Três dias intensos para padre Julián Carrón que, de 9 a 11 de setembro, esteve no Equador visitando as comunidades do Movimento: "Ter estado com ele, aqui, foi o reacontecer do olhar de Cristo sobre cada um de nós", diz Stefania Famlonga, responsável de CL e ponto de referência nos projetos da Fundação AVSI do país andino.
Primeiro dia, segunda-feira. Na Universidade Católica de Quito, a capital, aconteceu o encontro público que teve como tema "Como se faz para viver?". Na parte da tarde, a convite do reitor da Faculdade de Teologia, Carrón fala de fé aos seminaristas: "Um homem culto, um europeu dos nossos dias, pode crer na divindade do Filho de Deus?", é o título.
O tédio e a vida. Durante o jantar com um grupo de amigos, aparecem muitas perguntas, entre elas a de Vidal: "Como eu posso ajudar a minha colega que, no fim do encontro, me disse que entendeu que sua vida é um tédio?". Carrón respondeu: "Você pode viver! Viver! Mostre-lhe que a sua vida é mais interessante do que a que ela vive! Isto é o que Cristo fez na história. E não se preocupe em como fazê-lo, mas apenas em seguir, porque chegará o dia em que você vai se surpreender sendo uma presença como a de Cristo".
Terça-feira, o objetivo é Pisulli, um bairro da periferia de Quito onde, graças aos projetos da AVSI, nasceram uma escola, "creches familiares", um centro para jovens. Por algumas horas os companheiros de Carrón foram as crianças da creche “Ojos de Cielo” e as mães que Stefania ajuda na sua tarefa principal: educar. E exatamente com as educadoras, Carrón falou sobre afeição a si, sobre dignidade, sobre a decepção que se sente diante da queda dos meninos. "Quase todas as mulheres que trabalham conosco vêm de situações difíceis", diz Stefania. Cati, por exemplo, 42 anos, três filhas, trabalha com alfabetização de adultos em Pisulli desde 2005. Ela contou sua história dramática de violência e como encontrou dentro de si a capacidade de perdoar: “A coisa mais fascinante para mim, trabalhando aqui nestes anos, é que tiraram as vendas de meus olhos. A minha família era católica, porém não praticante, íamos à missa uma vez por ano; mas, desde quando iniciei a trabalhar aqui, descobri que significa apaixonar-se por Cristo e isto fez com que eu começasse a perdoar. Há dois anos, morreu de câncer o meu padrasto; foi uma das pessoas que mais me fez sofrer desde a minha adolescência. Durante a sua doença, graças aos cursos de formação que recebíamos de Stefania, abriu-se o meu coração e eu disse a mim mesma: ‘Quem sou eu para julgar o outro?’. Por isso agora quero ensinar às mães o perdão, para que possam ser felizes. Mas como se faz para ensinar a perdoar?”. Respondeu Carrón "Há apenas uma maneira: viver o perdão. Ele chega tocando a vida, tanto que o coração se alarga. Apenas é preciso tornar os outros partícipes daquilo que nos acolheu, um lugar onde você é amada e abraçada. Não é uma estratégia sua, tanto que, para você, a um certo ponto, foi quase normal perdoar. O importante é permanecer neste lugar onde pouco a pouco caem as vendas dos olhos. É isto o cristianismo".
Um mês atrás, o pai de Mayra morreu de repente: "Se começássemos a ver bem a realidade, você se sentiria invadida pela alegria que seu pai está vivendo agora", lhe disse Carrón: "Se seu pai pudesse falar, lhe diria: "Minha filha, o que você está fazendo? Você não percebe que Cristo venceu a morte e agora eu compartilho da Sua alegria e da Sua companhia? Este é um filme já antigo, um filme que só existe na sua cabeça porque a única realidade é que eu estou com Cristo. Sua dor é apenas o tempo que você precisa para aceitar isso e no dia em que aceitá-lo, você começará a libertar-se da dor". Esta é a questão: "Quanto tempo precisamos para ver bem as coisas".
A viagem continua de avião até Guayaquil, na costa do Pacífico. Outro encontro público na Universidade, onde chegaram também os amigos de Portoviejo, a três horas de Guayaquil, e onde o Movimento teve início no Equador há alguns anos". Jesus fez o cristianismo simplesmente colocando uma presença que desafiou todos. Então, do quê eu preciso? De pessoas, testemunhas, lugares carnais e históricos, de uma Presença irredutível".
Presença que prevalece. Último dia, último diálogo com um grupo de responsáveis. Perguntas profundas emergem, "mesmo a partir daquilo que vivemos com ele", diz Stefania. "Mas ainda mais profundo é o ponto onde Carrón quis nos fazer chegar: ‘Aquilo que precisamos para viver é uma presença. Para viver precisamos do outro, fazer a experiência que vemos o outro fazer. Jesus introduziu na história uma Presença que prevalece e é possível começar a olhar para tudo apenas determinados por ela. Estou feliz porque Cristo existe! O importante é viver à altura destes dias, entender o que acontece conosco quando acontece, porque este é como um ponto sem volta. Assim, podemos sempre voltar a buscá-Lo para fazer entrar o Seu olhar’. Nada mais bonito e claro para descrever a vida agora; voltar a buscá-Lo e seguir quem o Mistério nos deu como um presente para experimentar a Sua Presença".
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón