Papa Francisco quer que os jovens sejam livres. E lhes indica o caminho, mostrando-o também para os pais
Francisco não faz concessões aos jovens. Não lhes passa a mão na cabeça, não os poupa. Não quer conquistá-los por meio da compaixão. E é também muito direto, se necessário. Como ocorreu no encontro, em agosto, com os jovens vindos da Diocese italiana de Piacenza: “Quando um jovem me diz Padre, nosso tempo é muito ruim, não podemos fazer nada!, eu o mando ao psiquiatra...”. A tirada jocosa não foi bem compreendida por todos; na internet descobrimos muitas reações polêmicas, quase que reivindicando o direito à depressão.
Mas o Papa, desse ponto de vista, fecha todas as portas. Optou por não oferecer um álibi. Ser jovem é uma oportunidade, não uma condição de inferioridade, qualquer que seja o contexto em que viva. “Cristãos pessimistas: isso é uma coisa feia! Vocês, jovens, não podem e não devem ser gente sem esperança; a esperança faz parte do vosso ser. Um jovem sem esperança não é jovem, envelheceu cedo demais!”, disse ele durante a viagem a Cagliari. E explicou que um jovem sem esperança fica à mercê dos “mercadores de morte”, que estão ali como urubus vendendo antídotos contra a tristeza. “Por favor, não entreguem a própria juventude a esses tais que vendem morte! Vocês me entendem e sabem do que estou falando!”.
Por isso, o Papa bate sempre num ponto e apela aos jovens para serem plenamente jovens, inclusive nas atitudes, que saiam para fora, não fiquem escondidos. Na Praça de São Pedro, várias vezes ele pediu que os jovens elevassem mais forte a voz. No Brasil, chegou a provocá-los: “façam barulho, façam bagunça”. Aos universitários romanos recomendou que sejam “não espectadores, mas protagonistas”, que “não olhem a vida de cima da sacada”. E acrescentou: “Misturem-se, estejam lá onde estão os desafios, que lhes pedem ajuda para levar adiante a vida, o desenvolvimento, a luta pela dignidade das pessoas, a luta contra a pobreza, a luta pelos valores, e tantas lutas com que nos defrontamos todos os dias”.
“Não fiquem no fim da fila”. Os jovens não devem sufocar a aspiração de construir um mundo melhor, porque essa aspiração é parte integrante da juventude. São muito belas, a propósito, as palavras pronunciadas na praia de Copacabana: “O seu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor... Meninos e meninas: por favor, não se metam no fim da fila da história. Sejam protagonistas. Joguem no ataque! Chutem pra frente!”.
O Papa não ignora que hoje, entre a Igreja e os jovens, algo não funciona. Com o realismo cada vez mais eficaz da sua linguagem em Cagliari, diante dos jovens rebatizou a Crisma como “o Sacramento do adeus”: “O Sacramento da Crisma – como se chama esse Sacramento? A Crisma... Não! Mudou o nome para Sacramento do adeus, porque os jovens o recebem e vão embora da Igreja: não é verdade? Essa é uma experiência de fracasso”.
Isso acontece porque esquecemos que o cristianismo “não é uma ciência abstrata, mas um conhecimento existencial de Cristo, uma relação pessoal com Deus que é amor. É preciso insistir mais sobre a formação da fé vivida como relação, na qual experimentamos a alegria de ser amados e de poder amar”. E os jovens são aqueles que sofrem mais essa redução do cristianismo a uma “correta” abstração.
Mas, então, por onde começar a “reimersão” deles? Ao encontrar-se com os jovens na vigília da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, ele deu um exemplo muito eficaz: “Podemos aprender alguma coisa com o que aconteceu nestes dias, de como tivemos que cancelar, devido ao mau tempo, a realização desta vigília no Campus Fidei, em Guaratiba. Será que o Senhor não quis nos dizer que o verdadeiro campo da fé, o verdadeiro Campus Fidei, não é um lugar geográfico, e sim nós mesmos? Sim! É verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos!”. O Senhor não chama “aos montes”, mas chama cada um: “Você, você, você, cada um. Ouçam o que lhes diz no coração” (ainda na praia de Copacabana).
Nada em suspenso. E o que Jesus sugere ao jovem de hoje? É aqui que o papa Francisco entra por estradas que pedem uma mudança visível e concreta de vida. É um apelo claro, persuasivo e detalhado; de um verdadeiro pai. É o aspecto que mais impressiona neste Papa, sobretudo em relação ao que nós soubemos (ou melhor, não soubemos) indicar aos nossos filhos. É a indicação de ter consciência do limite que carregamos e, portanto, de seguir aqueles que, na própria vida, trazem essa consciência impressa na própria pele: os pobres. É uma predileção que o Papa repete a todo instante, mas que em especial sugere como horizonte para os jovens. Não é só uma atenção sociológica, mas existencial: como explicou na carta para a JMJ de Cracóvia, o adjetivo “pobre”, em grego, não tem um significado só material, mas tem também a acepção de “mendicante”. O homem é um mendicante de Deus e “a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa sede”.
Mas o Papa não deixa as coisas no ar (e aí é, de fato, um pai para nós, pais), e no final aponta na direção de perspectivas concretas. É belíssimo o seu apelo final, na mesma carta, por uma liberdade “em relação às coisas”: livres das modas, livres da ânsia de possuir. Não é uma opção óbvia e não pode ser uma escolha verbal ou pautada em valores. Para ser livre em relação às coisas é preciso a coragem da felicidade e a coragem da sobriedade.
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