráveis, que não pode ser enquadrado em esquemas sociológicos, porque acolhe dentro de si muitas pessoas absolutamente normais e também alguns famosos, como Maurizio Crozza, que por um instante, naquela mesma noite, deixou de lado qualquer ironia e confessou: “Ele apareceu e disse boa noite. Todos nós o amamos por isso. É belíssimo”.

“A NOITE DE 13 DE MARÇO...”. O fenômeno dos “distantes” talvez seja o que melhor documenta a novidade do papa Francisco. Patti Smith, então: estava em Roma para um concerto e quis misturar-se à multidão que se reuniu para a Audiência de quarta-feira para ver o Papa de perto. Ela, que havia cantado Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus, que se define não católica porque intolerante aos dogmas, contou que se sentiu feliz no meio da multidão na Praça de São Pedro: “Uma reunião cheia de amor e de vida, mesmo ali onde estavam pessoas sofredoras e com deficiências”. E o Papa? “Vê-lo assim de perto é iluminante, dá para entender que a sua relação com o povo é verdadeira, que ama as crianças e as mães, que tem uma palavra e uma atenção para todos. Me lembrou Jesus, quando disse Deixem que as criancinhas venham a mim”.
Um Papa que fala aos distantes. Fala, por exemplo, a Susanna Battistini, 53 anos, casada, uma filha de 17, autora de programas de rádio e TV. Substancialmente cortou seus laços com a Igreja desde os 12 anos e com o passar do tempo esse fosso só foi se alargando. Naquela noite de 13 de março ela estava no trabalho. Os colegas é que insistiram em seguir pela TV o Habemus Papam; por ela, talvez nem teria ligado a TV. “Não tinha o mínimo interesse. Continuei a trabalhar como se nada estivesse acontecendo. Até que ouvi aquele boa noite. Levantei imediatamente a cabeça. Era algo inesperado, imediatamente familiar, que num instante me fez deixar de lado dezenas de anos de desconfiança. Depois houve aquele pedido de receber, ele próprio, a bênção, e vi ali a admissão de um senso do limite que me impressionou”. Susanna confessa que depois daquele momento procurou seguir, sempre que possível, as saídas do papa Francisco: “Me toca, porque quando fala não dá a sensação de falar para uma multidão, mas para você”. Depois de muitos anos sentiu também a necessidade de pisar de novo na igreja e ir à missa. “Sim, em Sant´Anna, próximo do Vaticano, que fica no meu caminho”, conta ela. “E aconteceu que entrei e rezei”.
Também Chiara Giambattista trabalha na TV. Tem 38 anos e a sua formação católica não passava, agora, de uma memória reduzida a uma lamparina. Claro que nunca imaginaria estar, no Domingo de Ramos, na praça para ouvir o Angelus do Papa. “A sua simpatia humana me conquistou”, conta ela. “É alguém que estabelece relação de cumplicidade com todos, a começar pelas crianças”. Há também um grande retorno à confissão. “É o Sacramento mais complicado para quem estava tão distante da Igreja. Não há familiaridade. Noto isso por mim. Mas Bergoglio é alguém capaz de alcançar o âmago das pessoas, e portanto é sempre de se esperar alguma surpresa”.

PODERIA ACONTECER. Retoma Susanna: “Entendo o retorno à Confissão. Porque a sensação com o papa Francisco é a de alguém que nos ouve. No que me diz respeito, não digo não. Digo que pode ser. Há um mês, essa hipótese estava a alguns anos-luz de distância”. Chiara diz: “Preciso admitir que o Papa foi um choque. E não posso prever o que pode mudar na vida das pessoas, a começar por mim”.
Vamos sair dos estúdios de TV romanos. No bar, está à minha espera Enrico Barbieri. Tem 45 anos, dois filhos pequenos, e uma saudável fé laica sem hesitações. Não é do tipo que faz concessões sentimentais, mas a firmeza com que o Papa insiste na questão dos pobres o impressionou. “Nunca me senti assim. Me perguntei o que havia de diferente naquela fala dos pobres em comparação com os outros, poderosos ou não. E a única resposta que consegui é que ele não só os defende, mas antes de tudo se vê que os conhece e que os ama”. Enrico é jornalista, acostumado, como muitos colegas, a ver as coisas da Igreja pelo buraco da fechadura. “Mas Francisco nos surpreendeu, porque é como se vivesse com as portas abertas. É alguém que não esconde nada, nem mesmo aquele encontro com o seu predecessor. Eu direi mais: é um Papa que parece não ter muros em volta que o separem do mundo. É alguém que não sente ninguém como inimigo”.
Junta-se a nós, na mesa, Lucio Brunelli. Também jornalista, mas católico; do papa Bergoglio era (e é) até mesmo amigo. Obviamente, está feliz por diariamente poder transmitir as palavras de um Papa assim. Conta que recebe todo dia dezenas de cartas e e-mail de pessoas simples que lhe pedem para ver Francisco. “Cada uma fala de uma necessidade própria, mas todos têm a mesma confiança de que uma palavra dele pode levar a paz lá onde hoje há dor ou desacordo. Há, por exemplo, um casal à beira do divórcio que escreve que o Papa certamente seria capaz de trazer a reconciliação para a sua casa”.
Depois Lucio conta um episódio que acabou de acontecer. Um cameramen da TV, com larga experiência, algumas famílias nas costas, nenhuma confiança na Igreja, volta para a Redação e, como de costume, abre as imagens da audiência com o Papa para a edição. E quando passa diante dos seus olhos as sequências do Papa que manda parar o jeep e desce para beijar, num beijo que parece não terminar mais, o rosto de um homem deficiente físico, que desandou a chorar. “Ver aquele baita homem em lágrimas foi, de fato, uma experiência surpreendente. Logo me vêm à mente as palavras que o Papa havia dito alguns dias antes: Em nossa vida, os óculos para ver Jesus são as lágrimas”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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