Um hospital para doentes terminais, uma creche, uma paróquia, um asilo. Obras nascidas do humilde sim de padre Aldo, um homem apaixonado por Cristo, que com seu olhar arrastou um grupo de jovens brasileiros para conhecer suas obras e se comover, como ele, diante da realidade
Olhar para as testemunhas! Essa é a indicação que padre Carrón faz insistentemente há vários meses. E apontou algumas delas: Cleuza e Marcos Zerbini, em São Paulo; Rose e Vicky, na Uganda; e padre Aldo Trento, no Paraguai. Padre Julián de la Morena decidiu apostar e seguir este juízo. Ele é espanhol e missionário da Fraternidade São Carlos Borromeu, residente há poucos meses no Brasil, depois de cinco anos na Cidade do México. Atualmente responsável nacional pelo grupo de universitários de Comunhão e Libertação (CLU), padre Julián fez uma proposta a um grupo de jovens com os quais nasceu uma familiaridade: utilizar dez dias das férias escolares para irem ao Paraguai e conhecer a experiência de padre Aldo. A ideia empolgou a todos, mas o grupo não podia ser muito grande para facilitar a convivência entre eles. Assim, vinte e dois universitários e alguns adultos seguiram nesta aventura de 17 a 24 de janeiro. A seguir, o diário de bordo com os fatos mais marcantes para os meninos que viajaram juntos.
1º DIA (Sábado, 17 de janeiro)
Depois de uma viagem de 24 horas de ônibus, partindo de São Paulo, chegaram a Assunción. A acolhida dos amigos paraguaios foi o primeiro presente. Tudo teve início com uma missa celebrada por padre Aldo na Paróquia San Rafael, seguida de cantos e boa comida. Lá, o grupo também era aguardado por alguns adultos: Cleuza, Marcos e Alexandre, de São Paulo, e Carlos, do Rio de Janeiro.
2º DIA (Domingo, 18 de janeiro)
O despertar foi às 7h30 para irem tomar o café da manhã na paróquia. Luiz Gustavo, de Campinas, disse: “Fomos recebidos novamente com muita alegria. Os paraguaios nos serviam como se fôssemos pessoas especiais: todos tinham uma atenção enorme conosco, principalmente padre Aldo. Já neste momento, eu pensava como não era óbvio o que acontecia, e sentia uma enorme gratidão”. Depois do café, rezaram as Laudes – um gesto de diálogo com Deus e que permitia começar bem o dia. Depois das Laudes, padre Aldo lhes contou sobre todas as suas obras, que não são frutos de um projeto, mas de sua total entrega ao Senhor, e sobre o convívio que ele teve com Dom Giussani. Em seguida, quis mostrar a todos o pároco da Igreja. Muitos ficaram se perguntando o que ele queria dizer com isso e eis que os levou à capela do Santíssimo. “Este é o Pároco e o Senhor de todas estas obras que vocês podem ver. É aqui onde eu tomo todas as minhas decisões, onde confesso, onde escrevo os artigos que saem nos jornais de maior circulação do país. Aqui é meu escritório”, disse padre Aldo, apontando uma simples mesinha no canto da sala.
Próxima parada: a clínica San Rafael. Inaugurada em 2000, abriga pacientes em estado terminal. A coisa mais impressionante para todos foi ver o olhar de padre Aldo para os enfermos. Na clínica não há crucifixo, pois os doentes são o próprio Cristo crucificado. Diariamente, ele faz a procissão com o Santíssimo entre os doentes, às 6 da manhã, ao meio dia e às 18h. Faz o sinal da cruz diante de todos e depois termina com uma oração.
Visitaram também o asilo, obra que nasceu quando padre Aldo precisou comprar a casa ao lado da paróquia e a condição que lhe impuseram foi “comprar” também a senhora que morava ali, pois não havia outro lugar para ela viver. Hoje, moram com ela mais cinco senhoras. Em seguida, os meninos foram presenteados com o almoço em uma churrascaria.
Voltando para a clínica, no final da tarde deste domingo, houve a celebração de uma missa especial, ali mesmo. Uma menina de 11 anos, com leucemia, recebeu o sacramento do crisma, e um jovem aidético de 22 anos fez sua primeira comunhão. Para Cláudio, de São Paulo, este foi o momento mais marcante de toda a viagem: “Visitando o hospital, eu vi que todos ficavam comovidos, mas eu não. Então, comecei a pedir ao Senhor que eu me deixasse tocar também. E quando vi aquele rapaz fazendo a comunhão, o olhar do padre Aldo para ele era o olhar de Cristo. A partir dali, o resto da viagem foi diferente para mim”. Este rapaz chegou ao hospital como um travesti. Negro, tinha os cabelos pintados de loiro e as unhas vermelhas. Ao receber o carinho e o amor de todos os funcionários do hospital, pediu a padre Aldo para cortar os cabelos e limpar as unhas, pois queria assumir a sua identidade masculina e fazer a comunhão. Cleuza também ficou muito tocada por este momento: “Eu olhei para ele, no momento em que tomava a comunhão, deitado na maca. Se nós dois morrêssemos naquele instante, tenho certeza de que ele chegava no céu primeiro”. E assim como este rapaz, muitos são os milagres da mudança de vida que é possível ver todos os dias neste lugar.
3º DIA (Segunda, 19 de janeiro)
Outro grande encontro: Pedro e os jovens da Casa de Menores “Virgen de Caacupé”. Esta é uma casa de acolhida para detentos situada em Itauguá, a poucos quilômetros de Assunción. Ali também funciona uma escola e os jovens infratores ao invés de irem para prisões convencionais, encontram ali um lar que lhes oferece a possibilidade de reparar-se com a Justiça e aprender um ofício. E, neste sítio, eles formam uma família. Gastón, um dos meninos da casa, deu um testemunho contando sobre como foi acolhido, e que fugiu várias vezes da granja, mas sempre voltou, e Pedro estava sempre aberto a acolhê-lo novamente. Ali, os muros e os cachorros que são soltos à noite não são para impedir a fuga dos meninos, mas para evitar que ladrões invadam a casa. Para Pedro, as coisas dão certo porque ele se abandona a Cristo e Ele sempre nos chama através de algo atraente no dia.
4º DIA (Terça, 20 de janeiro)
Momento de conhecer a igreja de Cristo-Rei onde está o coração de São Roque, que foi o primeiro jesuíta a chegar ao Paraguai. Este santo foi assassinado em 1628, mas, milagrosamente, o coração ficou intacto.
Depois, um tour por Assunción, para conhecer os lugares históricos e, após o almoço, tempo livre. Junto com o CLU do Paraguai aproveitaram o tempo para tocar e cantar. Mais tarde, provocados pela grandeza de tudo o que haviam visto até então, foi nascendo no grupo um enorme desejo de reconciliação com o Senhor, pelo reconhecimento da própria incapacidade e fraqueza. Neste dia, antes da missa, vários meninos pediram para se confessar. Pessoas que não se confessavam há quatro anos, há dois anos, ou há poucos meses, sentiram-se totalmente abraçadas e amadas depois deste sacramento.
5º DIA (Quarta, 21 de janeiro)
A partir deste momento, começou um mergulho na história. As primeiras visitas foram aos museus do Paraguai sobre as Missões Jesuíticas.
A missa foi celebrada na igreja de Yaguarón, construída no século XVII pelos franciscanos. A grandeza, a beleza e a preocupação com os detalhes é sinal de um amor imenso por Deus. Para Luana, do Rio de Janeiro, “tudo nessa igreja foi pintado e arrumado de modo a convergir a atenção de quem entra para o centro, o altar, Deus. Nada pode desviar a atenção do que é o centro da nossa vida, pois sem Ele a vida é uma prisão”.
A flor de maracujá, presente na Igreja, representa a paixão e tem a forma da coroa de espinhos de Cristo. Os padres a usaram para representar a eucaristia, pois já fazia parte da cultura guarani, substituindo assim o trigo, habitualmente usado na Europa, pela flor de maracujá.
Em seguida, o grupo visitou as missões de San Ignácio Guasu, Santa Maria da Fé, Santa Rosa e Santiago. Em todo este percurso, padre Aldo explicava o significado de cada escultura e cada pintura. Neste dia a missa foi rezada ao ar livre, às margens do Paraguay.
6º DIA (Quinta, 22 de janeiro)
Hora de atravessar a fronteira para a Argentina. Ali havia outras duas missões para serem visitadas: San Ignacio Mini e Nuestra Señora de Loreto. Da primeira, o fato marcante foi ver uma árvore que cresceu e abraçou uma coluna das ruínas. Padre Aldo se comove muito com esse fato, pois, segundo ele mesmo disse, “o que o homem racional um dia destruiu, a natureza, através da árvore, protege”. Nuestra Señora de Loreto é uma missão que foi totalmente destruída, sobrando poucos pedaços das ruínas, somente partes baixas das paredes de pedra. Nesta missão, há mais um caso de uma árvore que protege uma coluna. Em Loreto, está enterrado o corpo de padre Ruiz de Montoya, que foi um grande jesuíta. E a missa foi celebrada junto ao túmulo deste grande padre que deu a vida aos índios. À noite, foi exibido o filme A missão, com Robert de Niro.
7º DIA (Sexta, 22 de janeiro)
Último dia de missões: visita à Trinidad no Paraguai. Jéssica, do Rio de Janeiro, conta que “a Igreja tem uma imensidão de detalhes lindíssimos. Anjos estão esculpidos tocando instrumentos musicais e Nossa Senhora, com seu divino Filho no alto, perto do que seria o teto”.
Após a missa, é hora de despedir-se de padre Aldo que volta para Assunción, enquanto o grupo prossegue na direção oposta. A próxima parada foi em Ciudad Del Este.
À noite, a última assembléia guiada por padre Julián. A provocação era se aqueles dias foram suficientes para reconhecer Cristo e como isso aconteceu, e o que isso poderia mudar na vida de cada um. Para Raquel, de São Paulo, a viagem ajudou a entender mais a própria realidade, pois ela tinha muitos projetos e estava muito ansiosa por causa deles, mas ver como padre Aldo encara a realidade, como ele a aceita e se move baseado naquilo que acontece, a fez olhar diferente para sua vida. Lucas, do Rio de Janeiro, contou sobre a descoberta de que a oferta de um sacrifício a Cristo pode gerar um gosto pela vida, mesmo dentro da dor. E isso o torna livre. Débora, de São Paulo, disse que na Beleza é que se revela o seu coração, porque isso é um traço inconfundível de Cristo. Ivan, também de São Paulo, viu o estudo como uma forma de verificação e que ser protagonista não é uma liderança, é ter uma humanidade contagiante.
Padre Julián concluiu a assembléia dizendo que ele entendeu o sentido de aprender tudo de novo, estar disposto a aprender coisas que já sabia e que não basta ver coisas bonitas, pois a única possibilidade de não perder nada é me perguntar: “o que isso tem haver com a minha vida? O que Cristo quer de mim com aquilo que me ensina?”. Assim, Ele nos levará a lugares que não esperávamos, que nem sequer a nossa imaginação consegue criar.
8º DIA (Sábado, 23 de janeiro)
Hora de partir. E Paula, do Rio de Janeiro, expressa bem o ânimo de todos: “Achei que ficaria triste por ir embora, mas isso não aconteceu. Queria voltar para contar para todo mundo a beleza que eu encontrei”. Em Foz do Iguaçu, a última parada para admirar a beleza das cataratas. Depois do passeio no Parque do Iguaçu, o almoço e a despedida dos novos amigos, os universitários paraguaios, que os acompanharam até ali. Um pouco mais de música e partiram. Viajaram todos felizes. Rezaram o terço juntos, rezaram as Laudes no domingo e encerraram tudo com o Angelus: “O Verbo se fez carne e habita entre nós”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón