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Passos N.160, Julho 2014

CULTURA

A fé fora da zona de conforto

por Ana Luiza Mahlmeister

Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada? Pois está escrito: ‘Por sua causa somos entregues à morte, o dia todo; fomos tidos como ovelhas destinadas ao matadouro’. Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” Rm 8,35-37). A epígrafe do livro “O preço a pagar por me tornar cristão”, do iraquiano Joseph Fadelle, conta, de forma dramática, o que este muçulmano de nascimento enfrentou ao converter-se ao cristianismo. “Tornei-me cristão, a minha vida mudou. Já não posso voltar atrás", afirma o autor.
O livro é a autobiografia de Muhammad Moussaoui, nascido no Iraque, no seio de uma rica e aristocrática família xiita, escolhido pelo pai para sucedê-lo no clã. Ele tem uma vida aparentemente tranquila e bem encaminhada, até que a convivência forçada com um cristão durante o cumprimento do serviço militar abala suas certezas acerca do islamismo.
De leitura fácil, vamos acompanhando o caminho de Muhammad que tem a fé abalada em sua raiz, mas não por uma tentativa de proselitismo ou convencimento de Massoud, seu companheiro cristão no exército, que é extremamente discreto e sabe o risco que o companheiro de caserna estaria correndo se renegasse sua fé. A proximidade entre os dois é movida pela curiosidade do muçulmano.
No início, Muhammad sente-se intrigado com esse cristão, ainda mais que é “a primeira vez que vejo um em carne e osso”. E espera o momento oportuno para convencê-lo da superioridade do Islã. No dormitório do exército, Muhammad descobre um livrinho de Massoud: “Os milagres de Jesus”. Mais do que os fatos, o que o intriga é a personagem de Jesus, que provoca nele, sem saber muito bem por que,“uma alegria que faz bem”, descreve o autor. O próximo passo é pedir uma Bíblia à Massoud para conhecer melhor os Evangelhos. Ao invés disso, o cristão desafia-o a ir até às raízes de sua própria fé e ler o Alcorão “de forma verdadeira”. Com essa leitura Muhammad começa a ter dúvidas que não são esclarecidas pelos xeiques ou aiatolás de sua religião.
A partir de um sonho em que se sente chamado a “comer o pão da vida”, Muhammad volta a procurar Massoud que finalmente lhe dá o Evangelho. A partir desse encontro ele escreve: “Tudo o que sei é a alegria que este acontecimento provoca em mim. Tenho certeza de que, doravante, a minha vida nunca será como antes”. E descreve uma iluminação: “Tenho a impressão de estar embriagado, quando no meu coração surge um sentimento de força inaudita, uma paixão quase violenta e amorosa por esse Jesus Cristo de que os Evangelhos nos falam”.
Ao longo do livro, não serão poucas as provas por que passará o autor para professar a verdadeira fé. Correndo risco de vida, é preso e torturado, entregue aos algozes por seus próprios irmãos. O livro a partir daí vai acompanhando o caminho de Muhammad rumo aos sacramentos e ao “pão da vida”, sua maturidade na fé que não aceita nada como óbvio, e sua luta pelo essencial: a proximidade de Cristo.
Joseph Fadelle vive na França, com sua mulher e seus filhos, desde 2001. Agora é cristão, tem nacionalidade francesa e vive dos direitos autorais e das palestras que ministra. Continua recebendo ameaças de morte e, por isso, precisa contar com proteção policial em seus deslocamentos.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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