Servir... Eis o que nos propõe Jesus naquele gesto do Lava-Pés. Deu-nos a vida para viver, e o que vale o viver senão para servir e amar? Mas como vivo este serviço? Este amor?
Na adolescência, li o trecho de Coríntios que dizia: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine...” lembro-me ainda hoje, do assombro com que li e reli muitas vezes estas palavras e em mim o desejo: quero amar assim. Mas a quem? Como? De que maneira?
Neste mesmo período, morreu meu avô materno, era meu avô preferido. E na missa de sétimo dia cantaram a oração de São Francisco: “oh! Mestre fazei que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Nunca tinha prestado atenção à música como naquele dia. Como dar mais que receber? Morrer para viver? Perguntas que na cabeça de uma adolescente inquieta não cessaram até que na universidade encontrei um padre que dizia que para ser livre era necessário pertencer. Esta afirmativa que eu não entendia levou-me a seguir as indicações daquele padre e a pertencer ao carisma de CL. Este seguir e, consequentemente, pertencer a esta história, ganhou um nome: Jesus.
O Papa Francisco diz “que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tateando”. E nestes vinte e cinco anos de relacionamento com este Deus feito homem, por amor a mim, que conheci e descubro sempre mais e vejo sendo testemunhado através da Fraternidade, através de Carrón, do Bracco e de muitos amigos, como me acompanha no dia a dia? Como vivo este servir nas coisas cotidianas? Porque entendo que com Ele a vida é mais vida, e não dá tréguas. Olhar como Ele olhava, como acolhia, como vivia tudo em relacionamento com o Pai, como servia, como vivia as coisas da sua realidade em relação com o Pai, desejo ser igual.
Em 2009, na primeira peregrinação que fizemos de Campos do Jordão para Aparecida do Norte, ficou muito claro para mim que a vida era para servir. Recebi de presente para dá-la com alegria. Aqueles dias foram intensos, caminhávamos uma média de oito quilômetros por dia e quando chegávamos ao destino, era um banheiro para dezenas de pessoas e as pessoas cansadas queriam tudo. Ali naqueles dias entendi que quanto mais eu me dava, quanto mais eu servia, mais eu me sentia livre, contente e agradecida. Porque era toda feita para me dar àqueles amigos. Depois, quando sofremos a tragédia com as chuvas aqui em Petrópolis, e no Carnaval o padre Julián trouxe os amigos do Brasil para ajudar, ficando com aquelas pessoas que perderam tudo, alguns inclusive, entes queridos, entendi novamente que a vida sendo partilhada era para eu ser mais livre e feliz.
No oitavo capítulo de Na origem da pretensão cristã< Dom Giussani diz: “Se o homem, por um lado, como ser (pessoa) é maior que o mundo, por outro lado, como existente (dinamismo vivo) ele é parte do cosmos. Por isso mesmo, a meta do seu agir, se em última análise é a sua realização, a sua felicidade, imediatamente, porém, é servir o todo do qual faz parte. Na medida em que é parte do mundo, o homem deve servi-lhe mesmo que todo o universo tenha finalidade de ajudá-lo a atingir melhor a sua felicidade”. Eu entendo que não poderei realizar-me a não ser me dando ao outro, com alegria e gratidão.
Encontrar-me com os meus alunos faz crescer sempre mais em mim a consciência de que para amá-los e servi-los, sozinha não sou capaz, apesar de algumas vezes achar que farei por minha conta. Neste ano, tenho a graça de ter um aluno com síndrome de Down, Miguel é o seu nome. Estar com ele todas as manhãs, é sempre misterioso e me pergunto: como poderei ser útil a ele? Como poderei testemunhar-lhe o Amor que me gera e me faz, senão acolhendo, cuidando e preparando atividades significativas em que ele possa crescer também em graça e gratidão pelo dom da vida.
Também quando estou diante de algum comportamento inadequado dos alunos, começo a entender que preciso olhar estes fatos como ocasiões que o Senhor me dá para poder olhá-los com a mesma ternura como sou olhada muitas vezes, e isso é útil para minha conversão. E quem sabe também para a deles. Entendi que Ele usa destes fatos para que eu possa viver mais consciente Dele, pedindo, dependente Dele, como fala Dom Giussani. E assim servir aos alunos e a realidade.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón