Mantive o coração aberto
Quatro colegas do meu trabalho foram ao evento “Como nasce uma presença?” (Página Um de Passos novembro 2013). No dia seguinte, perguntei-lhes como viveram esse gesto. Uma delas me escreveu: “Obrigada por sua pergunta. Respondê-la também me ajudará a entender o que me impressionou do encontro com Carrón. Antes de começar a responder, falo sobre o que eu escrevi, mesmo sem perceber: ‘Encontro’. Na verdade, embora tecnicamente tenha ouvido um homem que falava em um telão, emocionalmente encontrei uma voz que não era a minha e que, no entanto, falava dos meus próprios questionamentos. Por que estamos no mundo? O que é a realidade? Como lidar com as circunstâncias? Qual é a nossa tarefa? E o que me impressionou muito foi a serenidade que acompanhava essas perguntas e a firmeza das respostas. Minhas duas avós eram as únicas pessoas que rezavam, na minha família. Ambas viúvas, me diziam que rezavam para encontrar conforto. Por isso, cresci com a ideia de que a fé é a consolação para o peso de uma realidade difícil de suportar. Hoje, ao contrário, pela primeira vez, ouvi falar de uma fé diferente: a fé não é o alívio das angústias que as circunstâncias da vida podem trazer, a fé é aquilo que permite que não sintamos essa sensação de sufocamento. Gostei muito da imagem que Carrón fez das feridas, definidas não como filtros dolorosos que impedem ver a realidade, mas como fissuras, aberturas através das quais podemos deixar entrar o olhar de Jesus, o único capaz de restituir uma nova maneira de olhar a realidade. Além disso, eu percebi um grande amor pela vida, respeito, dignidade e positividade”. E, pesoalmente, acrescentou: “Segui o seu conselho, mantive o coração aberto e me senti chamada pelo nome”.
Patrizia, Rímini (Itália)
Tornar-se adultos
Caros amigos, encontrei o carisma através do meu amado e saudoso padre Massimo Cenci. Por trás daquela aparência de um homem que “gritava” e “brigava, pude ver a paixão e o brilho em seus olhos quando falava da sua vocação e da afeição por Cristo, e isso me atraiu e fascinou. Hoje, passados mais de trinta anos, me comparo com a frase dita por Carrón nos Exercícios da Fraternidade: “O que permanece quando muitos dos nossos projetos fracassam? O que permanece quando nossas pretensões são anuladas?”. De fato, eu experimento a certeza de que fui agarrada para sempre por Ele, e posso dizer sem vacilar, com toda a força do meu coração, que encontrar o carisma de Dom Giussani foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida(!) e, como disse Möhler: “Eu creio que não poderia mais viver se não o ouvisse mais falar”. Comparando-me com as perguntas que o Movimento tem nos proposto: “não quem tem razão, mas como viver”, me dei conta de que eu e muitos da minha comunidade ficamos por muitos anos a espera de um padre, de um “salvador”, de ter alguém como referência. Mas apesar dos inúmeros pedidos esse padre nunca chegou. Esperava porque não queria ser eu a protagonista dessa história, não queria arriscar ser eu a referência, não estava disposta a seguir as circunstâncias que o Senhor me dava. Hoje, após inúmeras provocações de padre Carrón, ou você se move, sai do marasmo e de uma posição cômoda e olha pro seu eu, para o significado do seu eu, ou vai morrendo e se consumindo inutilmente discutindo quem tem razão. Nesse sentido, experimento que quando me dou conta do significado do meu eu, quando o meu eu está inteiro, carrego comigo uma autoridade que não é minha, um “poder” que não vem de mim. Então, eu e alguns amigos começamos a realizar alguns gestos. A Rosana, olhando para seus filhos pequenos, começou a catequese na comunidade, de forma simples, e de repente apareceram tantas crianças que ela teve que correr atrás de mais professores. Outro grupinho de amigos, por gostarmos de cinema, começamos a propor assistir a filmes em companhia uma vez por mês, convidando os universitários, colegiais e amigos para um momento de lazer e de juízo sobre a vida, o que se tornou momento de encontros gratificantes. Veio logo o desejo de retomarmos o Centro Cultural. Enfim, começamos a topar sermos os adultos, as referências, e como disse o padre Carrón: “fazermos nós mesmos o padre”. Gostaria também de compartilhar que logo após a Páscoa deste ano, fui convidada a coordenar o Dia Nacional da Coleta de Alimentos em Manaus. A primeira coisa que pensei foi: aceito porque é o Movimento que me pede e sei que é uma grande ocasião de encontros e amizades. Fiz esse trabalho ajudada e sustentada pela oração e por um grupo de amigos, e me surpreendi a cada instante com a disponibilidade desses amigos e de tantas pessoas que fomos conhecendo nestes meses de preparação, pois quando propúnhamos o gesto e buscávamos parcerias, via o brilho no olhar das pessoas e isso é correspondente, é gratificante. É bom demais se deixar surpreender!
Neide Negreiros, Manaus (AM)
Uma nova perspectiva
Caros amigos, em outubro deste ano, recebemos aqui em São Lourenço a visita de nosso amigo Carlinhos, do Rio de Janeiro. Ele nos trouxe um tesouro! Um vídeo sobre a vida de Dom Giussani (Vidas extraordinárias). Este vídeo me trouxe uma alegria, uma liberdade, uma nova vida, que só Cristo pode dar. Eu estava prestes a fazer uma grande “besteira”. Aos 47 anos de idade, com 28 anos de magistério, queria me aposentar. Dizia a todos que estava cansada, que já havia feito minha parte e que agora queria viver intensamente a vida e fazer somente o que me desse prazer. Quanta bobagem nesta frase dita por mim! Foi quando Carlinhos, após o vídeo, entre muitas coisas ditas, falou que não devíamos julgar a realidade como positiva ou negativa, mas simplesmente viver o que era nos dado. Naquela noite não consegui dormir direito. Vários questionamentos vieram a minha cabeça. Iniciei a semana de trabalho e percebi que algo havia mudado em mim. A minha relação com o trabalho estava diferente. Não ficava mais irritada por ter que corrigir provas e trabalhos, por ter que substituir um professor doente, por ter que voltar às aulas depois de um feriado prolongado. E além disso recebi um bilhete muito carinhoso da mãe de um aluno me agradecendo por tudo o que havia feito pelo filho dela este ano. Delicadezas de Deus. Quanta benção! Hoje eu penso em me aposentar, porém não penso em parar de trabalhar. Agora que eu estou aprendendo a viver, agora que eu estou amadurecendo, tenho muito a compartilhar e a receber. Esta profissão é uma dádiva de Deus. Quero abraçá-la novamente com a alegria, o entusiasmo, o amor e a coragem de um professor principiante.
Mara, São Lourenço (MG)
“Desculpe, professor, mas como o senhor faz para ser assim?”
Caríssimo Carrón, estou escrevendo para lhe agradecer pela forma como nos últimos anos me senti literalmente tomado pela mão. Desse modo, descobri que com você não é possível “estar de acordo” no sentido de concordar com um discurso, mas que você está sempre empenhado em uma verificação pessoal daquilo que nos diz. Quando escreveu no jornal La Repubblica lançando a provocação de que “o outro é um bem, sempre”, ela me pareceu tão atraente e correspondente que comecei a ir para o trabalho todos os dias (eu dou aulas de religião) com o pedido de ser capaz de reconhecer a todos que encontrava como um convite do Mistério. Em setembro, em um encontro com professores, padre José Medina nos disse: “A coisa mais bonita no fato de ficar perto dos jovens é que se está constantemente diante do Mistério da existência, nossa e dos outros. Nós somos muito privilegiados porque não é possível ser professor sem ser continuamente provocado pelo que está acontecendo diante dos olhos e dentro de si. A vida me interessa, me agrada demais, porque é dentro da vida que consigo entender quem eu sou”. Dentro da vida, isto é, dentro da realidade cotidiana. E assim, o outro que tenho diante de mim se torna fundamental, interessante para mim, para eu dar um passo adiante na compreensão de quem eu sou. No último sábado, depois de uma aula (estou fazendo uma substituição em uma escola de ensino médio) um menino me disse: “Professor, como o senhor faz para ser assim?”. Eu, surpreso, pergunto: “Assim, como?”. Ele diz: “Parece loucura, mas o senhor sempre consegue encontrar o lado positivo daquilo que cada um de nós diz e nos faz entender. É muito bonito, mas como o senhor faz?”. Eu respondi: “Vamos aprender isso juntos?”. Não sei aonde isso vai nos levar, mas fiquei impressionado porque não entrei na sala de aula com a decisão de valorizar todas as colocações, simplesmente descobri isso em mim, como o início de uma vibração, em mim, do coração de um Outro, por isso pude convidar o menino para descobri-lo.
Stefano
No almoço com o colega chinês: “quem é Deus para você?”
Caro Julián, nas últimas semanas esteve em nosso escritório um colega chinês. Depois de alguns dias trabalhando juntos, na hora do almoço ele me perguntou se eu ia à missa aos domingos. Respondi que sim, e ele insistiu: “Quem é Deus para você?”. Digo que Deus é o criador de tudo e também que nos criou porque nos ama. Ele me diz: “Sabe, eu não acredito em nada”. Conto a ele sobre a conversa entre o Papa Francisco e o jornalista Scalfari. No dia seguinte, ele me perguntou se costumamos ir todos os anos ao Vaticano, eu digo que não e ele me conta que esteve em Roma alguns anos atrás, e acrescenta: “Quando eu estava na Praça São Pedro, achei tão bonito que pensei que eu também podia acreditar em Deus”. Dei-lhe de presente a carta do Papa a Scalfari e o convidei para passar o sábado com minha família. No dia seguinte, no almoço, me disse que tinha lido a carta do Papa duas vezes e que achou interessante. Obviamente, ficou impressionado pelo fato de eu e minha esposa termos quatro filhas (ele tem um filho de nove meses) e, então, à mesa falamos sobre filhos, educação, política, etc. Antes de comermos, sugiro que façamos uma oração e ele faz o sinal da cruz conosco! Então, lhe explicamos o significado do gesto. Depois do almoço, o levei ao vilarejo de Portofino e ele ficou impressionado com a beleza do lugar e nos convidou para visitá-lo em Pequim. Eu lhe presenteei com um vídeo da Fraternidade San Carlo em Taipei e um exemplar do livro O senso religioso em inglês, e ele me disse: “Sabe, não sei por quê, mas me senti realmente bem com você e sua família”. Em suma, fiquei tocado com o fato de que apesar de todas as diferenças, nos comunicamos ao nível do coração, do amor da minha alma e da dele.
Giovanni
A economia é uma aventura maravilhosa
Quero contar sobre a aventura maravilhosa que comecei este ano: a universidade. Depois das férias com mil pensamentos, mil dúvidas, consegui encontrar o meu caminho e me matriculei na Universidade Católica de Milão. Fui investida por uma beleza infinita: a primeira Escola de Comunidade, os primeiros conhecidos, os amigos que me hospedam, a recitação do Angelus de manhã e, depois, o curso de Economia Empresarial. Na primeira página do manual diz que o estudo da economia é centrado na pessoa humana. O homem é o centro da economia, não os números. Este novo elemento me fez perceber a possibilidade que Deus me dá de vê-lo todos os dias. A pergunta da Escola de Comunidade era: “Quando e como nesta semana, reconhecemos o acontecimento cristão, e qual é a condição para reconhecê-lo?”. A meu ver, a resposta é simples: é aqui, é agora. Qualquer coisa é sinal d’Ele: os amigos que se formam, os universitários mais velhos que se interessam por você, a família, os colegas de curso que se espantam ao vê-lo ansioso para frequentar as aulas de Teologia, cada elemento dessa realidade, cada “eu” é chamado por um Tu. Não devemos pensar que os sinais são sempre evidentes, precisamos encontrá-los nós mesmos, precisamos saber reconhecê-los, esse é o desafio, essa é a beleza da vida.
Marta, Gênova (Itália)
Do banco à festa de Batismo
Caríssimos amigos, uma família nigeriana, que ajudamos há tempos, um mês atrás convidou um casal do Banco de Solidariedade para serem padrinhos de Batismo de sua filha mais nova. O Batismo foi realizado em nossa paróquia e nós, do Banco, estávamos todos lá, compartilhando esse momento com eles e gratos a Deus. Estavam presentes muitos nigerianos seus amigos e tornaram a festa linda, cheia de canções e música. Após o almoço, as mulheres se apresentaram cantado e dançando. Pedi que traduzissem as letras dessas cantilenas que repetiam, dançando. Eram todos pequenos versos simples de agradecimento a Maria, e dizem: “Veja, nós somos mulheres, somos ligadas a Maria, nós a amamos e a agradecemos por tudo”.
Gianfranco, Ancona (Itália)
Como Madalena, chamados pelo nome
Comecei um trabalho que poderia definir como traumático: o erro de outra pessoa recaiu sobre mim e fui a única a sofrer as conseqüências e o que é pior, não sentir nem o conforto da empatia dos colegas. Agitada por causa das coisas que aconteceram, me empenho em escutar Carrón no encontro “Como nasce uma presença?”. No início tive dificuldade, mas à medida que aumenta a atenção, um amontoado de sentimentos invade a minha pessoa. Nas coisas que eu ouço, me pego fazendo memória dos muitos dons recebidos no meu relacionamento com Ele. Enquanto escuto Carrón dizer frases nunca totalmente compreendidas, de repente tudo se torna mais claro e, a um certo ponto, acontece como uma explosão, uma luz na escuridão, quando ouço que o encontro com o Movimento é como ser chamado novamente pelo nome, como aconteceu no Batismo. É como um detonador dentro de mim, e entendo que quando digo que algo me corresponde, aquele salto do meu coração que marcou alguns momentos vividos (tornando-os incanceláveis), aquela súbita comoção que é difícil de explicar racionalmente porque de alguma forma induzida por mim, nada mais é do que o eco do som de quando o meu nome, pronunciado durante o Batismo, foi acolhido e levantado para o céu para que o Mistério também estivesse em mim. Reverberação daquela graça: é isso que experimento todas as vezes que o meu eu se dilata e se redefine. Que maravilha senti depois desta intuição, foi como ver o meu Batismo! Parece loucura, mas entendi que o ter sido chamada pelo nome naquela primeira vez, como aconteceu com Madalena, é para sempre. Eu esqueci meus sofrimentos, também comecei a pensar sem raiva naqueles que foram a causa dos meus problemas recentes e que desejei no inferno. Estou mais forte porque conheço a fonte que sacia a sede. E a minha mente se enche de gratidão.
Maria
“Você está fazendo algo grandioso”
Uma menina de 11 anos escreveu esta carta para o aniversário de sua mãe.
Querida mamãe, quero pedir desculpas por todas as vezes que eu fico irritada e brigo com você, mesmo que não tenha nada a ver. Saiba que eu não quero fazer isso. Desde que me confessei com padre Alessandro, graças às coisas que ele me disse, eu me comprometi a não fazer mais isso. Algumas vezes eu fiz novamente, outras não, mas tudo bem. Depois, eu queria dizer obrigada pela mãe maravilhosa que você é! Em algumas ocasiões (como na encenação do Presépio Vivo), você me diz : “Sinto muito, se não a acompanho muito”. Eu, repensando, digo: “Está errado!”, porque eu entendo que naquele momento você está fazendo algo ainda maior do que me acompanhar, porque está seguindo Deus. Muito mais do que nos períodos normais. Eu quero imitar você.
Maria, Milão (Itália)
A volta de Emanuel para casa
Caros Rose e Marco, queria agradecer a oportunidade que tivemos este ano de hospedar Emanuel. Para nós foi uma experiência realmente bonita que continua mesmo depois de ele ter voltado para a Uganda. No período em que permaneceu conosco, ficamos comovidos com o fato de ele nunca ter se distanciado das coisas que aconteciam, tanto em casa como com ele próprio. Um exemplo foram os exames escolares das nossas filhas. Ele era a pessoa que mais as encorajava e acreditava nelas. Desde que voltou para casa, nos falamos com frequência, mas nos comovemos especialmente com um e-mail onde escreveu que, conosco, se sentia em família e amado. Isso nos surpreendeu porque é como se ele tivesse visto na nossa família mais do que nós mesmos vemos todos os dias e nos fez abrir os olhos para a Presença que está na origem desse reconhecimento e por isso somos imensamente gratos a vocês. Estamos felizes por aquilo que também nos foi dado, dizendo um pequeno sim.
Alfredo, Orietta, Chiara, Maddalena, Francesco
Credits /
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