Trechos da mensagem do Santo Padre para a XXXV edição do Meeting pela amizade entre os povos
O tema escolhido para este ano – “Rumo às periferias do mundo e da existência” – ressoa como solicitude constante do Santo Padre. (...) Como afirmou no seu pronunciamento durante as Congregações gerais antes do Conclave: “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir às periferias, não só às geográficas, mas também àquelas existenciais: as do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância e da ausência de fé, as do pensamento, e de todas as formas de miséria” (9 de março de 2013). Portanto, o Papa Francisco agradece aos responsáveis do Meeting por terem ouvido e difundido o seu convite a caminhar para esta perspectiva. Uma Igreja “em saída” é a única possível segundo o Evangelho: demonstra-o a vida de Jesus, que ia de aldeia em aldeia anunciando o Reino de Deus e mandava os seus discípulos antes dele. Por isso o Pai mandou-o ao mundo.
O destino não deixou o homem só é a segunda parte do tema do Meeting: uma expressão do Servo de Deus Dom Luigi Giussani que nos recorda que o Senhor não nos deixa sozinhos, não se esquece de nós. Nos tempos antigos escolheu um homem, Abraão, e indicou-lhe o caminho rumo à terra que lhe tinha sido prometida. E na plenitude dos tempos escolheu uma jovem, a Virgem Maria, para se fazer carne e vir a habitar no meio de nós. Nazaré era realmente uma aldeia insignificante, uma “periferia” a nível tanto político como religioso; mas Deus olhou precisamente para lá (...).
O cristão não tem medo de se descentralizar, de ir às periferias, porque tem o seu centro em Jesus Cristo. Ele liberta-nos do medo; na sua companhia podemos ir em frente seguros em qualquer lugar, inclusive nos momentos obscuros da vida, sabendo que o Senhor sempre nos precede com a sua graça, e a nossa alegria é partilhar com os outros a boa nova de que Ele está conosco. Os discípulos de Jesus, após terem cumprido uma missão, voltaram entusiasmados pelos sucessos obtidos. Mas Jesus disse-lhes: “Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem, alegrai-vos, antes, porque os vossos nomes estão escritos nos Céus” (Lc 10, 20-21). Não somos nós que salvamos o mundo, mas só Deus o salva. (...)
“É evidente – afirma o Santo Padre – que, em alguns lugares, se produziu uma ‘desertificação’ espiritual, fruto do projeto de sociedades que querem construir sem Deus” (Evangelii gaudium, 86). Mas este fato não deve nos desanimar, como nos recordava Bento XVI ao inaugurar o Ano da fé: “No deserto redescobrimos o valor do que é essencial para viver: assim, no mundo contemporâneo os sinais da sede de Deus e do sentido último da vida são inúmeros, muitas vezes expressos de forma implícita ou negativa. No deserto precisamos sobretudo de pessoas de fé que, com a sua própria vida, indiquem o caminho para a Terra prometida e mantenham a esperança” (11 de outubro de 2012). O Papa exorta a colaborar, também através do Meeting, com esse retorno ao essencial, que é o Evangelho de Jesus Cristo. “Os cristãos têm o dever de anuncia-lo, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração” (Evangelii gaudium, 14), isto é, “através de um testemunho pessoal, uma história, um gesto, ou outra forma que o próprio Espírito Santo possa suscitar numa circunstância concreta” (Idem, 128).
O Santo Padre indica aos responsáveis e participantes no Meeting duas atenções particulares.
Antes de tudo, convida a nunca perder o contato com a realidade, aliás, a ser amantes da realidade. Isso também faz parte do testemunho cristão: na presença de uma cultura dominante que põe em primeiro lugar a aparência, o que é superficial e provisório, o desafio é escolher e amar a realidade. Dom Giussani deixou isso em herança como programa de vida, quando afirmava: “A única condição para sermos sempre e verdadeiramente religiosos é vivermos sempre intensamente o real. A fórmula do itinerário rumo ao significado da realidade é viver o real sem censuras, isto é, sem renegar nem esquecer nada. Não seria, com efeito, humano, ou seja, razoável, considerar a experiência limitando-se à sua superfície, à crista de sua onda, sem descer à profundidade do seu movimento” (O senso religioso, Ed. Universa, 2009, p. 166).
Além disso, convida a manter sempre o olhar fixo no essencial. Com efeito, os problemas mais graves surgem quando a mensagem cristã é identificada com aspectos secundários que não exprimem o coração do anúncio. Num mundo no qual, depois de dois mil anos, Jesus voltou a ser um desconhecido em muitos países até do Ocidente, “convém ser realistas e não considerar óbvio que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio” (Evangelii gaudium, 34).
Por isso, um mundo em tão rápida transformação pede aos cristãos que estejam disponíveis a procurar formas ou modos para comunicar a novidade perene do Cristianismo. Também nisso é preciso ser realistas. “Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho” (Idem, 46). Sua Santidade oferece essas reflexões como contribuição ao Meeting, a quantos participarem, aos responsáveis, organizadores e aos relatores que provêm das periferias do mundo e da existência para testemunhar que Deus Pai não deixa os seus filhos sozinhos. O Papa faz votos para que muitos possam reviver a experiência dos primeiros discípulos de Jesus, os quais, encontrando-o às margens do Jordão, ouviram: “O que buscais?”. (...)
Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado
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