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Passos N.154, Dezembro 2013

DESTAQUE - COLETA DE ALIMENTOS

A Coleta da Duda, do João Inácio...

por Liziane Bitencourt Rodrigues

Mais de 5 mil voluntários arrecadaram 130 toneladas de alimentos em 51 cidades brasileiras no Dia Nacional da Coleta de Alimentos realizada no dia 9 de novembro. Entre eles, crianças e jovens para quem a pouca idade não impediu tomarem iniciativa

Uma das protagonistas desta história tem só 10 anos de idade e oito participações na Coleta de Alimentos. Experiência mais que suficiente para se arriscar: lá pelas 16h, Duda percebeu que o movimento na loja estava fraco, ninguém mais estava entregando doações e havia apenas três caixas funcionando. Ela, que havia chegado ao mercado antes das 8h com o pai e a irmã, poderia sentar para descansar. Em vez disso, colou cartazes da Coleta num carrinho e o encheu com produtos indicados no folheto, escolhendo as marcas mais baratas. Circulou pelo mercado dizendo às pessoas que, se quisessem doar, que poderiam pegar itens que ela tinha colocado no carrinho. As doações voltaram a chegar naquele que é um dos maiores supermercados de Brasília. Inquieta, Duda ainda cutucou um moço alto “estilo roqueiro e com fone nos ouvidos”, para convidá-lo a doar. Conseguiu a doação e o interesse dele em ser voluntário na próxima edição da Coleta, em 2014.
Em Florianópolis, a atitude de João Inácio, de sete anos, virou notícia na TV. A repórter da principal emissora de Santa Catarina contou em rede estadual que o garotinho deixou de brincar naquele sábado, 9 de novembro, para corrigir uma injustiça: “Os pobres, eles não têm nada, e outras pessoas têm muito, só que não dão”, declarou ele, o mais novo de quatro filhos e o que nasceu junto com a Coleta de Alimentos na capital catarinse.
Mas esta é uma história de muitos protagonistas: mais de 5 mil. Comunicativos ou mais tímidos, com pouca ou muita idade, eles arrecadaram 130 toneladas de alimentos neste ano, 15% a mais do que em 2012. O número de cidades também aumentou de 47 para 51 e o total de mercados passou de 221 para 237.
A contribuição da universitária Isabela neste ano foi bem maior do que aquela que costumava dar nos anos anteriores. E bem diferente: “Propus aos amigos que participam comigo da organização chamada Engenheiros sem Fronteiras, pela faculdade, fazermos a coleta em Limeira, cidade onde estudamos. Para a minha surpresa, todos eles toparam prontamente e me ajudaram muito a organizar tudo, divulgar, conseguir entrevista no rádio e na TV, falar com o mercado, conseguir voluntários e trabalhar o dia todo. Foi muito gratificante ver esses meus amigos da faculdade participando da Coleta que é uma coisa que desde pequena só vejo meus amigos do Movimento [Comunhão e Libertação, que deu origem ao gesto no Brasil] participando. A alegria de todos eles por cada alimento arrecadado era enorme e dava todo sentido ao gesto”, conta Isabela, que começou a fazer Coleta ainda criança, com o pai, em São Paulo. Ela se surpreendeu, também, com um homem que doou um carrinho lotado sem ter comprado nada para si. “Ele foi apenas doar os alimentos e foi embora, uma coisa realmente impressionante!”
O envolvimento de jovens como Isabela, Duda e João Inácio se repetiu em diversas iniciativas pelo país. Mariana, do Rio de Janeiro, aceitou prontamente a provocação de estender a Coleta para fora da região central da cidade, apesar de ter participado até então por duas vezes. Com a mãe, Nadir, que nunca havia feito a Coleta, Mariana coordenou a primeira arrecadação promovida no bairro de Santa Cruz, e que contou com a ajuda dos catequisandos de Crisma que Nadir acompanha.

Experiência que contagia. No Sul, outro jovem fez a ação acontecer. Gabriel, 21 anos, organizou a Coleta em Ponta Grossa (PR) e era o mais velho voluntário da turma com idade média de 17 anos. “Conheci por meio de projetos sociais voltados para o empreendedorismo, dos quais participei. Achei uma ideia fantástica e com um objetivo comum ao meu: dar uma pequena contribuição para o sonho de mudar o mundo. Havia feito em Belo Horizonte (MG) em 2010 e 2011. Mudei para o Paraná no fim de 2011 e, durante o ano seguinte, observei o potencial que a cidade tinha para receber a Coleta e a carência que o Banco de Alimentos possui. Em 2013, procurei o Cesco e a Marina [da Coordenação Nacional] para ver a possibilidade de trazer a Coleta para cá. Já estávamos no meio do ano quando confirmamos a realização em Ponta Grossa. Foi uma grande correria em busca de parceiros. Participo do Nexa, um grupo de ex-alunos da Junior Achievement, organização voltada à educação empreendedora para jovens. Todos os voluntários da Coleta em Ponta Grossa eram membros do Nexa. Foi uma Coleta feita totalmente por jovens. A coordenadora de mercado, Jéssica Soares, tem apenas 17 anos, mas desempenhou papel de gente grande e fez um excelente trabalho. Com sede de ajudar o próximo conseguimos mais de meia tonelada de alimentos [504 kg] na primeira Coleta em Ponta Grossa”, conta Gabriel.
São José do Rio Preto (SP) também contou com muitos novos voluntários adolescentes, que se revezaram com os adultos na abordagem ao público em sete supermercados. “Observando os meninos que fazem Coleta há mais tempo tentando servir de modelo aos novos na forma de abordar e dar atenção aos clientes, vejo o caminho educativo desse gesto. Os adolescentes começam a ter um olhar de atenção ao outro: às pessoas carentes que vão receber as doações, aos clientes, aos voluntários novos. Vê-los é um convite a sair de si mesmo e ir de fato ao encontro do outro, seja lá do que for que este outro necessite”, conta Glorinha, responsável pela Coleta na cidade paulista. A ação foi estendida a Catanduva, cidade vizinha, com a colaboração de jovens escoteiros.
Escoteiros, bandeirantes e estudantes do ensino médio também reforçaram o grupo de voluntários em Brasília. “Neste ano, ousamos fazer a Coleta em dois mercados a mais [foram sete] e precisávamos correr atrás de muitos voluntários. Envolvemos muitos jovens: convidamos nossos alunos, padre Luciano convidou os jovens de sua paróquia, chamamos amigos e familiares. A novidade foi a presença de algumas pessoas das instituições beneficiadas e dos adolescentes de 13 e 14 anos do grupo Os Bandeirantes”, destaca Ângela, responsável na Capital federal.

Milhares de beneficiados. A estimativa é de que mais de 230 mil pessoas sejam beneficiadas pela Coleta de Alimentos de 2013 considerando as famílias atendidas pelas entidades que receberão as doações neste ano. Além dos números crescentes, a ação deu espaço para rostos contentes, muitos sorrisos, perguntas de gente que leva a vida a sério e que aposta tudo diante de uma possibilidade de bem.
O que você viu? “Vi espectadores de si mesmos. Não sabem do que o Senhor é capaz de realizar com a nossa disponibilidade? Repitam a experiência até que esta se torne virtude entre nós”, conta Silvio, de Brasília. “Vi muitos encontros com pessoas disponíveis para ajudar o próximo”. “Fazer pelo outro é a maneira menos egoísta de fazer pra si mesmo”, completou Jhonathan Barbosa. Ângela Rocha ficou impressionada com “corações grandes, simples e belos dando a vida para um outro, por causa de um Outro”. Maione, também de Brasília, conta: “Vi pessoas na correria do dia a dia parando e ouvindo pessoas que nunca viram e, com o coração aberto doaram um alimento, um gesto lindo de amor ao próximo”. E Luciano, de Florianópolis, finaliza: “Quem trabalha como voluntário está doando seu tempo, seu trabalho.e quem doa também está contribuindo. E no final das contas ainda tem a pessoa beneficiada pelas doações. Além de ajudar a quem precisa, é um trabalho educativo: a própria pessoa que trabalha como voluntário busca isso para se educar à caridade, a um gesto gratuito, pelo qual não recebe nada. Está na contramão das atividades que buscam sucesso ou ganho financeiro. É extremamente gratificante”.



Não participou da Coleta? Quer repetir a dose ou aumentá-la?
Sábado, 8 de novembro de 2014 é a data da próxima coleta de alimentos. Quem quiser começar esse gesto em um novo local ou mercado pode entrar em contato com a coordenação nacional da Coleta de Alimentos (coleta.alimentos.secretaria@gmail.com). As cidades e lojas devem ser definidas até março de 2014.


 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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