Passos N.156, Março 2014

APROFUNDAMENTOS

A opção pelos pobres e os desvios marxistas

A expressão “Teologia da libertação” foi proposta pela primeira vez em 1968, pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, que depois a utiliza como título de um ensaio, em 1971. Desde então, ela definirá um movimento variado e ativo sobretudo na América do Sul. A TdL é identificada pela atenção aos pobres e aos oprimidos e pela convicção de que a mensagem evangélica deve ditar uma ação social voltada à eliminação das desigualdades sociais. Essa corrente teológica difunde-se num contexto em que o continente sul-americano vê a instalação de numerosos regimes de direita mais ou menos autoritários.

A política e as armas. Com muita frequência os teólogos da libertação se apegam, em suas análises, à sociologia e às teorias econômicas de esquerda, às vezes diretamente ao marxismo. Em muitos casos, os sacerdotes que se alinham a essa corrente de pensamento abraçam as lutas políticas contra as ditaduras, levando-os, às vezes, à luta armada.

Avaliação de Ratzinger. Sob o pontificado de João Paulo II, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, foi encarregado de analisar as teses da TdL e as suas várias interpretações. Na mira estão, sobretudo, os autores que adotam o marxismo. O caso mais importante é o de Leonardo Boff, cujas obras foram consideradas não conformes ao magistério da Igreja. Outros autores, como Gutiérrez, são também avaliados, mas não condenados.

Müller e Gutiérrez. Em setembro, o atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Gerhard Ludwig Müller, nomeado por Bento XVI, republicou em italiano um texto de 2004 escrito a quatro mãos com Gustavo Gutiérrez intitulado Do lado dos pobres. Teologia da libertação, teologia da Igreja (Messaggero – Emi). Algumas passagens do texto apareceram no Osservatore Romano. Esse gesto foi considerado um sinal de reconciliação, depois de anos de incompreensões e preconceitos recíprocos.