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Passos N.160, Julho 2014

DESTAQUE - O Papa na Terra Santa

“Rezar será útil. Só Deus pode dar a paz"

por Andrea Avveduto

“É um modelo de humildade e de santidade. Um autêntico líder religioso”. Ammon Ramon, judeu israelense e pesquisador do Jerusalem Institute for Israel Studies, estudou bastante as viagens dos Papas à Terra Santa, e não tem dúvidas: “Foi um sucesso, sob qualquer ponto de vista”.

O senhor apostava no sucesso?
Não. Nos dias anteriores, eu escrevi nos jornais todas as minhas perplexidades a respeito da visita: os ataques do price tag (os judeus extremistas), os insatisfeitos com o evento do Cenáculo. Eu estava preocupado com todos os nós que poderiam arruinar a viagem. E, ao contrário, foi uma surpresa. Surpreendeu a todos.

Em que sentido?
Digo-o como judeu praticante: o encontro com Bartolomeu foi fundamental. E como historiador e estudioso do cristianismo repito: a aproximação entre os dois foi uma coisa totalmente imprevisível. Porque era tudo, menos um evento político. Estamos habituados ao protocolo,à forma, e, ao invés, assistimos a um encontro entre dois amigos, que se ajudavam mutuamente.

A sociedade judaica como reagiu?
A visita ao Yad Vashem, o Memorial do Holocausto, e ao Monte Herzl foram dois pontos focais, pelo menos segundo a opinião pública israelense. O tributo à tumba do pai do sionismo resgata o encontro que ele teve com Pio X, em Roma. Quando Herzl pediu a “bênção” do Papa, 110 anos atrás, a recusa foi nítida: “Os judeus não reconheceram Nosso Senhor, portanto nós não podemos reconhecer o povo judeu”. Hoje as relações mudaram significativamente. No Museu do Holocausto não entrou nos detalhes históricos e na posição da Igreja católica, mas demonstrou ter entendido a mensagem universal da Shoah. Mostrou, de fato, ser um homem inteligente.

Discute-se há anos se deve-se ou não entregar a gestão do Cenáculo à Igreja. É uma questão política ou religiosa?
É um caso muito, muito complicado. De qualquer modo, estamos no Oriente Médio, onde política e religião andam sempre de braços dados. Não se pode pensar em separá-las. Sob o Cenáculo há o lugar que parte da tradição judaica identifica como a tumba de Davi, e seria inaceitável a celebração da Eucaristia em cima de um lugar de devoção judaica. Sabemos que com toda probabilidade o rei Davi não foi sepultado ali, mas o Governo geralmente procura não contrariar esses pequenos grupos de extremistas. Sobretudo quando as questões não afetam interesses nacionais.

Qual é o obstáculo principal à paz, hoje?
As duas partes não estão prontas para fazer a paz. Simplesmente porque um não confia no outro. Permita-me voltar cinco anos atrás, à peregrinação de Bento XVI. Na ocasião, ele pronunciou uma frase que me ficou no coração. Disse que segundo a linguagem judaica, “segurança” – batah – deriva da “confiança” e não se refere apenas à ausência de ameaça, mas também ao sentimento de calma e de confiança. O ponto de hoje – também depois da visita do Papa Francisco – é exatamente como o de antes: falta confiança recíproca. Como temos a aprender com a confiança que demonstraram Francisco e Bartolomeu!

Francisco convidou Abu Mazen e Shimon Peres para irem ao Vaticano para um encontro de oração: o senhor acredita que foi um gesto profético ou um risco?
Sobre esse aspecto, a minha resposta o desiludirá, mas não me convenceu. Deveria ter convidado o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que tem todo o poder – se quiser – de pôr um fim no conflito. Peres, dentro de duas semanas, não será mais o presidente do Estado de Israel, e creio que há poucas esperanças, do ponto de vista prático, de que esse encontro possa trazer algo verdadeiramente novo.

Ramon para e pensa por um instante; talvez essa resposta também não o convence. Depois prossegue: “Porém, no fundo, quem pode sabê-lo? Até rezar pela paz será útil. Porque só uma intervenção divina pode trazer a paz para esta terra desesperada”.
(A.A.)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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