Passos N.157, Abril 2014

DESTAQUE / PÁSCOA 2014

O olhar de Pedro

por Giuseppe Frangi

Jesus está inclinado, com um joelho apoiado no chão; toma a “toalha com que estava cingido”, como refere o Evangelho de João, para fazer a lavagem dos pés; diante dele a bacia, como João descreve com precisão. Os apóstolos estão dispostos ao redor da sala, e o momento que Giotto colhe é o da conclusão do gesto: de fato, vemos um discípulo que está enxugando os pés, enquanto que às costas do Senhor (particularidade que não se vê no detalhe escolhido para o Cartaz) tem gente amarrando as sandálias. É o momento no qual Jesus chega a Pedro, que no início, fiel ao seu caráter, tinha empacado, recusando-se a ver o seu Senhor se submeter a um gesto que para ele parecia tão humilhante. Agora Jesus com uma das mãos segura justamente a sua perna, e com a outra, levantada, parece acompanhar as palavras referidas no Evangelho de São João: “Quem se banhou não tem necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro. Vós também estais puros, mas não todos”.

Estamos na Capela Scrovegni, em Pádua (1304): Giotto coloca esta cena no registro inferior na parede da direita, logo após a Última Ceia. O ambiente é o mesmo: um cômodo muito sombrio, no qual se abrem duas janelas com belas portas de madeira. O detalhe que nós vemos é uma ampliação do lado direito, onde está o coração da cena. É um detalhe que permite colher a nitidez e clareza das geometrias de Giotto: o braço levantado de Jesus se torna o eixo "psicológico" da composição.

Giotto é um extraordinário pintor de “gestos”, como já tinha demonstrado em Assis. De gestos e de olhares. Aqui vemos a mão esquerda de Jesus apertar a panturrilha de Pedro; Pedro, por sua vez, com a mão esquerda levanta o manto para deixar a perna livre. Logo atrás, um apóstolo mantém os pés ainda descalços entre as mãos. A vivacidade de gestos devolve toda a intensidade do afeto que marca este momento. Isso é ainda mais documentado pelo olhar de Pedro, que tendo dissolvido suas reservas, está completamente preso por Jesus. Como dizia Boccaccio, aquilo que Giotto expressa, não só é parecido, mas é idêntico ao objeto real.