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Passos N.161, Agosto 2014

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Acontece

Nos dias 21 e 22 de junho, educadores de vários lugares do País se encontraram para fazer uma convivência em Teresópolis/RJ, que surgiu do desejo de alguns amigos que estavam inquietos e percebiam um desafio em sala de aula que não éramos capazes de enfrentar sozinhos. Foi um momento simples, que teve como texto norteador o discurso que o Papa Francisco fez para os professores, estudantes e pais em um encontro na Itália: “A verdadeira educação nos faz amar a vida” (uma bela coincidência, um mês antes da nossa convivência).

Música e poesia. No sábado, começamos com um churrasco no almoço e a caipirinha de José Douglas. Uma cantoria à tarde, animada por Ana Maria e um momento de troca de experiências. Nessa ocasião, percebi que não estava sozinho. Algumas pessoas contaram como estavam enfrentando o desafio de educar os jovens nas escolas e centros de reforço ou nos encontros semanais da Escola de Comunidade. Bracco, responsável nacional de CL, começou lançando uma questão: “Não só os jovens, mas nós educadores também vivemos uma orfandade”. No embate com as dificuldades, não encontramos quem nos acompanhe e seja uma companhia para reconhecermos hipóteses que nos ajudem a enfrentar os desafios diários e resgatem o sentido pelo qual fazemos as nossas tarefas. Sarah, de Belo Horizonte, contou das dificuldades de ser reconhecida como coordenadora. Como é jovem, os professores mais experientes tinham resistência para aceitar sua proposta de ter como foco educativo o estudante. Com o tempo os professores reconheceram o seu trabalho não porque ela se impôs, mas pelo fato de eles verificarem que o caminho feito estava apresentando resultados, principalmente com aqueles estudantes que não aprendiam.

À noite, realizamos o sarau “Um olhar que ajuda a crescer”. A ideia era perceber como a música e a literatura, ou seja, a beleza, podem nos ajudar a sair da mentalidade comum e nos redescobrir. Dois poemas do percurso apresentam bem isso. O primeiro, Receita de olhar, de Roseana Murray, mostra o caminho que devemos fazer para reconhecer a realidade de forma aberta, sem “amarras”: “Nas primeiras horas da manhã/ desamarre o olhar/ deixe que se derrame/ sobre todas as coisas belas/ o mundo é sempre novo/ e a terra dança e acorda/ em acordes de sol/ faça do seu olhar imensa caravela”. Se observarmos com atenção, veremos que a autora faz menção à “dança musical” (acordes) do nosso planeta em relação ao sol. Isso nos ensina que a leitura poética exige de nós uma atenção a tudo, desde aos ensinamentos de geografia e história à nossa realidade mais cotidiana, Essa é a receita. Não as medidas calculadas, mas o imprevisto: Quais os tons a aurora me traz? O que o mistério preparou hoje para mim?
Na outra poesia, Uns homens estão silenciosos, de Manoel de Barros, vimos que, se de um lado basta “desamarrar” o nosso olhar para se dar conta do “furor pedagógico” de Deus, por outro vemos que no labirinto de nossas emoções, somos espera, a cada segundo, de um infinito, de um grande acontecimento. Essa espreita é papel de um educador. Nessa noite do sarau, várias pessoas quiseram, após o percurso preparado, recitar poemas ou propor músicas para cantarmos juntos.

Uma retomada. No domingo, no encerramento, era visível em todos os relatos, que as situações de dificuldade eram oportunidades para ir além, para reconhecer qual o nosso papel. Desse encontro surgiu a ideia de criarmos um grupo no Facebook para trocarmos experiências e compartilharmos textos que nos ajudem na lida diária. Na volta para casa, um grupo de Belo Horizonte já marcava um encontro dos educadores para retomarmos os acontecimentos da convivência e do que estamos vivendo. Como disse Ferreira Gullar em um dos poemas recitados no sarau: “Não se trata do poema e sim do homem e sua vida/ – a mentira, a ferida, a consentida/ vida já ganha e já perdida e ganha/ outra vez./ Não se trata do poema e sim da fome/ de vida [...]”.

Marcelo Belga

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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