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Passos N.154, Dezembro 2013

Leitura - A Rosa Branca

Resistência e coragem na Segunda Guerra Mundial

por Ana Luiza Mahlmeister

Aqueles que visitaram a exposição de fotos e textos sobre o movimento “A Rosa Branca” que percorreu algumas cidades do Brasil anos atrás conheceram um pouco da história que une simplicidade, força e coragem de um núcleo de estudantes da resistência antinazista surgido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. O lançamento edição brasileira do livro “A Rosa Branca” de Inge Scholl, irmã mais velha de dois protagonistas do movimento, Sophie e Hans Scholl, vem preencher uma lacuna para quem quer conhecer mais sobre os estudantes de Munique que distribuíram panfletos contra o nacional-socialismo desafiando os poderosos da época. Os seis integrantes do grupo que iniciaram as ações – Hans e Sophie Scholl, Christoph Probst, Alexander Schmorell, Willi Graf e o professor Kurt Huber – foram processados por alta traição, condenados à morte em 1943 e rapidamente executados.
Por ter sido a primeira publicação sobre o tema, no início dos anos 1950, o texto de Inge Scholl caracteriza-se como um livro de memórias, uma coletânea de documentos e uma homenagem. Conforme apontam as organizadoras Juliana Perez e Tinka Reichmann, professoras da Universidade de São Paulo na apresentação à edição brasileira, a ideia de traduzir o livro não surgiu como um projeto editorial, mas como material rico para o ensino da tradução e por ser um tema pouco discutido no Brasil. Inge Scholl apresenta os textos originais dos panfletos, entrevistas com testemunhas e a memória familiar. A edição traz documentos inéditos, além de um posfácio escrito pelo historiador alemão Rainer Hudemann sobre a ascensão do nazismo.
A narrativa percorre os primeiros anos da família de cinco filhos em Ulm, cidade do interior da Alemanha, que ingressam na Juventude Hitlerista para o “bem da pátria” e da sociedade alemã do futuro. As garras do estado totalitário, no entanto, vão se revelando pouco a pouco, antes mesmo de Hans e Sophie entrarem na universidade. Livros são proibidos, ordens religiosas são expulsas e mosteiros são fechados, pessoas que ousem discordar do regime são presas, a exemplo do pai que, apontado por uma funcionária por fazer um comentário crítico a Hitler, é encarcerado por cinco meses. Já na universidade de Munique, Hans e Sophie têm contato pela primeira vez com a palavra “resistência” junto a um pequeno grupo composto por Alexander, Willi, Kurt e Christoph que se unem para conversar, ler poemas e discutir a opressão do regime. Hans vai servir no front russo como médico. Nos jornais aparecem cada vez mais notícias sobre sentenças de morte proferidas pelo Tribunal do Povo contra pessoas que se opunham ao tirano, mesmo que apenas por palavras. A vivência no front e nos hospitais de campanha amadureceu e endureceu Hans e seus amigos, mostrando a necessidade de se opor ao Estado e a sua monstruosa obsessão de extermínio.
Começam os panfletos copiados em mimeógrafo e distribuídos em caixas de correio e carregado por amigos em malas para outras cidades. São manifestos de indignação e perplexidade dirigido a intelectuais e estudantes. “Não há nada mais indigno para um povo civilizado do que se deixar ‘governar’ sem resistência por uma corja de déspotas irresponsáveis, movida por instintos obscuros”, começa o primeiro panfleto. Com citações de Schiller, Goethe, Lao Tsé, Aristóteles, Eclesiastes e Novalis, os manifestos pedem liberdade e sempre terminam com: “Favor reproduzir e passar adiante”. O sexto e último panfleto é uma convocatória aos universitários: “O povo alemão olha para nós! Hoje ele espera de nós o fim do terror nacional-socialista pelo poder do espírito, assim com esperou em 1813 o fim do terror napoleônico”.
Conforme escreve Inge Scholl, o círculo da Rosa Branca em Munique tinha o objetivo de gerar uma crescente conscientização pública acerca do verdadeiro caráter do nacional-socialismo e da situação concreta para a qual o regime havia conduzido a Alemanha e a Europa. “A resistência passiva conclamada de forma categórica e quase apelativa, não tinha muitas chances de êxito, mas as poucas oportunidades deveriam ser aproveitadas. Deveria motivar as pequenas ações que estivessem ao alcance de qualquer um, por menores que fossem. Significava, em outras palavras, concentrar-se no que era viável sem perder de vista o objetivo, libertar-se do medo pavoroso e da indiferença aniquiladora. Ponderação, versatilidade e criatividade na vida cotidiana deveriam ser contrapostas à resignação e apatia”.
Descobertos enquanto depositavam suas mensagens nos corredores do prédio principal da Universidade de Munique, os irmãos Hans e Sophie Scholl foram presos pela Gestapo, a polícia política de Hitler, em fevereiro de 1943. Junto com Christoph Probst, foram julgados poucos dias depois. Em pouco mais de três horas de julgamento, foram condenados à morte e executados no mesmo dia. Os demais membros do grupo de resistência Rosa Branca de Munique foram executados após julgamentos sumários, entre abril e outubro de 1943. O núcleo de Hamburgo, formado por 50 pessoas, incentivados pelo primeiro panfleto, também teve estudantes presos e condenados à morte.
A coragem dos membros do Movimento ficou conhecida em toda a Alemanha ainda no decorrer da Segunda Guerra. As reproduções do último panfleto da resistência estudantil, feitas na Inglaterra, foram jogadas pelos aviões britânicos sobre território alemão pelos aliados. “Levanta , meu povo, já ardem as chamas! Nosso povo está em levante contra a escravização da Europa imposta pelo nacional-socialismo, na confiança renovada de que a honra e a liberdade triunfarão!” (Panfleto VI).

“A Rosa Branca”
Autor: Ingel Scholl
Org.: Juliana Perez e Tinka Reichmann
São Paulo, 2013
Editora 34

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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