Rony é de Beirute. Tem um apego radical e sofrido por seu povo. Algo tão próprio que Francisco, o filho mais velho, de 16 anos, absorveu isso sem necessidade de explicação. Agora que já terminou o ensino médio e poderia ir estudar nos Estados Unidos, decidiu ficar; não quer deixar seu país. Nem mesmo agora, que é tão doloroso aceitar o que está acontecendo, quando chega em sua casa a humanidade dolorida dos refugiados da Síria, com toda a sua necessidade, que está além de qualquer capacidade de acolhida, além de simples apoio social e econômico. O Líbano tem quatro milhões de habitantes, e mais de um milhão de sírios estão propensos a fazê-lo "explodir", como se lê nos noticiários. É grande o medo de que, com os refugiados, chegue também o conflito, como aconteceu quando o país acolheu centenas de milhares de palestinos.
E, no entanto, especialmente nas áreas mais pobres, chegam e se instalam famílias inteiras, com muitas crianças. Rony sempre visita o campo de refugiados de Marj el Kok, em Beeqaa, o grande vale a nordeste do Líbano, entre duas cadeias de montanhas. Ele trabalha para a Fundação AVSI, que tem um projeto em um dos campos oficiais, embora existam muitos outros irregulares e super-lotados, ao sul, na fronteira com Israel. Rony leva comida, água e roupas. Faz isso seja no verão, como no inverno, até tarde da noite. E quando a temperatura era de três ou quatro graus abaixo de zero ele saía para distribuir aquecedores e cobertores. Os refugiados, quando recebem as doações, retribuem: "Convidam-me para entrar em suas tendas, naqueles poucos metros íntimos onde estão as esposas e os filhos. Abrem as portas de suas casas, confiam".
Eles precisam de tudo. É um grito estrangeiro e estranho. Aqui, onde estrangeiro significa inimigo, a mente começa a divagar, o passado volta para ferir e bloquear. Rony revê tudo o que seu povo sofreu durante os longos anos de guerra, "todo o mal que o exército deles, o regime deles, nos fizeram". É isso que a massa de refugiados representa se ficarmos apenas no pensamento sobre eles, enquanto os olharmos de longe. Mas quando nos aproximamos, acontece outra coisa.
Ele poderia fazer o seu trabalho realizando apenas outros aspectos do projeto, sem precisar ir ao campo, à casa deles. Poderia evitar se deparar com os traumas sempre abertos e as tensões que ameaçam a sua terra. “Mas há uma gratidão pela qual não consigo me deter. Na verdade, me impele a ir até eles. Meu coração transborda da grande graça de Cristo na minha vida: quanto mais eu a descubro maior a cada dia, mais percebo que ir até eles é o mínimo que posso fazer".
Ficando longe, vence o rancor. Mas quando chega ao campo, tem alguém diante de si. Coloca em suas mãos o pacote de comida. Olha para eles. Naquele momento, desaparece o pensamento de "quem" são eles e de "quem” ele é. "Vejo outra coisa. Um irmão, uma irmã, um filho. A quem gostaria de dar tudo o que eu recebo todos os dias”.
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